terça-feira, 12 de março de 2019

Veneza

Antes de começar, é necessário fazer uma confissão: sempre tive nhaca da Itália. Não apenas pela eliminação na Copa de 1982, que nunca engoli, mas também pelo fato de ser de família descendente de italianos. "Aguentei" a vida inteira que "Itália é maravilhosa", "Itália é linda" e bla bla bla. Aos meus avós, tudo parecia remeter à Itália. Tudo no Brasil era ruim, tudo na Itália era incrível. Então, com o tempo, desenvolvi certa nhaca do país. Por isso, ir à Itália jamais esteve em meus planos.

Isso mudou um pouco quando passei a planejar minha última viagem para a Europa. Arianne deixou bem claro que visitar Veneza estava em seus planos. Depois de discutirmos o assunto, chegamos à conclusão de que deveríamos passar 4 dias na cidade. Depois, com as passagens já compradas, e com a hospedagem já agendada, decidi que sacrificaria dois desses dias para conhecer Roma e Pisa, neste caso, mais especificamente a torre de Pisa.

Em 2018, quando estive em Londres, voei para a República Tcheca e retornei, voando novamente para a Grécia alguns dias depois. Por muito pouco não perdi o voo para Atenas devido ao horário, era muito cedo. Minha ideia de voar, desta vez, em horários mais "normais" já começou a dar errado quando fui agendar o voo para Veneza.

Realmente era possível voar de tarde, como eu gostaria, mas com duas paradas, então eu chegaria a Veneza quase de madrugada. A outra opção era o voo direto, partindo do aeroporto de Stansted às 06:20hs. Tive que aceitar, mesmo sabendo que seria dureza - e foi, já que eu e Arianne passamos a noite em claro no aeroporto, por falta de opções de transporte para chegar no horário, exceto os absurdamente caros táxis. Também teve suas vantagens, já que chegamos cedo à cidade. 

Duas horas de voo, mais uma de diferença de fuso horário, pousamos às 09:20hs no aeroporto Treviso-Sant'Angelo. Nosso voo, operado pela RyanAir, foi tranquilo e sem incidentes. Quando saímos da aeronave, seria necessário, é claro, passar pelo controle alfandegário. A Itália era o primeiro país que visitamos dentro do espaço Schengen, do qual o Reino Unido não faz parte, então se conseguíssemos o visto, teríamos entrada liberada em praticamente todos os países da Europa pelos próximos 90 dias.

Havia uma fila enorme, monstruosa mesmo, mas logo nos demos conta de que aquela era a fila para os europeus. A nossa, de passageiros do resto do mundo, era outra. Por acaso, só havia duas pessoas nessa fila, eu e Arianne, então logo fomos chamados. A oficial que nos atendeu praticamente não fez perguntas, apenas quis saber quantos dias ficaríamos, e parece ter ficado satisfeita quando respondemos "quatro dias", pois carimbou os passaportes e nos desejou boas vindas.

Prevenido, comprei pela internet, por €12 por pessoa, passagens de um ônibus expresso com bagagem inclusa e wi-fi, que nos deixaria em Mestre ou em Veneza. Aqui cabe uma explicação: Mestre é uma localidade pertencente ao município de Veneza, e está situada em terra firme, frente às ilhas de Veneza. Já Veneza é o que todos conhecem como Veneza: as ilhas, os canais, as ruas estreitas. Para quem viaja sem muito dinheiro, pode ser uma boa procurar por opções de hospedagem em Mestre, pois são muito mais em conta. É muito fácil chegar de Mestre em Veneza, o trem custa €1 e passa a cada 15 minutos. Como ao fazer a reserva eu não sabia de nada disso, escolhi um hotel em Veneza que, embora bem mais caro que as opções oferecidas em Mestre, foi um dos melhores hotéis da viagem, então não tenho do que reclamar.

Foi muito fácil localizar o ônibus no aeroporto, ele estava exatamente onde o mapa que recebi por e-mail indicava, já pronto para partir. É um trajeto curto, de 15 ou 20 minutos. Após passar por Mestre e seguir a Veneza, o ônibus nos deixou em nosso destino final, Piazzale Roma, uma praça onde se localiza o terminal de ônibus. Desembarcamos e caminhamos ao hotel que, conforme o GPS, estava a apenas 1.100 metros de distância. O problema não é a distância, mas como chegar lá.

Na Ponte della Constituzione
Eu e Arianne carregávamos uma mala cada, eu a grande, ela a pequena. Nosso primeiro obstáculo foi atravessar a Ponte della Constituzione. Então passamos em frente à estação Santa Lucia, sempre desviando de ambulantes e transeuntes, até chegar à Ponte degli Scalzi, que também atravessamos. A partir de então, foi um incrível zigue-zague por vielas muito estreitas. De vez em quando atravessávamos outras pontes menores, sempre carregando as malas.

Percebemos que o GPS não estava ajudando muito, pois o sinal sempre se perdia. Arianne ficou bem irritada com isso. Quem deveria se irritar mais sou eu, já que carregava o maior peso, mas estava de boa, curtindo o momento. Eu estava em Veneza, porra! Por mais que tivesse nhaca, parece que tudo passou quando cheguei à cidade, que tem realmente uma atmosfera mágica.

Não demorou para Arianne descobrir como se locomover sem GPS: era só prestar atenção às placas indicativas, espalhadas por toda a cidade. Em apenas alguns minutos, já nos locomovíamos como se conhecêssemos o caminho, é realmente bem fácil.

Chegamos ao hotel Ca' San Giorgio B&B (€377 ou R$2500,00 no câmbio de 23 de agosto de 2020, por quatro noites), e fomos recebidos por uma italiana simpaticíssima. Nosso quarto era no térreo, com vista para a rua, espaçoso, com um banheiro maravilhoso. Estávamos bem, principalmente se considerar que em Londres passamos quase todos os dias em um quarto onde mal cabia a cama. É claro que ninguém viaja pensando em ficar no quarto, mas também não vamos exagerar! Apesar de sermos um casal, passamos mal bocados em Londres nesse aspecto, pois não havia espaço nem ao menos para deixar as malas.

Nossa primeira atividade iniciava-se apenas às 16:00 hs. Era o Passeio Particular de Gôndola para até 6 Pessoas. Aqui cabe outra explicação: não faz muito sentido ir de casal para Veneza pela primeira vez e não curtir um passeio de gôndola, certo?! Geralmente esse passeio é compartilhado em grupos de até seis pessoas, custando €27 por pessoa (cerca de R$180,00). Como viajamos sós, teríamos que dividir a experiência com até quatro pessoas aleatórias, que também agendassem a atividade.

Preferi pagar um pouco mais que o dobro, €115 (cerca de R$760,00), para não dividir nossa gôndola com ninguém, mas com consciência que seria a primeira e última vez nesta vida que eu faria isso. Tem coisas que só se faz uma vez na vida, e essa é uma delas. O preço é proibitivo para um passeio de apenas 20 minutos. Não vale a pena!

Eu e Arianne caminhamos até a zona mais turística da cidade, próximo à Piazza San Marco (ou Praça de São Marcos). No caminho, mais vielas estreitas, pontes pequenas, pontes maiores, mas desta vez estava suave, pois não carregávamos nada pesado. Deixei as imagens reduzidas, basta clicar para ampliar a imagem correspondente.




Veneza também é uma cidade conhecida por seu carnaval. Há lojas e mais lojas especializadas na venda de máscaras, e há para todos gostos, desde as mais simples até as mais elaboradas. Os preços variam muito também.




Paramos para experimentar a verdadeira pizza italiana, na rua mesmo. Escolhi margherita, esperando que fosse algo parecido com o que se encontra no Brasil ou, ao menos, em São Paulo, onde é preparada com molho de tomate, mussarela, rodelas de tomate, manjericão, orégano e azeitonas. O que veio foi totalmente parecido com mussarela, pois só tinha molho de tomate e mussarela. A massa estava totalmente borrachuda. Como único ponto positivo: veio em quantidade generosa, mas isso era o mínimo a se esperar por €4. Será que tive azar?! Mais tarde, tentaria novamente, em outro lugar.




Passeamos mais um pouco, tomamos sorvete, passamos na agência para trocar os vouchers das atividades que reservei em Veneza, enrolando até que fosse hora do passeio de gôndola. Quando o horário se aproximou, fomos até as docas, onde o passeio se iniciaria. Com os ingressos em mãos, bastou entrega-los ao gondoleiro para que partíssemos imediatamente. A bem da verdade: em tese pode ser romântico, mas não vale o que é pago. A gôndola é totalmente instável, você deve se mexer o mínimo possível, ou pode virar. Esse, inclusive, foi o medo de Arianne.





Apesar de não precisar de ajuda para sair da gôndola, sempre há um espertinho atrás de dinheiro fácil, ajudando no desembarque e exigindo gorgeta em troca, e "ai" se não receber... Lá se foi mais €5... Após o passeio, o cansaço bateu. Lembre-se, não dormimos a noite passada pois estávamos no aeroporto. Retornamos ao hotel, onde Arianne logo deitou-se e dormiu. Eu decidi sair para tentar comprar pizza novamente. Mais uma vez, o mesmo: margherita era mussarela em massa borrachuda. Após comer, cama também.


Sim, eu sei. Não parece gostosa. E realmente não estava tudo isso. Custou €8

Acordei cedo, bem antes que Arianne. Decidi sair para dar uma volta, para sentir como é a cidade no escuro, mas já estava começando a amanhecer. Mesmo assim, é um pouco estranho caminhar só pelas vielas vazias e mal iluminadas. Não dá medo, mas foi como se de repente eu fosse a única pessoa em toda a ilha.





Quando retornei, Arianne já estava de pé, então fomos tomar café da manhã no hotel. Tudo muito simples, mas organizado e delicioso, em clima quase familiar. Os funcionários eram incrivelmente amigáveis e educados. As fotos são da Arianne e refletem o que ela comeu. Eu preferi ovos mexidos, pois café da manhã, quando se está viajando, tem que ser consistente o bastante para te fazer ficar de pé até a hora da janta, se necessário.




Com a manhã sem programação, saímos para dar uma volta e tirar algumas fotos. Tirei uma da Arianne em frente ao grande canal, com uma gôndola passando no fundo. Se eu tivesse percebido naquele momento como a foto ficou incrível, teria pedido para ela tirar uma minha assim também. Como não percebi, fiquei sem.

Então, apareceu uma mulher fantasiada, e Arianne disse que gostaria de tirar uma foto com ela. Mais experiente em viagens pela Europa, comentei que ela se vestia assim justamente para atrair turistas desavisados, e que pra tirar foto é necessário pagar. Ela insistiu, foi até a mulher e perguntou quanto era, a mulher mostrou 2 dedos. Entendendo tratar-se de €2, ela pediu para que eu batesse a foto, e entregou uma moeda de 2 euros à mulher, que reagiu com irritação, alegando que disse €20 (R$130,00), não €2. Para não criar confusão, paguei, mas meio puto por Arianne não me dar ouvidos. Ao menos espero que ela tenha aprendido. Esses €20 fizeram falta em nosso último destino, Paris, mas isso é outra estória.


Se estiver em Veneza e avistar essa vigarista, FUJA! Ela me deu um prejuízo enorme!

Caminhamos mais um pouco, entramos em algumas lojas e compramos algumas lembrancinhas da cidade, tais como imã de geladeira, uma máscara e uma gôndola que balança sozinha, movida a luz solar. Passamos também em um supermercado, pois pensávamos em comprar alguma coisa e levar ao hotel para comer, mas acabamos retornando à velha e - não tão - boa pizza. Como não comemos tudo, dividimos o que sobrou com um cachorro e com os pombos.



Seguimos então para a primeira atividade do dia, escolhida pela Arianne: Teatro La Fenice: Ingresso Sem Fila com Guia de Áudio (€13 por pessoa). Após encontrar com a guia e o grupo que faria a atividade conosco no ponto de encontro enviado para o e-mail, entramos no teatro, onde a guia explicou muita coisa, contou sobre a destruição por um incêncio, a reconstrução, e muito mais. Eu achava que seria algo bobo, mas foi diferente do que estou acostumado, valeu a pena.








Quando saímos, fomos à Praça de São Marcos, onde deveríamos encontrar a guia da próxima atividade: Excursão a Arte do Vidro Soprado (€9 por pessoa). Enquanto ela não chegava, mais fotos, não apenas da praça, mas principalmente das gaivotas, que havia aos montes.





Quando a guia chegou, parecia meio perdida, sem saber o que deveria fazer, mas desculpou-se pelo atraso, alegando substituir emergencialmente outra menina que viria nos encontrar e que não estava passando bem. Sabíamos que a atividade seria curta, no máximo 20 minutos, mas quando ela nos conduziu até a fábrica de vidros, vimos um mestre artesão demonstrar a técnica do sopro de vidro, montando uma escultura em apenas 5 minutos.

Quando esperávamos por outras demonstrações que preenchessem o tempo prometido para a atividade, o dono nos conduziu ao andar superior, onde fica a loja que vende toda a produção do lugar, tentando de todas as formas nos convencer a comprar algo. Como gastei muito mais dinheiro no Reino Unido do que planejava, não estava a fim de mais gastos inesperados, e esse certamente seria um deles, então recusei comprar o que quer que fosse. Conclusão sobre a atividade: não vale a pena, é apenas uma armadilha para te atrair à loja e tentar vender produtos.



Em outra loja, me apaixonei por esse tabuleiro de xadrez e só não comprei porque o dinheiro começava a encurtar

De noite, eu e Arianne decidimos achar algum lugar para comer algo que não fosse pizza. Para nossa surpresa e decepção, todos os restaurantes que encontramos estavam fechados. Nos viramos com pizza borrachuda novamente...

No dia seguinte, cedo, partimos para Roma. No outro dia, passamos por Pisa antes de retornar a Veneza. Chegamos ao hotel por volta de meia noite, então logo deitamos. Na manhã seguinte, apenas tomamos café, fizemos o check-out, e retornamos ao nosso ponto de entrada na cidade, a Piazzale Roma, onde embarcamos em um ônibus de volta ao aeroporto. Adeus Veneza, até qualquer dia! Com certeza é uma cidade que merece retorno! E quanto à Itália: a nhaca acabou, é realmente um país apaixonante! Mas a pizza é uma porcaria, a brasileira é muito melhor!

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