Estamos de volta a 1984, quando eu tinha 11/12 anos. Em certa tarde, estava entediado na janela de meu quarto quando uma vizinha do prédio em frente, apenas um andar abaixo, entrou em seu quarto e tirou a camisa e o sutiã. Então percebeu que eu a observei e rapidamente fechou a cortina. Achei aquilo muito interessante.
Hoje em dia qualquer um pode conectar à internet e acessar sites como o Xvideos. Na minha época não tinha essa facilidade. Desse dia em diante comecei a me interessar por "revista de mulher pelada". Minha primeira, comprada após encher muito o saco de um jornaleiro da Praça da República, em São Paulo, foi uma edição especial - se não me engano, da revista Status - que era totalmente dedicada à Gretchen então no auge de seus 25 anos. Sim, Gretchen foi a primeira mulher que vi completamente sem roupa, ainda que em uma revista. Isso, claro, foi muito antes dela transformar-se em um dos memes mais utilizados no Whatsapp.
Acredito que Gretchen é uma referência nacional. As pessoas podem criar memes, tirar um barato, mas é fato que qualquer um, do mais novo ao mais velho, já ouviu ao menos uma vez "Conga Conga Conga" ou o "Melô do Piri Piri", que inclusive foi utilizado por Dinho, dos Mamonas Assassinas, na versão ao vivo da música Robocop Gay.
Muitos anos se passaram até que desenvolvi as habilidades que me possibilitam encontrar quem eu quiser. É claro que, em nome do saudosismo adolescente, incluí Gretchen na lista de artistas que gostaria de conhecer. Minha primeira tentativa foi na virada cultural de 2012. Ela apresentou-se no Palco Cabaré, na Avenida Ipiranga, bem em frente ao edifício Copan. O acesso ao palco estava cercado com grades baixas, então eu e Jonas, acompanhados por Sheila, aguardamos pela chegada dela, acreditando que seria a coisa mais fácil do mundo.
Apesar do carro que a trouxe estacionar literalmente em frente aonde estávamos - tão perto que se eu esticasse o braço seria capaz de toca-la - fingiu-se de surda, ignorando-nos completamente enquanto caminhava até o palco. Permanecemos onde estávamos durante o show, tratando de nos divertir, cantando e dançando músicas da Gretchen modificadas em homenagem a Kevin. "Conga conga conga" transformou-se em "chato chato chato", enquanto o Melô do Piri Piri foi interpretado como "Kevin é chato ô ô ô". Na saída, para nossa surpresa, o carro foi até o palco buscar a cantora, não tivemos nem chance, pois esperávamos que ela viesse até onde estávamos. Naba!
Ainda em 2012, no dia do corre do Dream Theater, Jonas resolveu monitorar o embarque de passageiros, enquanto preferi ficar no desembarque aguardando pela banda. Gretchen embarcou e Jonas conseguiu de boa uma foto com ela. No mesmo ano surgiram notícias de que ela estava morando nos Estados Unidos, e foi acusada pelo governo americano de trabalhar ilegalmente em uma lanchonete, o que levou ao cancelamento de seu visto.
Não soube de mais nenhuma aparição dela em solo brasileiro até 2017, quando Marcelo Zava começou a congonhar. Em um domingo, Gretchen foi uma das passageiras a desembarcar aleatoriamente. Os congonheiros de sempre a abordaram. Zava conta que quando foi pedir a foto, a ouviu dizer para uma mulher que a acompanhava "se eu soubesse que aqui teria fã, teria vindo por Guarulhos". Ele conseguiu a foto, mas somando todos os fatos, fiquei com a impressão de que ela é mala.
Ocorreram mais algumas oportunidades no decorrer dos anos, mas desperdicei todas. Gretchen mudou-se para Belém do Pará. Numa aparição em São Paulo, ainda em 2017, apresentou-se em uma casa LGBT na região da Faria Lima. Fiquei com preguiça de tentar, até porque teria que fazer o corre sozinho, já que ninguém se interessou em me acompanhar.
Em 2021, em plena pandemia de COVID-19, houve uma apresentação grátis na Avenida Paulista. Pensei em ir, mas o fato de tirar foto de máscara desanimou-me completamente. Em 2022, já começando a manjar dos esquemas de podcasts, Gretchen foi anunciada como convidada do Inteligencia Ltda, mas eu ainda não sabia onde esse poscast é gravado. Algumas semanas depois, foi anunciada como convidada no Podpah. Era, enfim, a oportunidade que aguardei por anos.
Havia um problema: a pálpebra de meu olho esquerdo estava inchada, provavelmente devido aos problemas renais detectados recentemente. Era a terceira vez que isso acontecia em apenas três meses, mas eu não estava a fim de desperdiçar a chance, então decidi que isso se resolveria com um óculos escuro. Chamei Roberto para me acompanhar, ele aceitou. Na hora combinada, passou de carro em casa e fomos. Ao chegarmos, ficamos de boa em um banco na garagem do prédio onde é gravado o Podpah. Assistimos ao podcast, não apenas para saber como ela estava vestida mas também para saber a hora em que o programa acabasse.
Gretchen demorou cerca de meia hora para sair. Fiz a abordagem, mostrando a foto para ela autografar. Simpática, autografou, e ainda mostrou a foto a uma mulher que a acompanhava, contando sobre a ocasião em que a imagem em questão foi feita. Tirou uma foto com Roberto, outra comigo, e nos despedimos. Era apenas o segundo dia em que as máscaras foram liberadas, inclusive em ambientes fechados na cidade de São Paulo, mas Gretchen não foi nem um pouco pandêmica.
Claro que preferia a foto sem óculos, mas não estava a fim de esperar por uma nova oportunidade |
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