Martin Barre integrou o Jethro Tull de 1969 a 2012. Após a dissolução da banda, ele e Ian Anderson, os dois principais integrantes, estavam rompidos. Cada um montou sua própria versão para manter viva a história e a tradição da banda original: Martin Barre's Jethro Tull e Ian Anderson's Jethro Tull. Em 2017, Ian, que detêm os direitos sobre o nome, anunciou o retorno do Jethro Tull com os integrantes que compunham sua banda solo. Martin continuou com sua própria banda. Na prática, há duas bandas tocando praticamente as mesmas músicas.
Em 2019, foi anunciado um show com Martin Barre no Espaço das Américas, acompanhado de Barriemore Barlow, baterista do Jethro Tull de 1971 a 1980. O tecladista do Ozzy Osbourne, Adam Wakeman (filho de Rick Wakeman) seria um convidado especial para esta apresentação. Já em 2020, poucas semanas antes do show, a participação de Barriemore Barlow foi cancelada, sendo substituído por Dee Palmer.
O corre começou na véspera do show, quando Carlos me enviou uma foto com a vista do hotel, postada por Adam Wakeman no Instagram. Não parecia a vista do Renaissance, onde a princípio pensamos que a banda de Martin Barre poderia ficar. Após investigar a vista de alguns hotéis no Google Maps, rapidamente cheguei à conclusão de qual era o hotel correto.

A expectativa confirmou-se na mesma noite, quando Barre postou uma foto em sua página oficial no Facebook: a banda toda reunida, jantando em um restaurante que eu conhecia muito bem, já que participei de muitos almoços familiares no lugar. Reconheci imediatamente o local: ficava na mesma rua e quadra do hotel que identifiquei.
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Foto: reprodução do Facebook |
No dia seguinte, fui cedo, pois tinha a informação de que, em ocasiões anteriores, Barre foi ao local do show muito cedo e passou o resto do dia por lá. Cheguei por volta de 09:00 hs e, como este não é um hotel problemático com fãs, entrei e esperei sentado em um sofá no hall. Não demorou muito e Kevin chegou. Isso tinha um lado bom, pois não gosto de fazer corres sozinho.
Vimos quando Adam Wakeman e o vocalista Dan Crisp desceram para tomar café da manhã, mas preferimos não aborda-los, priorizando para agir quando aparecessem nossos alvos - Martin Barre e Dee Palmer. Se fôssemos expulsos após aborda-los, ao menos já teríamos os integrantes principais.
Kevin observou que Palmer também fazia seu desjejum no restaurante do hotel. Enquanto esperávamos que ela terminasse a refeição, Martin entrou no hotel e foi direto à recepção, onde disse alguma coisa. Quando virou-se para ir ao elevador, Kevin o chamou. Foi então que percebemos seus sérios problemas de visão: ele tentou ver quem o chamava, mas não fixou o olhar em nossa direção, parecia que não conseguia identificar em que direção ou por quem foi chamado.
Kevin foi até ele para pedir autógrafos em alguns álbuns. Martin aceitou, mas não conseguia ver onde teria que assinar, então Kevin guiou a mão dele para que soubesse onde assinar. Ele desculpou-se, alegando estar sem óculos, mas assinou tudo. Kevin pediu para tirar uma foto com ele, que aceitou. Na minha vez, Martin desculpou-se por estar "fedendo", justificando que estava na rua fazendo exercícios. Não me importei muito com isso.
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Martin Barre tornou-se um senhor extremamente simpático e educado, foi um prazer enorme conhece-lo |
Barre subiu, tomou banho, e desceu novamente. Encontrou-se com o baixista Alam Thomson e com o baterista Darby Todd no hall, e saíram para passear. Abordamos somente Alam, pois não tínhamos certeza se Darby era mesmo Darby - havia um técnico de som parecido com ele, então estávamos em dúvida. Até saber quem era quem, não nos arriscaríamos a fazer uma abordagem errada.
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Alam Thomson, o baixista, foi um dos mais simpáticos, pareceu realmente curtir o contato com os fãs |
Dee Palmer finalizou seu café da manhã, e a abordamos quando deixava o restaurante. Também nos atendeu sem problemas, tirando fotos conosco e autografando os álbuns de Kevin.
David, seu nome de nascimento, é hermafrodita, ou seja, nasceu com órgãos genitais masculino e feminino. Na infância, foi criado como menino, assumindo a identidade masculina. Chegou até mesmo a se casar com uma mulher. Três anos após a morte da esposa, em 1998, Palmer assumiu sua identidade transgênero, passando por uma cirurgia de mudança de sexo, e respondendo pelo nome de Dee.
Como seus trabalhos com o Jethro Tull foram concebidos antes da mudança de gênero, o nome creditado nos álbuns foi o de registro (David Palmer).
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Independentemente de sua condição intersexual, Dee foi educada e atenciosa, e isso é o que interessa para nós |
Quando Martin, Alam e Darby retornaram, já havíamos solucionado a dúvida com o produtor, então abordamos Darby para tirar uma foto com ele.
Um casal apareceu no hotel para se encontrar Adam Wakeman. Chamado ao hall, ele desceu, foi quando aproveitamos para aborda-lo. Ele nos atendeu e saiu com o casal.
Martin desceu e sentou-se próximo a nós, no mesmo sofá onde estava Kevin. Neste momento, o que aconteceu me deixou totalmente boquiaberto: Anebelle entrou no hotel, desesperada como sempre. Eu jamais imaginaria que ela seria capaz de encontrar o hotel, pensava que ela estava por aí perdida e sem informação, mas fui obrigado a dar o braço a torcer: infelizmente ela aprendeu a fazer corres. Como estava sozinha, ela pediu para que eu tirasse suas fotos, o que concordei. Então, abordou Martin e tirei sua foto com ele.
Os outros integrantes foram descendo e se reunindo no hall, onde estávamos. Marcio, avisado por Anebelle, também chegou ao hotel. Fui tirando as fotos dos dois com cada integrante que aparecia. Dan Crisp, o único integrante que faltava para mim e Kevin, foi o quarto músico a descer. Eu e Kevin finalizamos, mas ainda faltavam dois integrantes para Marcio e Anebelle. No entanto, em menos de cinco minutos, todos desceram, e pudemos finalizar o corre. Ou quase...

Tem vezes que eu gostaria de ser sem noção como Kevin. De manhã, abordou Martin Barre assim que ele chegou ao hotel após os exercícios, conseguiu foto e autógrafo. Depois o abordou novamente para pedir uma palheta (isso é algo que não faço; se já pedi foto e autógrafo, vou ficar pedindo palheta também?). Martin respondeu que não tinha, mas que lhe daria uma mais tarde. Quando desceu, algumas horas depois, cumpriu a promessa e lhe entregou a palheta. Kevin, chato como sempre, pediu para tirar mais uma foto, desta vez segurando a palheta.
Agora, não satisfeito, o abordou mais uma vez, para pedir uma foto com todos os integrantes da banda. Já dava para perceber que Martin, tão gentil e educado na primeira abordagem, começava a ficar de saco cheio. A foto rolou, e até mesmo eu tirei com todos. Mas é complicado, Kevin fica todo o tempo abordando, importunando...
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Martin Barre's Jethro Tull + Dee Palmer + Adam Wakeman |
Finalizamos o corre. Fui a uma padaria próxima com Marcio e Anebelle, onde comemos alguma coisa. Enquanto aguardávamos pela comida, Marcio e Anebelle receberam uma mensagem de uma hunter do bem, aquela melhor do que a CIA, dizendo que sabia o hotel, perguntando se queriam a informação.
Eu estava com eles, então sei que não foram os responsáveis pelo vazamento. Sobrou apenas um suspeito óbvio: Kevin. Se ele estava "fazendo broadcast", ainda mais para quem estava fazendo, definitivamente não serve para fazer corres comigo. Eu o bloqueei no Messenger, então ele pode tentar me chatear a vontade, que não conseguirá mais falar comigo. Após 10 anos, este foi o fim de minha parceria com ele.