Mal sabia eu que estava prestes a conseguir o maior feito de minha “carreira”, e sozinho, sem ajuda de ninguém. Paul McCartney se apresentaria em São Paulo. Todos os hunters com quem falei disseram que seria impossível, e nenhum deles apareceu no hotel naquele final de semana.
Antes de continuar, é necessário compreender porque era tão importante para mim conseguir conhece-lo. Apesar de a banda da minha vida ser o Iron Maiden, sei, desde que nasci, que sou um filho dos Beatles. Meus pais se conheceram em 1970 e o primeiro papo entre eles foi sobre a banda de Liverpool. Nasci dois anos depois, e cresci cercado das músicas deles e das carreiras solo de seus integrantes. Lembro bem da cara de bunda que meu pai chegou em casa no dia em que John Lennon foi assassinado. Lembro das discussões intermináveis que apontavam Yoko Ono como a causadora da separação do quarteto. Lembro da viagem para o Rio de Janeiro que eles fizeram em 91 para ver Paul McCartney pela primeira vez no Brasil, e de quanto eles comentaram sobre o show de 93 em São Paulo.
Quando foram anunciados os shows no Brasil, uma ideia me veio à mente: se consegui abordar a banda da minha vida, por que não proporcionar aos meus pais a mesma oportunidade?! Não é mais possível conhecer John e George, e Ringo até então nunca tinha vindo ao Brasil, mas poderíamos tentar abordar McCartney para, quem sabe, conseguir uma foto e um autógrafo. Após falar com meus velhos, e perceber que se animaram com a ideia, bolei cuidadosamente um plano para fazer dar certo.
No dia do show, lá estávamos eu, Sheila e meus pais, hospedados no Grand Hyatt. Você, fã de Paul, sacrificaria o espetáculo pela possível oportunidade de ver Sir Paul McCartney de perto? Foi o que meus pais fizeram. Chegamos de manhã ao hotel, e não havia sinal dele, certamente recluso em sua suíte presidencial.
De tarde, o único sinal de vida foi na hora da saída de Paul para o estádio do Morumbi. Uns vinte fãs estavam na parte de dentro do hotel, hospedados, e não poderiam ser retirados pelos seguranças. Mais quarenta o esperavam do lado de fora. Os seguranças bem que tentaram isolar a área, mas os fãs que estavam fora deram um show de má educação ao cercar o carro e bater nos vidros. Sinceramente: o que eles achavam que iriam conseguir se comportando assim, berrando e pulando?! Depois não sabem porque falam mal do Brasil lá fora...
De tarde, o único sinal de vida foi na hora da saída de Paul para o estádio do Morumbi. Uns vinte fãs estavam na parte de dentro do hotel, hospedados, e não poderiam ser retirados pelos seguranças. Mais quarenta o esperavam do lado de fora. Os seguranças bem que tentaram isolar a área, mas os fãs que estavam fora deram um show de má educação ao cercar o carro e bater nos vidros. Sinceramente: o que eles achavam que iriam conseguir se comportando assim, berrando e pulando?! Depois não sabem porque falam mal do Brasil lá fora...
Ao perceber o número de fãs que também tiveram a idéia de se hospedar, e constatar a atitude chiliquenta de alguns deles, comecei a desconfiar que seria muito difícil ter acesso a ele. No entanto, nossa grande vantagem estava justamente no fato de não irmos no show. Aos poucos, os fãs foram se encaminhando ao estádio, mas ficamos ali, no hall, esperando pela volta de Paul. Somente quatro pessoas talvez não o assustassem, e quem sabe conseguíssemos alguma coisa.
De repente apareceu um homem, que sabemos tratar-se do segurança pessoal de McCartney. Ele observou o álbum que minha mãe carregava, Ram, e disse, em inglês, para ela relaxar, pois ainda faltava pelo menos uma hora para Paul retornar. Em seguida, se dirigiu a mim e à Sheila, dizendo que Paul havia pedido para que ele selecionasse vinte fãs, que seriam atendidos assim que retornasse ao hotel. Todos nós estávamos entre os escolhidos, primeiro porque não havia muita gente a escolher, segundo porque fomos observados de tarde pela segurança, que percebeu que não éramos ameaça alguma ao Paul. Uau! Por essa eu não esperava mesmo!
Após uma hora, ele nos chamou e pediu para que aguardássemos do lado de fora do hotel. A essa altura, estava no hall também um casal, que também foi convidado para participar. Ela estava com um vestido extremamente curto e um decote provocante, enquanto ele não largava a filmadora. E foi ali que percebemos que havia algo errado. Ao invés de comemorar a grande chance oferecida, o casal iniciou uma discussão, dizendo que estavam hospedados e não iriam sair, mas acabaram cedendo. Lá fora, nos unimos a cerca de dez fãs que não estavam hospedados, mas também foram selecionados para a inusitada sessão de autógrafos.
O segurança explicou que seria apenas um autógrafo por pessoa, e que fotos e filmagem estavam proibidos. Também pediu para que organizássemos uma fila. O casal mais uma vez começou a destoar, primeiro por não o deixar falar, interrompendo a cada instante, e depois, tentando retornar para dentro do hotel, com câmeras na mão - especialmente quando enfim chegou o ônibus com Paul. Eu perdi a foto com o Dio por causa de fãs assim, e agora ele estava morto. Se isso acontecesse novamente, por causa dos dois, certamente o pau ia comer. Todos na fila estavam irritados com o casal, que parecia estar ali apenas para tumultuar.
Após a chegada do ônibus, outra coisa passou a nos preocupar: se começassem a chegar os fãs que foram ao show, ninguém conseguiria nada, nem nós, nem eles. Seria muita gente, muita bagunça. Percebendo isso, os seguranças fizeram quem estava na fila entrar para a área em frente ao hotel, onde os carros manobram. Foi tudo extramamente organizado.
Quando nos demos conta, lá estava ele, bem na nossa frente. Eu era um dos primeiros da fila e logo estava cara a cara com ele, tão próximo que se esticasse o braço poderia toca-lo. Ele me disse "good night", eu respondi o mesmo, retribuindo o cumprimento. Entreguei uma foto da banda e ele, sem querer, começou a autografar sobre outro músico. Percebendo o erro, olhou para mim e disse "eu assinei em cima dele, mas você sabe que o autógrafo é meu". Extremamente simpático e amigável. Foi tudo muito rápido, mas simplesmente mágico.
Meus pais foram atendidos na sequência. Ao sair, meu pai tremia como se não tivesse acreditado que conseguiu conhecer Paul McCartney após quase 50 anos como fã. Minha mãe olhava o autógrafo, como boba, petrificada. Eu disse: “mãe, aproveite enquanto ele ainda está atendendo, e olhe para ele. Você terá todo o tempo do mundo para olhar o autógrafo, quando ele entrar”.
Acho que Paul não demorou nem dois minutos para atender a todos. Ele acenou, despedindo-se, e entrou no hotel sem ser incomodado. Olhei em volta: tinha gente chorando, mas todos estavam em êxtase, com a exata noção de quanto foram privilegiados. A única coisa a lamentar foi não ter conseguido uma foto com ele, mesmo que coletiva. Ainda assim, não havia o que reclamar. Tínhamos quatro itens autografados, fantástico!
A dispersão dos fãs também foi rápida. Quem não estava hospedado se despediu e voltou para casa. Quem estava, entrou no hall. Então, os seguranças abordaram o casal que ficou tumultuando, confiscando os autógrafos que conseguidos. Mais tarde, encontramos um outro fã, arrasado, que havia levado um baixo idêntico ao utilizado por McCartney, mas o músico se recusou a autografar. Por um momento fiquei com pena.
Mais tarde, reencontramos o segurança, que perguntou se estávamos felizes. Estávamos extasiados, claro. Ele explicou que os dois que formavam o casal eram impostores do Pânico, estavam lá só para tumultuar mesmo. Quanto ao cidadão que teve o autógrafo no baixo negado, explicou que ele já havia conseguido o autógrafo em outro baixo idêntico, em Porto Alegre. Outra fã argumentou que não era o mesmo fã, mas se era, perdi a pena dele na mesma hora, pois certamente conseguiria o autógrafo para vender. Nem mesmo eu, que sou fã do Iron Maiden, venderei meu autógrafo um dia. Sei bem quanta gente gostaria de estar em meu lugar. E, sem dúvida, é uma bela história para contar em qualquer ocasião...
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