domingo, 27 de março de 2022

Garotos Podres

Em 1986 aproximei-me muito do punk, especialmente o representado por bandas brasileiras. Foi o ano em que conheci Cólera, Garotos Podres, Olho Seco, Ratos de Porão, entre outras e sempre achei o som do caralho, crú e direto, embora não concordasse com o conteúdo de muitas letras - e continuo não concordando. Música, em minha opinião, é diversão, não uma religião que precisa ser seguida cegamente. Você pode curtir o som mesmo que não concorde com o que a letra diz. Se letras realmente importassem, imagine como seriam os fãs de Slayer, Carcass, Cannibal Corpse etc...

Quando, muitos anos depois, comecei a fazer corres e percebi que eu poderia conhecer qualquer banda que quisesse, incluí todas que citei acima na lista de bandas que eu gostaria de conhecer, inclusive Garotos Podres, mas embora soubesse como fazer o corre, não me atrevi a tentar em algum local de show. Sempre tem a possibilidade de dar de cara com os carecas, e - ironic mode on - acredito que eles não gostem muito de cabeludos. Pelo mesmo motivo, jamais assisti a um show do Garotos Podres.

Durante anos monitorei, aguardando pela oportunidade perfeita para encontrar a banda sem encontrar seus fãs. O fato de Mao já ter sofrido um infarto, tornava as coisas ainda mais urgentes. Se tem algo que aprendi nesta vida é que qualquer um pode morrer a qualquer momento. Quem esperava a partida precoce de Wander Taffo, Redson Pozzi, Jeff Hanneman, Andre Matos, Taylor Hawkins, entre tantos outros? Me dói ter conhecido o Cólera sem o Redson, eu não queria que isso acontecesse com mais ninguém, especialmente com o Mao, que é a essência do Garotos Podres.

Ideologicamente, eu e Mao somos completamente opostos. Ele é socialista, o que abomino. No começo, cantava sobre anarquia, mas é fato que quem se diz anarquista quase sempre tende à esquerda. A coisa chegou em um nível que ele separou-se da formação considerada clássica apenas porque o baixista Sukata declarou apoio a Jair Bolsonaro. Ainda assim, me vejo livre para curtir e consumir sua música. Álbuns como "Mais Podres do que Nunca" e "Pior que Antes" sempre estiveram em minha coleção, que me desfiz completamente, entre outras coisas, para conseguir sobreviver aos anos de COVID-19.

Então a oportunidade perfeita chegou: a banda apresentou-se em Fortaleza com o Ratos de Porão. Se eu tivesse que chutar, iria para Congonhas, mas teria falhado miseravelmente. Preferi aguardar para ver se alguém me dava uma dica consistente. Tony Karpa, o baterista, postou o que eu precisava saber: uma foto da passagem e da vista da janela, já na aeronave. Isso me revelava duas coisas: eles foram por Guarulhos, de Gol - e provavelmente voltariam de Gol também. Afinal, que sentido faria o produtor comprar passagens em companhias diferentes? É mais prático comprar ida e volta de uma vez, no mesmo site, e aproveitar algum desconto que sempre tem para quem compra ida e volta.





Esses são os voos de Fortaleza para Guarulhos no domingo, dia seguinte. Concluí que a banda viria no voo da Gol que pousava às 14:35hs. Para ter certeza, continuei monitorando. A escolha por GRU se justifica pelo preço.

Quando, no dia seguinte, por volta das 11:00hs, a banda postou estar no aeroporto de Fortaleza, bingo, corri para Guarulhos! Fui direto ao desembarque nacional do terminal 2 leste, que era onde o voo da Gol pousaria. Apenas cinco minutos depois, outro voo vindo de Forteleza, mas operado pela Latam, pousaria no terminal 2 oeste, mas eu estava absolutamente convencido de que estava no terminal correto.

A banda demorou a sair da sala de desembarque, pois teve de aguardar para pegar os instrumentos na esteira de bagagens. No entanto, mesmo após o portão de desembarque, onde eu aguardava, conseguia ver Mao e sua imensa barriga - que é muito maior que a minha. Quando a banda saiu, abordei Tony Karpa, indentifiquei-me como fã e agradeci por ter me dado a dica que precisava, ainda que sem querer. Conversamos um pouco e ele chamou Mao, que caminhava logo à frente. 

Mao cumprimentou-me e conversamos também. Eu disse que apesar de ser fã de Garotos Podres há quase 40 anos, jamais assisti a um show deles, devido a essas tretas sem sentido que acontecem nos shows. Ele garantiu-me que isso não acontece mais há pelo menos 20 anos. Tony disse que colocaria meu nome na lista no próximo show de São Paulo se eu falar com ele pelo Instagram. Todos foram gente finíssima!

Eu zuaria Mao se ele não tirasse a máscara para a foto: "Ué, o punk malvadão com medinho de virus?!". Felizmente, tirou!
Deedy, guitarrista do Garotos Podres
Uel, baixista dos Garotos Podres
Tony Karpa, baterista do Garotos Podres

Tenho até medo de pensar como seria se soubessem da minha preferência política... Porém, eu sei a deles e ainda assim sou capaz de admira-los como músicos e como banda. Respeito a liberdade de cada um para que escolha a liderança que quiser, mas não entendo como alguém pode sequer pensar em votar em um bandido condenado como o Lula. O julgamento foi anulado, mas ele não foi inocentado, pelo contrário. Deixaram os casos prescrever, assim como os de seu vice, Geraldo Alckmin. Mais uma vez se come pizza neste país, o mesmo país de merda descrito nas letras dos Garotos Podres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário