As bandas que se apresentaram no Monsters of Rock já estavam em São Paulo, mas eu ainda não havia começado este corre. Era dia de ver uma das bandas nacionais mais importantes para mim, o Viper, pois temos uma longa história em comum. Para que você entenda, terei de retornar a 1984, pouco antes do meu aniversário de 12 anos, quando fiz minha primeira viagem internacional, com a família, aos Estados Unidos. Uma das coisas que comprei por lá foi uma caderneta de autógrafos. Não sei porque comprei, talvez inconscientemente vislumbrasse o que eu viria a ser quase 25 anos mais tarde.
No ano seguinte eu estudava no colégio Nossa Senhora do Sion, em Higienópolis, São Paulo. Um de meus colegas de classe chamava-se Cristiano, que um dia contou que seu irmão Cássio tocava em uma banda. Ele convidou-me para assistir a um ensaio no próprio colégio, eu fui e adorei. Alguns dias depois, fomos a um show do Viper na antiga danceteria Raio Laser, em Moema. Terminou de madrugada, mas sem problemas, a mãe dele me trouxe para casa. Não sem antes eu estrear a caderneta que trouxe da América, pois nela consegui autógrafos de alguns integrantes do Viper.
Na semana seguinte, no intervalo, eu caminhava pelo pátio do colégio, quando o guitarrista Felipe Machado, que também estudava lá, me reconheceu e veio falar comigo, querendo saber o que achei do show. Dois dias depois fui ao correio postar uma carta, e encontrei sem querer Andre Matos fazendo o mesmo. Conversamos um pouco também. Tem noção que conheci o Andre com 14 anos? Felipe tinha 15, Yves 16 e Pit 17. Não me lembro a idade do Cassio Audi, mas deveria ser 13 ou 14 também. Eram os "Menudos do metal".
Com o tempo, aproximei-me muito de todos os integrantes. Passei a ser presença constante nos ensaios, acompanhei outros shows, inclusive aquele do incêndio no teatro do colégio Rio Branco. Realmente tornei-me fã, inclusive criando o primeiro fã clube brasileiro e fazendo anúncios para divulgar a banda em revistas especializadas. Curiosos enviavam cartas querendo saber mais sobre o trabalho, e eu respondia enviando uma fita cassete com a demo tape "The Killera Sword". Se comparado a hoje, eram tempos difíceis, mas bons...
Cássio Audi morava na rua Dr. Brasílio Machado. A duas quadras de distância, na rua Dr. Veiga Filho, em um mesmo edifício moravam os irmãos Yves e Pit Passarel em um apartamento, e Felipe Machado em outro. No prédio imediatamente vizinho, morava Andre Matos. Passei a andar com Felipe e Yves, os via quase todos os dias. Era comum panfletarem próximo à estação Santa Cecília do metrô, entregando aos transeuntes um papel com informações do próximo show. Também íamos frequentemente à Galeria do Rock, onde conversavam com donos de gravadoras independentes, pois sempre sonharam em gravar álbum.
Passei a frequentar o apartamento onde Cássio morava e aprendi as noções básicas de bateria. Isso me levou a procurar aulas, a princípio no Grupo AMA da rua Dr. Gabriel dos Santos, e depois no Conservatório Musical Carlos Iafelice da rua Turiassú. Sim, toquei bateria e tive algumas bandas na adolescência, mas depois me afastei, deixei para lá. Sabe como é, trabalho, namoro...
Essa aproximação com o Cássio meio que me tornou um roadie. Não era nada oficial, a banda nem tinha dinheiro para pagar um, mas diversas vezes ajudei a montar, desmontar e carregar a bateria do Cássio para algum ensaio ou show em São Paulo. Éramos muito jovens, tudo era novidade, tudo era divertido...
Afastei-me dos integrantes do Viper quando decidiram demitir o Cássio - e até hoje não entendo o porquê, ele era ótimo. Me lembro dele quase chorando quando contou sobre a demissão. Entreguei o controle do fã clube para Pit, que foi ao apartamento onde eu morava para pegar as cartas pendentes de resposta. Continuei fã, é claro, mas perdemos o contato completamente. Logo depois a banda lançou o fenomenal Theatre of Fate, até hoje um dos álbuns mais significativos do metal nacional.
Distante do mundo Viper, eu ouvia notícias de que Andre queria sair da banda para fazer faculdade de música. Achei uma idiotisse. Lembro que, quando eu estava com eles, Felipe se afastou por um ano para fazer intercâmbio nos Estados Unidos. Por que sair? Por que não deixar a banda com um substituto temporário, retornando quando concluir os estudos? Hoje sabemos que Andre logo quis voltar, mas a banda, numa atitude mais idiota ainda, recusou aceita-lo de volta, o que o fez montar o Angra com o Rafael Bittencourt.
O primeiro álbum do Viper sem Andre, Evolution, foi muito bom. Pelo visto muitas músicas ainda eram feitas para a voz de Andre, por exemplo The Spreading Soul Forever, que foi regravada com sua voz décadas depois, quando o vocalista retornou à banda por algum tempo. A partir de então, em minha opinião, o Viper perdeu-se completamente. Primeiro com a mudança de estilo do Coma Rage. Foi um bom álbum, mas não era mais genial como os anteriores. Então veio o desastroso "Tem Pra Todo Mundo". O que foi aquilo?! Por muito tempo simplesmente larguei mão, não queria nem saber mais...
Em minha opinião, se os músicos se levassem a sério, poderiam estar hoje no nível do Helloween, conhecidos mundialmente, fazendo turnês... Felipe sempre preferiu ser jornalista, a guitarra e a banda são apenas hobbies. Yves pulou fora quando recebeu o convite do Capital Inicial, onde poderia ganhar muito mais dinheiro. Pit entregou-se às bebidas e sabe-se la mais o que - na verdade todos sabemos, mas é melhor nem dizer... O único que fez como deveria foi justamente Andre, que morreu reconhecido como o maior vocalista brasileiro de todos os tempos.
Sinceramente gostei do álbum All My Life, a banda acertou muito ao entregar os vocais para Ricardo Bocci e as composições são excelentes, quase como nos velhos tempos, além de demonstrar o amadurecimento musical. Porém, mas uma vez, os integrantes não se levaram a sério e não deram continuidade ao trabalho. Foi apenas um álbum quase que perdido no meio de uma discografia confusa...
Agora era 2012 e Andre estava de volta. Seria ele capaz de salvar o Viper? Eu não sei o que é lenda e o que não é, mas a história diz que, na época em que Andre saiu, a banda estourava na Europa e no Japão. Tudo o que eu queria era ve-los no lugar de onde nunca deveriam ter saído.
Kevin me chamou para fazer com ele o corre, quando a banda apresentou-se com Andre no Via Marquês. Eu até fui, mas não sei porque não fiquei, talvez não estivesse passando bem mas realmente não me recordo. Um ano se passou e a banda agora tinha uma sessão de autógrafos marcada na Animal Records. Era a oportunidade que eu teria para rever meus ex amigos - ex porque nos afastamos, não porque brigamos. Será que se lembrariam de mim?
Escaneei os antigos autógrafos que sobreviveram, dois do Felipe e dois do Yves, coloquei todos no iPad e fui à Galeria para participar do evento. Levei também o Soldiers of Sunrise autografado por todos, exceto Andre, na época do lançamento.
Antes do evento, encontrei minha amiga Bruna, mais conhecida como Kitty, dando um rolê na própria Galeria com o guitarrista Stevie D. do Buckcherry. Aproveitei para tirar uma foto com ele.
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O guitarrista Stevie D. do Buckcherry utilizou meus amigos Alvaro e Bruna como guias enquanto esteve na cidade |
Fui então para a fila do evento. Quando chegou minha vez, contei algumas estórias, mostrei os autógrafos, mas não adiantou: absolutamente nenhum deles lembrou-se de mim. Ok, eu era magrelo, usava óculos e cabelo curto, meu apelido era "Loucão". Nem mesmo lembrar fatos da época ajudou... Parecia um bando de idosos com alzheimer, enquanto eu lembrava de cada detalhe...
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Felipe observa no iPad o papel que autografou 28 anos antes |
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Viper: foi a primeira vez que encontrei-me com Hugo Mariutti e Guilherme Martin |

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Achou que não iria levar uma foto para eles assinarem?! Pena que usaram as canetas do evento e não a minha |
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Meu Soldiers of Sunrise agora estava completo com a assinatura do Andre
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Pit doidão abandonou a sessão de autógrafos antes mesmo de chegar a minha vez. Quando saí decidi procura-lo, mas nem foi difícil pois estava há poucos metros da loja, cercado e assediado por fãs. Me meti na muvuca e consegui foto e autógrafo também. Desta vez, porém, nem disse nada nem mostrei nada. Ficaria para uma outra oportunidade. Missão completa! Agora sim eu poderia pensar em Monsters of Rock.
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Pit completou a assinatura que faltava na foto |
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Pit saiu da loja sem mais nem menos, mas não escapou de atender seus fãs |