Desta vez sem o Ed Force One, o Iron Maiden veio "fatiado" para São Paulo. Bruce, Steve e Nicko chegaram primeiro, os guitarristas viriam depois. Leo estava determinado a fechar a banda pois, apesar de fazer corres há muito mais tempo que eu, ainda não tinha conseguido encontrar Adrian Smith. E a missão parecia um pouco mais difícil, pois os músicos foram hospedados no Renaissance, um dos piores hotéis de São Paulo no trato com fãs. Leo chegou ao cúmulo de passar sabão no olho para simular conjuntivite, e desta maneira conseguir atestado para fazer o corre sem se preocupar com suas obrigações trabalhistas. Ficou com o olho zuado e ardendo, mas valeu a pena... acho.
Assim que soubemos que metade dos integrantes já estavam em São Paulo, eu o encontrei e seguimos ao hotel. Entramos sem ser incomodados pelos seguranças, nos instalamos em uma mesa próxima ao bar e apenas observamos o movimento. Bruce estava por perto, permanecendo quase o tempo todo sentado em sofás próximos ao bar. Sabendo o quanto o baixinho é chato em relação a abordagens, o deixamos em paz. Nossos alvos prioritários eram Nicko e Steve.
Não vimos sinal de Steve, mas Nicko não demorou a aparecer. Leo o abordou e ele pareceu um pouco incomodado, mas assinou e tirou uma foto. Eu tinha um catálogo do Rock'n'Roll Ribs, o bar que ele tem em Fort Lauderdale, Florida, e queria um autógrafo, mas nem tive chance de pedir. Mal bati a foto do Leo e Nicko ja caminhou apressado para longe, parecia mau humorado. Esta foi a única vez em diversas que o vi que levei naba dele. Nessa noite, nada mais aconteceu.
Nosso plano era ir ao aeroporto na manhã seguinte, para acompanhar o desembarque do voo que chegaria do México. Com certeza os guitarristas estariam nele, o que seria perfeito, pois eu queria mais uma foto com Dave Murray (até hoje tenho apenas uma com ele) e Leo queria abordar Adrian Smith. Entretanto, ainda no hotel, três amigos me enviaram, quase ao mesmo tempo, a mesma foto. Um infeliz postou esta imagem no grupo "
Iron Maiden Brasil", o maior de fãs brasileiros no FB.
Eu e Leo cancelamos os planos de ir ao aeroporto. Como conheço Sombra, chefe dos seguranças brasileiros do Iron Maiden, falei com ele e mostrei a imagem. Só imagina o que aconteceria se por algum motivo o pouso adiantasse ou os seguranças atrasassem para chegar ao aeroporto - já vi acontecer com outras bandas - o voo chegaria e o desembarque aconteceria normalmente, com centenas de fãs cantando e berrando. Quem teria que aguentar o mau humor dos músicos no hotel era eu.
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Fortaleza 2013, mas em SP poderia ser igual |
Até então Sombra estava de boa, descontraído - afinal, apenas eu e Leo estávamos no hotel - mas ficou bastante preocupado e imediatamente acionou Peter Lokrantz, o massagista e segurança do Iron Maiden, que também não ficou feliz ao ver a imagem. Eles convocaram uma reunião com todos os seguranças que iriam buscar os músicos.
Tempos depois, Sombra me disse que não havia fãs e que Adrian, Dave e Janick desembarcaram normalmente como qualquer passageiro, sem nem mesmo utilizar alguma saída especial reservada para esse tipo de situação. Como em um desenho animado, senti a orelhinha de burro crescendo. O voo chegava extremamente cedo em um dia em que a maioria teria que trabalhar. Apesar de ter a informação, os fãs não tiveram coragem de ir ao aeroporto.
Retornei ao hotel com Leo e Sheila no dia seguinte. Desta vez a grana estava curta e não foi possível nos hospedar, como fizemos nas turnês de 2008, 2009 e 2011. Levei o livro "On Board Flight 666" e a intenção era conseguir autógrafos não somente dos músicos, mas também de toda a equipe. Há duas páginas com diversas fotos de integrantes do crew, e eles também fazem parte do Iron Maiden. Não são apenas os seis em cima do palco, todos são de alguma maneira importantes. Por exemplo, Michael Kenney, roadie do Steve Harris que também atua como tecladista, geralmente atrás do palco. Porém, era a "Maiden England World Tour", então tocou à vista de todos em "Seventh Son of a Seventh Son", embora mascarado.
Kenney é um pouco estranho. Em 2009 em
Manaus não se incomodou em tirar uma foto comigo. Em 2011, no
Rio de Janeiro também não, foto e autógrafo rolaram numa boa. Ainda em 2011, em
Belém reclamou para mim e para Bruno "The Crying Man" que estava chateado porque, apesar de ser um dos integrantes mais antigos do Iron Maiden, inclusive tocando com a banda em todos os shows, ninguém sabe quem ele é, ninguém pede fotos e autógrafos, ninguém o assedia. Dois anos se passaram e agora estávamos fumando no fumódromo do hotel, cada um em seu canto. Apenas observei quando alguns fãs que aguardavam na calçada em frente ao hotel se aproximaram e pediram uma foto. Foram solenemente rechaçados: "Eu não sou famoso, eu não sou ninguém! Vá procurar o Bruce Dickinson".
Kenney não é o único relevante. Ashley Groon, por exemplo, tem uma função chamada "set carpinter", é basicamente um faz-tudo, que cuida de cada detalhe do palco. É, por exemplo um dos responsáveis pela troca dos cenários, aqueles panos de fundo, que são diferentes a cada música. Se o Iron Maiden faz um puta show, não apenas musicalmente mas também visualmente, ele com certeza colabora para isso. Cada integrante da equipe tem sua importância. Por isso, eu estava focado em conseguir os autógrafos.
Dentro do hotel, um dos primeiros que abordei foi o tour manager Ian Day, que recusou-se a tirar foto comigo em 2011. Como era somente autógrafo, desta vez não se importou. O mesmo se aplicou à Michael Kenney. Ele estava de mau humor e distribuindo coices nos fãs, mas não se incomodou em rabiscar meu livro. Eu e Sheila observamos que Ashley Groon estava reunido com outros integrantes da equipe no bar do hotel, sentados ao balcão.
Como excursionamos extra-oficialmente com o Iron Maiden em 2009 e 2011, hospedados nos mesmos hotéis, nos tornamos próximos o bastante para que ele soubesse quem somos e aceitasse nossa presença numa boa, pois sabe que não somos o tipo de fã que causa problemas. Nos aproximamos, os cumprimentamos, e pedi pela assinatura de cada um que estivesse nas imagens do livro. Antes de faze-lo, o sempre animado Ashley disse algo como "é a edição brasileira do livro? Nossa, é diferente! Posso ver?". Mas é claro que sim!
Mal deixei o livro com ele quando fui abordado por um inconveniente segurança do hotel, que solicitou que eu e Sheila nos retirássemos. Perguntei por que, recebendo a resposta que "estávamos abordando banda". Fala sério! Ashley nos conhece e não estava nem um pouco incomodado com nossa presença, pelo contrário, estava se divertindo enquanto folheava o livro. Mas o segurança não aceitou nossos argumentos e fez com que nos retirássemos ainda assim.
É por essa e por outras que quando me hospedo neste hotel, faço questão de tratar a equipe de segurança como lixo, porque é o que é. Seguranças folgados e nada educados, não aliviam nem mesmo quando estou hospedado ou quando estou consumindo no bar do hotel. Sem contar o fato de serem incompetentes, pois quando tiveram de lidar com uma
ameaça verdadeira à boa fama do hotel, estavam desatentos e deixaram o crime acontecer, durante a estadia do Crashdïet, em 2016.
Leo não foi expulso conosco porque não estava abordando ninguém. Ele não queria, como nós, ver os integrantes do crew. Arrumou um lugar no lobby e ficou lá quieto, o dia todo, na esperança de que Adrian Smith pudesse aparecer. Mas nem sinal dele neste dia. Nem no próximo.
Retornando a nós, do lado de fora, a missão tornou-se bem mais difícil. Com uma xicará de café na mão, Charlie Charlesworth saiu para fumar, e não se importou em falar conosco. Na sequência, vimos Ian "Squid" Walsh, que também não se incomodou em assinar e tirar uma foto. Abordei também a figurinista Natasha de Sampayo, que não quis saber de papo pois já estava trabalhando, entrou na van apressada e partiu rumo à Arena Anhembi. Mas a cereja do bolo ainda estava por vir: o todo poderoso empresário Rod Smallwood saiu para fumar. Tivemos uma longa conversa, uma das melhores que já tive envolvendo alguém relacionado ao Iron Maiden.
Como o vimos em diversas ocasiões anteriores, perguntamos se lembrava de nós. Sua resposta foi negativa, justificando que sempre vê muita gente em muitas cidades, então é difícil lembrar de todos. Quando dissemos que estávamos em Manaus em 2009, pareceu começar a lembrar. Ele comentou o setlist, música por música. Eu já sabia, mas ele estava tão animado que jamais o interromperia. Foi muito amigável. No fim, rolou uma foto incrível conosco.
No fim da tarde, quase anoitecendo, avistei Tony Newton, produtor e engenheiro de gravação, além de baixista do Voodoo Six (hoje em dia também baixista do KK's Priest). Tirei uma foto com ele, mas mesmo com flash a imagem ficou estranha, parte clara, parte escura... Felizmente consegui tirar outra foto com ele em 2018 no Rio de Janeiro, quando veio na turnê do
British Lion.
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Charlie Charlesworth é técnico de bateria no Iron Maiden |
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Ian "Squid" Walsh trabalha como técnico de som com o Iron Maiden |
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O todo poderoso empresário da banda, Rod Smallwood, nos proporcionou um grande momento |
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Tony Newton, baixista do Voodoo Six e do KK's Priest sempre trabalha com o Iron Maiden como engenheiro de gravação |
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Ficou bem incompleto perto do que pensei que conseguiria |

Eu e Sheila decidimos finalizar. Passamos o dia inteiro de pé em frente ao hotel e percebemos que não conseguiríamos grandes coisas do lado de fora. Não retornei no dois dias em que a banda ainda estava na cidade. Também poderia tentar o corre de outro artista que estava na cidade, Bruce Springsteen, mas sabendo quem estava no corre - os mesmos com quem arrumei a treta gigantesca no ano anterior, incluindo Jonas e a cuidadora de idosos - não animei. Eu não estava com saco para ver gente merda, então me dei folga. Foi um erro, pois Bruce Springsteen é extremamente amigável, ou seja, teria conseguido sem dificuldades. Ele nunca retornou ao Brasil.
Neste dia, Ellen hospedou-se com Aline e Mariana no Renaissance. Elas passaram todo o tempo - tarde, noite, madrugada e manhã do dia seguinte, uma saga de mais de 24 horas - sentadas próximo à entrada do lounge executive, que era frequentado pelos integrantes do Iron Maiden para tomar café da manhã, beliscar algo à tarde, etc. O sacrifício valeu a pena, pois conseguiram conhecer todos os integrantes. Até então, eu e Sheila fomos os últimos a conseguir ver todos, em 2009, mas precisamos de três cidades para isso, Ellen fez em apenas dois dias (as outras duas não são de corre, então toda a estratégia e plenejamento foi dela).
O que Ellen fez foi simplesmente notável, até porque ela e Aline foram as últimas a conseguir fechar a banda de uma única vez - Mariana não, pois estava tomando banho quando Steve Harris apareceu. Provavelmente ninguém mais conseguirá faze-lo no Brasil, pois a cada vinda o Iron Maiden se torna mais difícil. Imagine então depois do COVID...
Tenho orgulho enorme de saber que fui o "professor" dela, pois não somente aprendeu, como me superou, chegando até mesmo a criar novas técnicas de corre, possibilidades que eu nunca havia pensado. Nesta época, porém, não estávamos nos falando devido à sua aproximação com Jonas, cuidadora de idosos etc. Felizmente voltamos a nos falar - e fazer corres juntos - em 2014.
Relembrando este dia, Ellen conta: "eu e as meninas chegamos ao hotel bem cedo, na véspera do show. Fomos em todas as áreas comuns mas nem sinal dos caras do Iron Maiden. Decidimos então nos concentrar mais no lounge executive. Tão logo chegamos, encontramos Nicko tomando chá. Ele nos atendeu numa boa. No decorrer do dia, ele retornou ao lounge diversas vezes e sempre nos via por lá, então passou a brincar conosco. De noite Steve apareceu para jantar - foi a única aparição dele. Parecia meio cansado, foi bem seco, mas tirou fotos sem nenhuma objeção.
Um pouco mais tarde, Bruce também apareceu para jantar. Não o abordamos, esperamos que terminasse a refeição. Era apenas nós três, mas mesmo assim os seguranças da banda encrencaram conosco. Peter Lokrantz foi um grosso, disse que não era para abordar o Bruce. Nem discuti, não adianta... Esperei o Bruce levantar, percebi que estava meio bêbado. Pedi por favor, juntando as mãos meio que implorando, e ele tirou fotos de boa com nós 3, apesar da cara de bosta dos seguranças. Depois percebemos que tinha um casal disfarçado que também conseguiu. O último que conseguimos nesse primeiro dia foi Janick, que estava mala e tirou as fotos de má vontade.
Encontramos Dave logo cedo, indo pegar algo para comer... foi bem simpático e nos atendeu. Depois do almoço, outros conhecidos se hospedaram também, incluindo Felipe Godoy e Rita, Kevin, Deca... Isso nos preocupou um pouco, pois ainda faltava Adrian Smith, que nem tinha aparecido até então. Já perto da hora de ir ao show, ele enfim foi ao lounge para comer. Segurança do hotel veio encher o saco, mesmo estando todos hospedados. Adrian terminou de comer e atendeu a todos de boa, bem simpático.
No dia seguinte, vi que poderia levar o Leo ao lounge, desde que o registrasse como convidado na recepção. Faltava o Adrian pra ele, e foi justamente quem apareceu por lá. Como na noite anterior, atendeu a todos de boa. Leo ficou bem feliz. Por outro lado, tomou naba do Janick. Bruce também apareceu, mas não tirou fotos com ninguém, o lounge estava bem cheio de fãs naquela manhã".