Mais do que um relato sobre minha primeira visita à Grécia, este é o relato sobre minha estupidez.
Há muitos anos, uma grega, Theodora, me enviou solicitação de amizade no Facebook e nos tornamos amigos rapidamente. Sempre conversávamos sobre as culturas de nossos países, até porque ela é grande admiradora do Brasil, seu sonho é conhecer o país, mas tem medo de voar, então era pouco provável que viesse nos visitar.
Há muitos anos, uma grega, Theodora, me enviou solicitação de amizade no Facebook e nos tornamos amigos rapidamente. Sempre conversávamos sobre as culturas de nossos países, até porque ela é grande admiradora do Brasil, seu sonho é conhecer o país, mas tem medo de voar, então era pouco provável que viesse nos visitar.
Certa vez eu disse que se um dia fosse à Europa, passaria na Grécia apenas para conhece-la. Com a viagem a Londres marcada, eu precisava cumprir a promessa. Deste modo, comprei passagem Londres-Atenas para sábado, 17 de março, retornando no domingo, 18 de março. O único motivo de minha ida à Grécia era para conhece-la, e eu só não voltaria no mesmo dia porque não havia voo em um horário que fosse aceitável. Não adiantava chegar de manhã para retornar no começo da tarde, por exemplo. Se houvesse um voo de volta à noite, era o que eu teria escolhido, mas não havia.
Já que eu teria que pernoitar na cidade, decidi que seria ideal estar em um hotel com vista para o Partenon. Era um hotel caro, algo como 300 euros, mas dane-se, é o tipo de coisa que se faz apenas uma vez na vida. Quanto ao voo, mais uma vez optei pelos serviços da companhia aérea de baixo custo RyanAir, o "ônibus voador", com conforto tão baixo quanto o preço - a menos que você pague por ele, e eu não paguei. Era apenas uma viagem de 4 horas...
Dois dias antes, Ysabella voou para Hamburgo, na Alemanha, onde encontrou-se com algum contatinho. Não me importo com isso, afinal éramos apenas amigos. Mas eu precisava dela na Grécia para me ajudar com a comunicação com Theodora, que é professora de inglês e fala o idioma fluentemente. Portanto, comprei uma passagem para ela também, de Hamburgo para Atenas, com chegada mais ou menos no mesmo horário que o meu.
Mandei uma mensagem para Theodora, dizendo "estou no quarto tal, me procure quando chegar". A resposta foi algo como "não vou ao seu quarto, sou uma mulher casada!". Aquele definitivamente não era o meu dia. Respondi que era apenas para ela saber como me chamar quando chegasse. Subi e deitei um pouco. Algum tempo depois, quando ela chegou, pediu à recepção para me ligar: "Sr. Adriano? A senhora Theodora está esperando pelo senhor na recepção". "Ok, já estou descendo".
Eu já havia percebido que foi um erro passar tão pouco tempo na Grécia. Se fosse possível, eu deveria voltar, não apenas para conhecer o Paternon, mas também para aproveitar as dicas de Theodora sobre as praias e ilhas gregas.
Foi um passeio curto, retornei ao hotel, fiz o check-out e encontrei com Theodora e Dimitri - o marido - no restaurante. Ainda houve tempo para uma última foto com Theodora. Dimitri fez questão de levar minha mala por todo o percurso até o carro, que foi estacionado longe do hotel. Quando chegamos, a surpresa: o carro era apenas um mercedes esportivo, daqueles que só se vê em filmes. Fiquei boquiaberto. Não entendo de regras de trânsito gregas, mas tanto Dimitri, quanto o motorista de táxi que me levou ao hotel pisaram fundo, com vontade. Foi emocionante.
No aeroporto, eu e Theodora desembarcamos, Dimitri foi estacionar. Passei em uma loja e comprei diversas estatuetas, que passaram a enfeitar minha mesa de trabalho no Brasil. 6 euros cada. Theodora me acompanhou ao portão de embarque, demos um longo abraço e prometi retornar. Já na sala de embarque, fui me atualizar de como estavam as coisas mundo afora. Por que será que não fiquei surpreso quando vi uma foto de Ysabella no Instagram, jogando neve para o alto, com a legenda "hoje foi o dia mais feliz da minha vida"?!
Durante o voo de volta, observei o quanto absurdamente lotado é o tráfego aéreo europeu. Durante todo o tempo, outras aeronaves cruzavam por cima e por baixo, deixando rastros no céu. Uma delas acompanhou nosso voo por quase todo o percurso, um pouco mais alta e a direita de nós. A velocidade devia ser a mesma ou muito próxima. Também pensei que deveria cancelar a passagem de volta ao Brasil de Ysabella, e ela que se virasse para voltar, foda-se... Será que eu teria tanta maldade em meu coração??? 😈
Passei pela alfândega inglesa sem problemas, o oficial que me atendeu foi extremamente simpático, inclusive. Mais uma vez, não tive dificuldade alguma em me comunicar com ele, o que definitivamente me convenceu de que eu não precisava de Ysabella ou de ninguém para interagir com quem fala inglês. Foi apenas um medo idiota que me fez ter a infeliz ideia de leva-la.
Quanto ao dinheiro que ela usou do meu cartão para pagar a passagem, não foi o único prejuízo que tive - por exemplo, a passagem dela de retorno para Londres no mesmo voo que eu foi desperdiçada - mas foi o único que fiz questão de receber de volta. E ela pagou. Mais de um ano depois, mas pagou. Tem coisas que a gente aprende da pior maneira possível. Quem te paga uma viagem para Londres apenas para que você atue como intérprete em duas ou três ocasiões? Ninguém! Fiz o que absolutamente ninguém faz, e recebi isso em troca. Fui um completo idiota, admito, mas lição aprendida!
Dois dias antes, Ysabella voou para Hamburgo, na Alemanha, onde encontrou-se com algum contatinho. Não me importo com isso, afinal éramos apenas amigos. Mas eu precisava dela na Grécia para me ajudar com a comunicação com Theodora, que é professora de inglês e fala o idioma fluentemente. Portanto, comprei uma passagem para ela também, de Hamburgo para Atenas, com chegada mais ou menos no mesmo horário que o meu.
Quando cheguei, problema zero para passar na alfândega, o oficial nem ao menos olhou para meu rosto, já carimbou e desejou boas vindas, tudo sem levantar os olhos uma vez sequer. O voo de Ysabella já havia pousado, então rapidamente nos encontramos. Mas "havia" um problema. Ela disse estar doente, precisando de cuidados médicos, mas alegava que seu seguro de viagem era válido apenas no Reino Unido. Sinceramente, não acreditei em nada do que ela disse... quem seria burro o bastante para fazer um seguro de viagem que não valesse na Europa, sendo que desde o início ela sabia que passaria por República Tcheca, Alemanha e Grécia?! Além do mais, a Europa exige seguro viagem, mas a Inglaterra não. Por fim, o valor é exatamente o mesmo para um seguro que inclua Europa e Reino Unido - se houver diferença, é realmente insignificante.
Estava claro que ela queria voltar para se encontrar com o boy inglês com quem estava ficando. Mas, se fizesse isso, seria muito sacana, pois embora tenha me ajudado bastante antes de sairmos do Brasil, com a organização da viagem, não ajudou em muita coisa depois que a viagem começou. No dia do Burr Fest, eu a dispensei de me ajudar porque estava entre amigos que se esforçavam para me entender. No dia em que encontrei com Dennis Willcock, ela não estava comigo, pois foi marcado de última hora, e ela já havia combinado de ver o boy. Agora, na Grécia, que seria a única vez que ela faria valer a pena eu ter pago pela passagem de ida e volta do Brasil para a Inglaterra, estava dando uma dessas...
Ela estava sem dinheiro e queria que eu pagasse a passagem para a Inglaterra, mas é claro que eu não estava a fim de ajuda-la com essa farsa. O problema é que eu já havia ajudado. Quando ela foi para a Alemanha, não tinha euros. Preocupado com isso, deixei meu travel card reserva com ela, pedindo para que ela usasse somente em caso de emergência, para que não passasse por apuros, sozinha em um país estrangeiro. Depois, se gastasse algo, poderia me pagar em libras quando retornássemos à Inglaterra.
Naquele dia, assim que desembarquei, carreguei o travel card, pela internet, com 300 euros para pagar o hotel. Ysabella disse que um tio havia lhe emprestado o cartão, e que conseguiu comprar a passagem com ele. Ela ficou no aeroporto, eu tomei um táxi e fui direto ao hotel. Quando fui na recepção fazer o check-in, o atendente disse que meu cartão não passou. Verifiquei o extrato online no celular e descobri o porquê: o tio dela era eu, já que ela havia usado meu cartão para pagar pela passagem. Muito puto da cara, recarreguei mais 300 euros, e paguei o hotel. Nem adiantava ligar ou enviar mensagem xingando, pois ela ainda estaria voando para Londres.
Mandei uma mensagem para Theodora, dizendo "estou no quarto tal, me procure quando chegar". A resposta foi algo como "não vou ao seu quarto, sou uma mulher casada!". Aquele definitivamente não era o meu dia. Respondi que era apenas para ela saber como me chamar quando chegasse. Subi e deitei um pouco. Algum tempo depois, quando ela chegou, pediu à recepção para me ligar: "Sr. Adriano? A senhora Theodora está esperando pelo senhor na recepção". "Ok, já estou descendo".
Quando desci, ela não estava à vista. Perguntei por ela, e me informaram que estava à minha espera no restaurante do sétimo andar. Fui para lá. Quando me viu, ela simplesmente começou a tremer. Se beliscava como se não fosse verdade eu estar ali. Levantou e me deu um abraço apertado. Sim, eu cumpri a promessa, agora estávamos frente a frente. Foi um momento muito emocionante.
Passamos toda a tarde e uma parte da noite ali, conversando sobre tudo. Até que consegui me virar bem - o que me fez questionar por que diabos eu trouxe a Ysabella, que não estava me ajudando em nada... Apesar de todos os problemas, aquela foi uma das tardes mais agradáveis da minha vida.
Quando nos despedimos, combinamos que ela retornaria no dia seguinte para me levar ao aeroporto. Decidi acordar cedo para conhecer o Partenon. Theodora me alertou sobre "trombadinhas" sempre dispostos a furtar câmeras e celulares de turistas. Perguntei se eles usavam armas, ela disse que não. Então, de boa... Sou de São Paulo, não é um grego desarmado que vai me tocar o terror...
A cama do hotel era tão deliciosa, me envolveu de tal forma, que acordei apenas às 11 hs. Theodora voltaria para me encontrar ao meio dia. Nesse intervalo, tudo o que eu conseguiria fazer é conhecer o Templo de Zeus - ou o que restou dele, pois foi quase totalmente destruído por um terremoto - que ficava logo em frente ao hotel. Fui entrando, mas um funcionário me abordou e disse que era necessário comprar um ingresso. Ok. 3 euros apenas.
Passamos toda a tarde e uma parte da noite ali, conversando sobre tudo. Até que consegui me virar bem - o que me fez questionar por que diabos eu trouxe a Ysabella, que não estava me ajudando em nada... Apesar de todos os problemas, aquela foi uma das tardes mais agradáveis da minha vida.
Ao fundo, as ruínas do Partenon. Era possível ver que passava por processo de restauração |
Quando nos despedimos, combinamos que ela retornaria no dia seguinte para me levar ao aeroporto. Decidi acordar cedo para conhecer o Partenon. Theodora me alertou sobre "trombadinhas" sempre dispostos a furtar câmeras e celulares de turistas. Perguntei se eles usavam armas, ela disse que não. Então, de boa... Sou de São Paulo, não é um grego desarmado que vai me tocar o terror...
A cama do hotel era tão deliciosa, me envolveu de tal forma, que acordei apenas às 11 hs. Theodora voltaria para me encontrar ao meio dia. Nesse intervalo, tudo o que eu conseguiria fazer é conhecer o Templo de Zeus - ou o que restou dele, pois foi quase totalmente destruído por um terremoto - que ficava logo em frente ao hotel. Fui entrando, mas um funcionário me abordou e disse que era necessário comprar um ingresso. Ok. 3 euros apenas.
O hotel era um desses prédios ao fundo, à esquerda da imagem |
Para chegar ou sair do templo de Zeus, é necessário passar pelo Arco de Adriano |
Eu já havia percebido que foi um erro passar tão pouco tempo na Grécia. Se fosse possível, eu deveria voltar, não apenas para conhecer o Paternon, mas também para aproveitar as dicas de Theodora sobre as praias e ilhas gregas.
Foi um passeio curto, retornei ao hotel, fiz o check-out e encontrei com Theodora e Dimitri - o marido - no restaurante. Ainda houve tempo para uma última foto com Theodora. Dimitri fez questão de levar minha mala por todo o percurso até o carro, que foi estacionado longe do hotel. Quando chegamos, a surpresa: o carro era apenas um mercedes esportivo, daqueles que só se vê em filmes. Fiquei boquiaberto. Não entendo de regras de trânsito gregas, mas tanto Dimitri, quanto o motorista de táxi que me levou ao hotel pisaram fundo, com vontade. Foi emocionante.
No aeroporto, eu e Theodora desembarcamos, Dimitri foi estacionar. Passei em uma loja e comprei diversas estatuetas, que passaram a enfeitar minha mesa de trabalho no Brasil. 6 euros cada. Theodora me acompanhou ao portão de embarque, demos um longo abraço e prometi retornar. Já na sala de embarque, fui me atualizar de como estavam as coisas mundo afora. Por que será que não fiquei surpreso quando vi uma foto de Ysabella no Instagram, jogando neve para o alto, com a legenda "hoje foi o dia mais feliz da minha vida"?!
Durante o voo de volta, observei o quanto absurdamente lotado é o tráfego aéreo europeu. Durante todo o tempo, outras aeronaves cruzavam por cima e por baixo, deixando rastros no céu. Uma delas acompanhou nosso voo por quase todo o percurso, um pouco mais alta e a direita de nós. A velocidade devia ser a mesma ou muito próxima. Também pensei que deveria cancelar a passagem de volta ao Brasil de Ysabella, e ela que se virasse para voltar, foda-se... Será que eu teria tanta maldade em meu coração??? 😈
Passei pela alfândega inglesa sem problemas, o oficial que me atendeu foi extremamente simpático, inclusive. Mais uma vez, não tive dificuldade alguma em me comunicar com ele, o que definitivamente me convenceu de que eu não precisava de Ysabella ou de ninguém para interagir com quem fala inglês. Foi apenas um medo idiota que me fez ter a infeliz ideia de leva-la.
Quanto ao dinheiro que ela usou do meu cartão para pagar a passagem, não foi o único prejuízo que tive - por exemplo, a passagem dela de retorno para Londres no mesmo voo que eu foi desperdiçada - mas foi o único que fiz questão de receber de volta. E ela pagou. Mais de um ano depois, mas pagou. Tem coisas que a gente aprende da pior maneira possível. Quem te paga uma viagem para Londres apenas para que você atue como intérprete em duas ou três ocasiões? Ninguém! Fiz o que absolutamente ninguém faz, e recebi isso em troca. Fui um completo idiota, admito, mas lição aprendida!
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