sexta-feira, 22 de março de 2019

Cairo

A bem da verdade: meus planos de viagem originais não incluíam o Egito. A princípio, seria apenas 4 países europeus: Inglaterra, Itália, Grécia e Finlândia. Com todas as passagens compradas e todos os hotéis reservados, observei algo que nunca havia prestado atenção: o Egito é bem próximo à Grécia, apenas duas horas de voo, bastando sobrevoar o Mar Mediterrâneo. Eu sabia que durante muito tempo não teria condições de fazer uma grande viagem novamente, então pareceu fazer sentido sacrificar algum tempo em Atenas para ver as pirâmides de perto. Eu já estaria ali mesmo...


A ideia era passar de 2 a 3 dias em Cairo, mas rapidamente foi frustrada devido à disponibilidade dos vôos de retorno a Atenas. O melhor que consegui seria partir de Atenas para Cairo às 23:50 do dia 21, chegar às 01:50 do dia 22 e retornar às 04:50 do dia 23, chegando em Atenas às 06:50. Seriam apenas 27 horas na cidade, ou seja, chegaríamos de madrugada, seguiríamos ao hotel - que deveria ser literalmente ao lado do aeroporto, devido ao horário do voo de volta - dormiríamos até a manhã seguinte, tendo apenas um dia para visitar as pirâmides e o que conseguíssemos fazer.

Entrei no site Getyourguide, onde já havia agendado atividades para todos os outros países da trip, e comecei a estudar as opções. O mais óbvio era a excursão guiada às Pirâmides de Gizé + Museu egípcio + Bazar Khan El Khalili, pois seria um passeio completo, que nos deixaria entretidos por todo o dia. Para a noite essas eram as opções mais interessantes: Cruzeiro no Rio Nilo com jantar e entretenimento ou Show de luz e som nas Pirâmides de Gizé. Escolhi a segunda opção. Observei que, comparadas com as excursões e atividades da Europa, estas eram extremamente mais baratas. Mas havia uma pegadinha, que mostrarei no decorrer do texto.

Primeiro passo: estudar tudo que fosse possível sobre a cultura egípcia, para saber coisas como "ser cabeludo ou usar cabelo solto seria um problema?", "usar camiseta de banda seria um problema?", "há algum comportamento que é completamente normal para mim, mas que me faria arrumar confusão se eu agisse deste modo lá?". Todas essas dúvidas passaram por minha cabeça.

Não consegui resposta a todas as perguntas, mas concluí que o cabelo ou vestimenta não seriam problema pois, embora seja um Estado Islâmico - e a apenas poucas centenas de quilômetros da turbulenta Faixa de Gaza - o Egito é um pouco mais liberal com os estrangeiros, sem um código de vestimenta rigoroso, pois o país vive do turismo e está apinhado de turistas para todos os lados.

A Arianne, no entanto, deveria procurar vestir-se com mais cuidado do que o habitual. No Egito, mulher é vista como inferior, devendo evitar decotes, roupas justas ou curtas, e qualquer peça que, enfim, chame a atenção masculina. Beijos e outros carinhos normais de casais são proibidos em público - podem até mesmo dar cadeia. Há quem diga que não, que não é nada disso, mas não estávamos a fim de pagar para ver. Só imagine ter uma viagem de um dia arruinada por um motivo idiota desses.

Conforme a data de nossa chegada a Cairo se aproximava, ficávamos cada vez mais antenados com as notícias sobre o que nos esperava: atentado a ônibus (83 dias antes de chegarmos), explosão em mesquita (32 dias antes de chegarmos)... O Egito não é para principiantes, e lá estaríamos sujeitos a algo que não nos faz sentir ameaçados no Brasil: o terrorismo.

Tendo tudo isso e mais alguns aspectos culturais (que serão explicados no decorrer do texto) em mente, agora só restava realmente viajar e conferir por nós mesmos o que estava à nossa espera. Após retornar de Míconos, fomos direto ao aeroporto. Embora, em tese, houvesse muito tempo (deveríamos chegar a Pireus às 19:00 hs, nosso voo era às 23:50) para o deslocamento entre o porto e o aeroporto, na verdade chegamos quase na hora da abertura dos portões de embarque.

Em nossa defesa podemos alegar que, devido ao mau tempo, o ferry atracou em Míconos com uma hora de atraso, e também que perdemos um tempo precioso até descobrir como chegar ao metrô - minha ideia inicial era tomar um ônibus diretamente ao aeroporto, mas não conseguimos entender onde deveríamos toma-lo, então o plano B foi localizar o metrô. Quando chegamos ao aeroporto, fizemos o check-in e seguimos ao portão de embarque, onde alguns passageiros já estavam embarcando.

Nossa bagagem?! Apenas uma mala pequena e a bolsa da Arianne. Nada mais. Isso foi possível pois nossa amiga Theodora fez a gentileza de guardar a nossa mala maior em sua residência, enquanto passávamos por Míconos e Cairo. Nós a resgataríamos quando retornássemos a Atenas.

No avião, uma simpatia singular das comissárias: todos os passageiros receberam uma balinha que, pelo que entendemos, era para trazer boa sorte ao viajante. Uma bobagem, mas um pouco surpreendente, porque em outras companhias aéreas, especialmente as europeias, nem mesmo um copo d'água é gratuito.

Eu sabia que era necessário a obtenção de visto para entrar no país. Estudei muito sobre, pois muitos sites afirmavam que era possível comprar o visto diretamente na chegada ao aeroporto, enquanto outros diziam que não era mais possível, que seria necessário ir ao consulado do Egito que, no Brasil, existe somente no Rio de Janeiro e em Brasília. Isso, é claro, abre espaço para aproveitadores. Em minhas consultas, pediram 350 reais para intermediar um visto com o consulado. Como eu precisava de dois, 700 reais. Sem intermédio, o visto custa 25 dólares (ou equivalente em euros) e deve ser pago em papel moeda. Então, se eu aceitasse, pagaria 700 reais por algo que custa 200. Não, obrigado.

A única vantagem de utilizar o serviço de um intermediador é que não seria necessário me preocupar com isso quando chegasse a Cairo. Dois meses antes de nossa viagem, uma amiga foi com a família, de excursão. Perguntei como funcionava, se era possível comprar o visto em Cairo e, devido à resposta positiva, relaxei e não pensei mais nisso. Então, a primeira coisa que fiz ao pousar foi procurar o guichê exibido em uma das imagens abaixo. Minha preocupação era: funcionava de madrugada, ou seria como no Brasil, que os serviços do aeroporto de Guarulhos muitas vezes fecham quando mais precisa deles?! Felizmente, estava aberto e totalmente operacional.

Foto: reprodução de internet 
Foto: reprodução de internet 
Foto: reprodução de internet 
Após passar por esse guichê, onde pagamos cerca de 18 euros por cada visto, era hora de passar pela imigração, onde um oficial se encarrega de colar o visto ao passaporte. Feito isso, basta descer a escada rolante onde, ao fim, se encontram as esteiras de bagagem.


Logo após pegar minha mala que, não lembro por qual motivo, foi despachada, fui abordado por um oficial, que me fez somente duas perguntas:

- É a sua primeira vez no Egito?

- Sim senhor!

- Ficará quantos dias?

- Somente até amanhã.

Ok, eu sei que é uma história estranha, tipo "quem vai ao Egito para ficar apenas um dia?!". Mas eu tinha motivos consistentes, documentos consistentes. Se ele perguntasse, eu explicaria e poderia mostrar as atividades que comprei para o dia seguinte, a reserva no hotel, etc.

Grosseiramente, ele tomou o meu passaporte e o da Arianne, os entregou a outro oficial, ordenando que nossas bagagens fossem cuidadosamente revistadas. Mais uma vez: era apenas uma mala de mão pequena e uma bolsa de mulher. Pouquíssimas roupas, utensílios de higiene pessoal e a câmera fotográfica, nada mais. Tudo, absolutamente tudo foi remexido, e sem o mínimo de higiene, pois o oficial não usava luvas e apalpava tudo na mala.

Quando encontrou os absorventes da Arianne, apertou um por um. Morrendo de nojo, ela jogou todos fora quando chegamos ao hotel, e eu a entendo completamente. Não foi uma abordagem educada. Aquele oficial tinha certeza que eu era drogado, traficante, mula do tráfico, ou algo assim, e sua expressão de decepção quando o outro lhe disse que não encontrou nada foi memorável. Ele teve que nos liberar, de cara feia e sem pedido de desculpas. Bom, que se dane, eu estava no Egito, enfim...

Ao sair do terminal, ligamos para o hotel, que informou que mandaria um motorista nos buscar. De acordo com o Google Maps, era um trajeto de apenas 650 metros, mas eu não sou doido o suficiente para chegar em um país desses e brincar de passear de madrugada, sem conhecer absolutamente nada.

Os taxistas pareciam chatos como os do Rio de Janeiro, que quase se estapeavam quando eu desembarcava no aeroporto Santos Dummont ou na rodoviária Novo Rio. Mas são ainda piores: tentaram nos convencer a ir de táxi, mas alegamos que esperávamos o transfer do hotel. Eles juravam que o hotel não mandaria um transfer de madrugada. A insistência era infinita e, de tanto encher, um deles acabou nos convencendo a ir ao hotel com ele. Assim que encostou a mão em minha mala, para coloca-la no carro, o transfer chegou, e economizamos o preço combinado, 3 euros.

Eu quase esqueci da primeira regra que qualquer turista deve estar atento ao visitar o Egito: todos tentarão te enganar! O tempo todo! Eles não vêem nenhum problema em tentar passar a perna em você e arrancar cada centavo que puderem. Muitos outros exemplos serão descritos no decorrer deste texto. E isso porque fiquei apenas 27 horas lá!

Chegamos ao hotel mas, para entrar, todas as bagagens teriam que passar por uma máquina de raio x. Sem isso você simplesmente não entra. Apesar de estranho, pareceu bom para um país onde as coisas explodem todo o tempo. A porta giratória também conta com detector de metais, como nos bancos do Brasil.
Logo na entrada, a máquina de raio x
Escolhi uma marca internacional que eu conhecia bem: Novotel. Já encontrei com diversas bandas em unidades do Brasil, bem como já me hospedei em algumas ocasiões. Mas o principal motivo foi, como eu já disse, a proximidade do aeroporto. Fizemos o check-in e rapidamente nos recolhemos ao quarto, pois na manhã seguinte, cedo, um guia viria nos buscar para começarmos as atividades.

Acordamos com o interfone: era o guia, que chegou um pouco antes do combinado. Pedi para que aguardasse um pouco, tomei um banho rápido e, em menos de 10 minutos encontrei com ele e o motorista, enquanto a Arianne ainda estava no quarto se arrumando. Ele foi a pessoa mais simpática e solícita que encontrei no Egito, e procurou proporcionar a melhor experiência possível à nossa passagem pela cidade. Mas houveram erros, que explicarei a seguir.

Quando a Arianne chegou, tomamos o caminho até as pirâmides. Cairo é uma cidade feia e suja - não é incomum encontrar montes de lixo no caminho - além de ter um trânsito completamente caótico. Eu não teria ideia de como dirigir na cidade, pessoas atravessam as ruas enquanto os carros viram ou seguem em frente. Enfim, é uma zona. Veja o vídeo e tire suas próprias conclusões:


Embora eu achasse que todo o passeio já estava pago, o guia explicou que não: os ingressos para as pirâmides não estavam inclusos. Já que julgava estar tudo pago, levei apenas alguns poucos euros (deixei a maior parte do dinheiro na Grécia, pois sabia que gastaria bastante na Finlândia), então foi necessário troca-los pela moeda local - libra egípcia, o que consegui com o auxílio do guia.

Aqui uma pausa para falar rapidamente sobre o dinheiro egípcio. Você é capaz de imaginar como é? Vamos lá: a unidade monetária (libra egípcia) é dividida em piastres (centavos). 100 Piastres correspondem, portanto, a uma libra egípcia. Eu recebi muitas notas quando estive lá, mas nenhuma moeda. Diz a lenda que elas existem, mas eu não vi. Porém, mesmo quem garante a existência confirma que são raras. Diferentemente do Brasil e da maioria dos países do mundo, os centavos são representados por notas. Cada nota tem uma face com o valor escrito em algarismos hindu-arábicos, e outra em arábico ocidental (o usado por nós), o que facilita a leitura dos valores. Há notas de 25 e 50 piastres, 1, 5, 10, 20, 50, 100 e 1000 libras.


Esta foi a primeira visão que tivemos das pirâmides. Eu imaginava que seria possível vê-las de diversos pontos da cidade mas foi só aí, praticamente do lado, que as vi pela primeira vez. Nessa área há muitos hotéis com vista para elas. Sugiro fortemente que você fique em um deles se for passar alguns dias no Cairo. Eu não pude me dar ao luxo, pois meu voo era de madrugada e aí não é nada próximo do aeroporto.


O guia comprou os ingressos e entramos na área restrita, onde ficam as pirâmides. Foi então que tive minha segunda lição prática sobre o Egito: ser turista e tentar caminhar em paz é praticamente uma odisseia de paciência. Somos identificados a quilômetros de distância só pelas roupas e tipo físico, não conseguimos dar mais que 10 passos sem ser abordados por algum homem, mulher e, principalmente crianças, pedindo dinheiro, vendendo lembrancinhas ou tentando convencer-nos a contratar seus serviços.

Para dizer a verdade, eu achava que estava preparado, pois já tinha lido sobre eles na internet. Ao vivo é muito pior: eles não param de falar, não dão espaço para você pensar. Simplesmente pegam sua câmera e tiram fotografias. Eu insistia: "não vim com dinheiro, não vou pagar nada!". Quando souberam que eu era do Brasil, disseram que não iriam cobrar, pois gostam muito da cultura brasileira: "Neymar! Pelé! Bla bla bla". Ainda sem devolver a câmera, colocaram turbantes em nossas cabeças e foram caminhando conosco, tirando fotos e mais fotos. Contrariados, até porque queríamos recuperar a câmera, fizemos algumas poses que eles pediram, mas sem imaginar qual seria o resultado.

Uma pequena pedra colocada em frente à lente gera essa ilusão tosca
O infeliz chegou ao cúmulo de tirar uma foto com a Arianne para que nunca esquecêssemos da cara dele. Fala sério!
Quando a palhaçada acabou, nos devolveram a câmera, mas pediram uma "colaboração". A real é: estávamos mesmo sem dinheiro, tínhamos somente cartão. Arianne ainda tinha 10 euros em espécie, que foram devidamente levados pelos cidadãos. Apesar de eu ter gostado das fotos, nos sentimos roubados. A Arianne nem gostou tanto assim...


Dou risadas toda vez que vejo algum vídeo no Youtube sobre algum viajante que vai às pirâmides, pois invariavelmente ele passa pelo mesmo que passamos. Está de boa fazendo um vídeo, e os egípcios, sempre intrometidos e sem noção, aparecem para atrapalhar. É claro que na edição é retirada a maior parte da interação, mas é impossível haver um vídeo nas pirâmides sem haja reclamações dos caça-turistas locais.

Aos 06:54:


Aos 13:25 este viajante é abordado por crianças. Aparentemente ele curtiu o momento mas, em algum outro ponto do vídeo, é abordado pelos chatos adultos e sai reclamando.

Nós queríamos entrar na pirâmide, mas isso representaria um custo adicional que não tínhamos como pagar depois de nossa interação com os habitantes locais. Então fomos ao nosso guia, que nos levou de van até um local próximo, onde é possível tirar "fotos com ilusão". É também onde estão os camelos, que são alugados para dar uma volta com os turistas. De qualquer forma, eu e a Arianne não contrataríamos esse serviço, porque somos contra a exploração animal. Porém, aquela amiga que havia ido ao Egito pouco antes contou a seguinte história:
"No Egito, todos tentam te enganar o tempo todo. Por exemplo, eu perguntei quanto custava o passeio no camelo, ele respondeu que para subir era 5 dólares. Achei barato, paguei, fiz o passeio e, quando fui descer do animal, ele disse que para descer era mais 30 dólares. O problema é que se você não pagar, como eles trabalham em família, vem a família inteira em cima de você".


De volta à van, o guia nos levou até onde fica a esfinge. Nossa intenção era tirar fotos que todo mundo tira, tipo beijando-a. Mas as crianças do local são insuportáveis, elas pedem para tirar fotos com você o tempo todo. Até aí tudo bem, eu tiro foto com bandas e não gosto de levar naba, então é claro que não daria naba nas crianças. Mas, como os adultos, elas se intrometem, perturbam, sugerem poses. Uma delas me disse: "não é assim que todo mundo tira fotos aqui no Egito". E eu pensei "Foda-se! Não sou todo mundo, caralho!".

Eu queria gravar um vídeo caminhando como um egípcio. Tentei dezenas de vezes antes de conseguir sem que criança nenhuma atrapalhasse. Eu estava me sentindo como se houvesse 30 Kevins me abordando (quem lê os posts das bandas provavelmente saiba quem é, mas, basicamente, ele é chato). Veja nas fotos, minha expressão já não está tão boa, na verdade eu estava puto da cara!


De lá partimos para o museu. No caminho, observei o número absurdo de oficiais das forças de segurança armados por todos os lados, portando fuzis, metralhadoras... Dá uma sensação de que algo ruim está sempre prestes a acontecer, uma explosão ou algo assim...


O museu é uma opção que vale a pena. Muito completo, tem múmias (algumas ainda com unhas e cabelos), artefatos diversos, sarcófagos, animais mumificados, e muito mais. Eu e a Arianne tiramos centenas de fotos, seria impossível posta-las aqui, por isso fiz uma seleção:


Quando saímos, reencontramos nosso guia. O problema é que o motorista que nos acompanhou havia desaparecido e não respondia às mensagens. Ele acionou outro motorista para nos buscar, mas eu havia deixado o casaco no carro.

Enquanto esperávamos pelo novo motorista, um idoso me abordou querendo vender papiros. O pior: eu queria comprar, mas estava sem dinheiro. Então, educadamente, recusei. O que aconteceu a seguir foi inacreditável: certo de que me convenceria a comprar, e sem acreditar que eu não tinha dinheiro, ele ficou absurdos 15 minutos falando sem parar, diminuindo o preço, fazendo promoções. No começo era um papiro por 10 euros. No final, já eram 5 por 10. Eu estava muito irritado, quase a ponto de soca-lo, mas sabia que me arrependeria demais se o fizesse, então tive que aguentar quieto. Mal acreditei quando o motorista chegou. Eu estava simplesmente empapuçado do Egito e de seus habitantes. Conversei com a Arianne, que também estava irritada, e decidimos finalizar o passeio, sem seguir para o bazar.

O novo motorista nos levou ao hotel. No caminho, algo me veio a cabeça: será que de noite também seria necessário um ingresso às pirâmides para ver o show de luz e sons já contratado? Quando o guia confirmou, decidi cancelar também esse passeio. Ele disse que não teria como devolver o dinheiro. Eu disse que tudo bem, desde que ele desse um jeito de devolver o casaco. Ele respondeu que passaria mais tarde no hotel para devolve-lo.

Assim que chegamos, fomos almoçar. Se você fizer uma pesquisa rápida no Google, descobrirá que os egípcios são, de modo geral, um dos povos mais sem higiene do planeta, pois manipulam os alimentos com as mãos, sem lavar. Os sites advertem para não comer em qualquer lugar - somente em hotéis internacionais, sendo este um dos principais motivos da minha escolha pelo Novotel - e até mesmo para não utilizar a água, caso se hospede em um hostel barato, para nada, nem mesmo para escovar os dentes. Em nossa jornada, vimos algumas barracas com alimentos, e constatamos o quão real é a falta de higiene por lá. Mas, conforme esperado, no hotel era tudo limpinho, então pudemos ter uma refeição.


O guia retornou para devolver o casaco, e provavelmente esperava receber uma gorjeta por isso - no Egito todos esperam por gorjetas o tempo todo - mas não dei porque ele já havia recebido pelo passeio noturno que não seria mais realizado.

Sinceramente?! Era apenas início da tarde, mas eu estava tão de saco cheio que só estava esperando pela hora de entrar no avião e sumir de lá. Não lembro o que fizemos de tarde, provavelmente dormimos. De noite resolvemos conhecer melhor o hotel e tirar algumas fotos. 


Quando chegou a hora de partir, uma van do hotel nos levou ao aeroporto. Estávamos um pouco confusos, já que não sabíamos onde era o balcão da companhia área em que deveríamos fazer o check-in. Um egípcio se aproximou disposto a ajudar. Claro que não gostamos, pois já sabíamos bem como são as pessoas de lá mas, pelo menos, para algo, ele serviu: nos mostrar que, para chegar ao balcão da Aegean Air (bem como de qualquer outra companhia), era necessário passar por um procedimento desnecessário em qualquer país que já tivéssemos visitado: uma máquina de raio x. É claro que, depois do portão de embarque há essas máquinas em qualquer país, mas antes mesmo de chegar ao guichê da companhia aérea, eu nunca vi.

Após passar pelo procedimento de revista, estávamos nos encaminhando ao final da fila, mas o egípcio ainda não havia acabado o "show". Ele pediu nossos passaportes para obter uma suposta autorização para entrarmos na fila (?!). Eu sabia que era palhaçada mas, como estávamos em uma área  com controle de acesso, repleta de guardas por todos os lados, entreguei para ver o que ele faria. Ele foi até o balcão e fingiu conversar com a atendente. Eu e Arianne de longe ríamos de como ele se achava esperto. É claro que ele queria dinheiro pela "ajuda". Eu tinha no bolso cerca de 5 libras egípcias (mais ou menos 1 real) e entreguei a ele. Iria trazer algumas notas para recordação, mas dane-se, eu só queria sumir daquele país.

Depois de passar pelo portão de embarque, o procedimento é normal, e mais uma vez passamos tudo pelo raio x. Pode acreditar: o momento mais feliz da minha vida foi quando aquele avião decolou. Eu amo voar e aquela decolagem foi a mais deliciosa de todas.

De lá eu só trouxe 4 coisas: uma lata de coca-cola vazia, um maço de Marlboro, uma estatueta de gato - que comprei próximo às pirâmides com as libras egípcias que sobraram após pagar os ingressos - e o turbante.


Na verdade a falta de grana foi o menor dos meus problemas. O que realmente irritou foram as interações com os habitantes locais. Você percebe todo o tempo que estão tentando te enganar. Eles não são educados, não aceitam não como resposta, são sem noção, desagradáveis. É um lugar para o qual bastou-me um dia, com certeza não espero retornar.

Meses depois, conversei sobre essa experiência com Tadeu, um amigo que é viajante costumaz tendo, inclusive, um canal no Youtube e um livro sobre o assunto. Ele me disse que Cairo é um favelão mas que, se descesse o Rio Nilo, encontraria lugares mais bacanas, com pessoas mais educadas e menos sem noção. Valeu a experiencia?! É claro que sim, conhecer as pirâmides era um sonho de criança, agora realizado. Mas realmente espero nunca mais voltar.
Extras:
  1. O Portal das Comunidades Portuguesas afirma que "desde janeiro de 2018, é também possível obter o visto antes da viagem, através de  uma plataforma eletrônica www.visa2egypt.gov.eg. O pedido deve ser efetuado com uma antecedência mínima de 7 dias"
  2. Alguns sites afirmam que é possível tirar somente vistos de turista no aeroporto. Para vistos de trabalho, continua sendo necessário ir ao consulado. Se este for o seu caso, sugiro que entre em contato com as autoridades consulares para confirmar esta informação
  3. É necessário ter o certificado internacional de vacinação contra a febre amarela, emitido pela Anvisa. Eu me vacinei em 2009, quando fui a Manaus para ver o Iron Maiden. Como guardei o comprovante, compareci com ele à unidade do aeroporto de Congonhas, onde o certificado foi emitido na mesma hora. Verifiquei recentemente, e parece que essa unidade não está operacional. Para confirmar onde estão as unidades de seu Estado, basta clicar aqui. Aparentemente hoje é possível a emissão online do certificado, sem comparecimento obrigatório a uma unidade. A Arianne não era vacinada e teve que tomar a vacina e seguir os mesmos procedimentos que eu. É importante complementar que esse documento não foi exigido quando estivemos no Egito mas, em tese, poderia ser, e a falta dele poderia inclusive barrar nossa entrada no país
  4. Antigamente o certificado de vacinação valia por 10 anos, quando exigia uma nova dose. Hoje o Governo Brasileiro considera que, se você já tomou apenas uma vez, está imunizado para o resto da vida. Portanto, se você já tomou e tem como comprovar, não é necessário tomar novamente
  5. Quando comprar algum pacote de atividades, tenha certeza de que todos os custos estão cobertos, para não ter surpresas desagradáveis, como as que tivemos com o guia no Egito
  6. Pouco mais de um mês após nosso retorno, houve um atentado contra um ônibus de turismo
  7. Se um dia voltar ao Egito, não farei questão alguma de interagir com os habitantes em inglês. Usarei o português mesmo; se eles não entenderem, problema deles. Isso com certeza evitará interações invasivas desnecessárias


Nenhum comentário:

Postar um comentário