quinta-feira, 8 de março de 2018

Londres: Burr Fest 2018

Esta é a segunda parte de um texto sobre minha experiência em Londres em 2018. Se você ainda não leu, clique aqui para ler a primeira. 

Ysabella e eu ficamos no hotel Pulmann, em Guarulhos, para que chuva e trânsito não nos impedisse de chegar ao aeroporto

Sugeri à Ysabella que contássemos uma pequena mentira na alfândega inglesa, que evitaria aborrecimentos e questionamentos adicionais: deveríamos alegar que somos namorados. Ela não aceitou. Como eu previra, dizer a verdade quase nos trouxe grandes problemas.

Após um voo de dez horas até Frankfurt, na Alemanha, voamos mais cerca de uma hora até Londres. Então chegou o momento de passar pela alfândega. O oficial achou nossa história muito estranha. Perguntou se éramos namorados. Ysabella negou. Perguntou se nos pegávamos de alguma maneira. Mais uma vez, a resposta foi negativa. Ele disse não compreendia como eu poderia gastar tanto com uma simples amiga. O dinheiro era meu e seria gasto como e com quem eu quisesse, mas não poderia dar essa resposta, é claro, pois certamente ele me mandaria de volta para casa.

Desconfiado, fez questão de conferir cada nota de libra que a Ysabella levou - em momento algum ele se interessou pelos valores que eu portava. Conferiu e reconferiu tudo o que tínhamos: as passagens de volta, a reserva de hotel, os comprovantes dos lugares que visitaríamos, incluindo o ingresso do Burr Fest, o meet & greet com o Skid Row (que se apresentou em Londres enquanto estávamos lá), os ingressos da London Eye (uma das maiores rodas-gigantes do planeta, com 133 metros de altura), a reserva no Sky Garden (um restaurante que oferece uma maravilhosa vista de 360 graus de Londres), nosso London Pass (cartão turístico que ajuda os visitantes a aproveitarem ao máximo sua viagem, economizando tempo e dinheiro, oferecendo acesso facilitado a mais de 80 atrações)... 

Estava tudo absurdamente certo, mas ele insistia em estranhar da história: "Por que você trouxe essa menina para o meu país?", indagava. Eu me questiova se ele achava que ela era prostituta, ou se acreditava que ela não retornaria ao Brasil. A coisa estava feia, tudo indicava que ele barraria nossa entrada. Eu já estava pronto para matar Ysabella quando aquilo acabasse. Que custaria dizer que éramos namorados apenas para evitar tudo aquilo?! O oficial não faria a gente se beijar só para comprovar a afirmação. Casais de namorados entram o tempo todo. Amigos, um pagando para o outro, parece suspeito, e foi isso que tentei evitar...

Após mais de 50 minutos, ele autorizou nossa entrada, provavelmente vencido pelo cansaço. Nem acreditei, já estava pronto para retornar ao Brasil. O tempo todo ele tentou achar o menor motivo que fosse para nos barrar. Felizmente estávamos totalmente preparados, munidos com todos os documentos e comprovantes, mas tínhamos, admito, uma estória estranha. Ele fez uma observação em caneta em nossos vistos - tempos depois, descobri que quando isso acontece, é um código para que outras autoridades fiquem espertas quando e se nos abordarem, ou seja, é um "eu já desconfiava que esse indivíduo poderia nos trazer problemas".


Algum tempo depois que comprei as passagens, com a chegada prevista para a véspera do Burr Fest, foi anunciada uma pre-party na véspera do evento, ou seja, no dia em que chegamos. Toda a demora na alfândega e no deslocamento do aeroporto de Heathrow para o centro de Londres deixou nosso tempo escasso. Ainda não sabíamos nos locomover direito pela cidade, então optei pelo táxi. A corrida custou 40 libras, espantosos R$200,00. Primeira lição aprendida: não utilize táxi em Londres, a menos que seja absolutamente necessário, pois é caro pra cacete. Chegamos ao Cart & Horses e, uau! Eu mal podia acreditar que estava lá. 

Cart & Horses, o lendário pub onde o Iron Maiden fez o primeiro show da carreira

Esgotado após tantas horas de viagem, fui apenas porque provavelmente seria a única oportunidade de conhecer Bob Sawyer. Sua banda Firebird Seven era uma das atrações daquela noite. Mal cheguei e já o encontrei. Não sei se ele me reconheceu, já que somos amigos no Facebook.

Bob Sawyer, guitarrista do Iron Maiden na formação de 1977 

Um dos donos da gravadora responsável pela organização do Burr Fest, Erwin Lucas, estava lá e me reconheceu. Ele disse que o ex guitarrista do Iron Maiden, Terry Wapram, também estava lá, então me levou até ele, nos apresentou, e já aproveitei para tirar uma foto com ele. Embora o pub fosse minúsculo, eu ainda não havia visto Wapram mas, por outro lado, acabara de chegar

Erwin Lucas, um dos sócios da WatchOut Records, gravadora responsável pela realização do Burr Fest
Terry Wapram, guitarrista do Iron Maiden em 1978

Naquela noite, conheci outro amigo do Facebook, Mike Chudleigh, que nos dias que se seguiram me ajudou a conhecer outros ex integrantes do Iron Maiden. Naquela noite eu não assisti aos shows, apenas tirei algumas fotos do pub e com os ex integrantes, e retornei ao hotel para descansar, pois os próximos dias prometiam ser exaustivos.

Mike Chudleigh. Em 2019, ele foi o responsável pela organização do show com Paul Day em Londres

No dia seguinte, fui ao Burr Fest, onde conheci Tony Moore, Doug Sampson, Terry Rance, e reencontrei Terry Wapram que, quando me viu, veio trocar ideia. Todos são muito simpáticos e acessíveis. Além disso, conheci Mimi Highfield-Burr, viúva do Clive Burr. Ela foi extremamente simpática e falou comigo como se eu fosse um velho amigo. Se emocionou ao saber que vim de tão longe apenas para prestigiar o festival que homenageia seu marido. Também conheci Steve 'Loopy' Newhouse, roadie e técnico de bateria do Iron Maiden de 1978 a 1985.

Nightclub Kolis, local da segunda edição do Burr Fest, em 2018
Tony Moore foi o único tecladista a constar em uma formação oficial do Iron Maiden, em 1977
Doug Sampson foi baterista do Iron Maiden entre 1978 e 1979. Participou das gravações de The Soundhouse Tapes 
Terry Rance foi guitarrista da formação original do Iron Maiden, entre 1975 e 1976
Mimi Highfield-Burr é a viúva de Clive Burr
Steve 'Loopy' Newhouse, roadie e técnico de bateria do Iron Maiden de 1978 a 1985

Além disso, aproveitei para tirar fotos com os integrantes do Buffalo Fish (banda de Terry Wapram), Airforce (banda de Doug Sampson) e com os integrantes originais do Gypsy's Kiss. Paull Sears, o baterista, é meu amigo no Facebook, e ficou surpreso. Ao me ver, conseguiu dizer "Adriano Ribeiro, from Brazil". Ah, admirável mundo novo, onde coisas surreais podem acontecer: os músicos que reconhecem os fãs, não o contrário.

Ysabella estava comigo mas, como eu estava entre amigos que se esforçavam em me entender, e me ajudavam a tirar as fotos (Andy e Mike, inclusive, iam ao fumódromo do lugar me chamar quando algum ex integrante do Iron Maiden aparecia), achei desnecessário que ela ficasse até o final, pois ela queria sair para se encontrar com um inglês que conheceu no Tinder.

Rob Stitch, vocalista e guitarrista do Buffalo Fish. Só depois percebi que a foto não ficou nítida
Dwight W, baixista do Buffalo Fish. Gente finíssima!
Pete A, baterista do Buffalo Fish

Acredite se quiser, levei naba do vocalista do Airforce, Dilian Arnaudov. Eu o abordei e pedi para que autografasse uma foto da banda, ele autografou. Pedi para tirar uma foto com ele, ele aceitou. Como eu estava com muitas coisas nas mãos, pedi licença, as coloquei em algum lugar e retornei para tirarmos a foto. Ele já não estava mais lá. Não sei se não entendeu, não sei se foi antipático mas, de qualquer forma, não o abordei novamente.

Chop Pit, guitarrista do Airforce
Tony Hatton, baixista do Airforce
Ao fim das apresentações, os organizadores discursaram, prometendo uma nova edição para o ano seguinte, 2019. Para minha surpresa, fui um dos nomes citados nos agradecimentos. Acho que Erwin e Andy não esperavam que alguém viesse de outro continente, mas quando o trabalho é bem feito merece ser prestigiado.

Uma curiosidade: enquanto os shows rolavam no Burr Fest, houve um momento em que eu estava no fumódromo e recebi uma mensagem no Messenger. Era a Arianne, dizendo algo como "O Facebook está muito chato, só não excluo minha conta por causa dos seus posts". Respondi dizendo que a gente sairia quando eu voltasse ao Brasil. A reação inicial dela foi negativa mas, quando voltei, realmente saímos, e estamos juntos até hoje. Foi assim que tudo começou.

Devido a limitações do Blogger, fui obrigado a dividir, colocando o texto sobre o Gypsy's Kiss na terceira parte deste texto. Clique aqui para ler.


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