Em 2015, o Kiss retornou ao país para o Monsters of Rock. Ainda que eu não tivesse conseguido fotos com nenhum dos integrantes em minha primeira tentativa, em 2012, decidi que Paul Stanley deveria ser tratado como o alvo principal, já que ele tem a fama de ser o mais chato e difícil.
Ao chegar à primeira cidade da América do Sul, Buenos Aires, o Kiss alugou uma aeronave e voava para as outras cidades do continente com ela. Isso é relativamente normal com as bandas maiores e inviabiliza o corre de aeroporto. Não recordo exatamente como, mas recebi uma informação privilegiada muito boa: a banda não se hospedaria em Brasília, chegaria à cidade apenas próximo ao horário do show e, após, seguiria ao aeroporto, de onde voaria para São Paulo. Rapidamente calculei, concluindo que um bom horário para a chegada ao hotel seria por volta das duas horas da manhã.
Chamei apenas o Leo e a Sheila para tentar comigo. Quando chegamos, Carlos e Fernando estavam lá, provavelmente tiveram a mesma informação e a mesma ideia que nós. Casado, Fernando não poderia passar a madrugada na rua, então, por volta de duas e meia da manhã, como nada tinha acontecido, preferiu ir embora.
Na tarde seguinte, haveria o lançamento de “Eu S.A.”, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. As primeiras cem pessoas que comprassem o livro participariam de uma sessão de autógrafos com o autor, Gene Simmons. Experiente nesse tipo de evento, sei bem que a fila começa a se formar de madrugada. Então, se quisesse participar, teria de perder o dia lá, o que tornaria inviável não apenas o corre do Kiss, como os de outras bandas do Monsters. Malmsteen, por exemplo, desembarcaria de manhã. Preferi abdicar à foto e autógrafo certos para tentar a sorte.
Por volta de 03:30, um grupo de adolescentes apareceu. Eles planejavam seguir para a livraria, mas antes passaram no hotel para ver se a banda já havia chegado. Não demorou para que começassem a cantar “Rock And Roll All Nite” no meio da rua, vergonha alheia total.
Carlos disse “eles virão falar com a gente” e nem demorou para que o grupo se aproximasse de nós. Eu já tinha um plano: disse que a banda chegou, mas que somente Tommy Thayer parou para nos atender. Eles não acreditaram, então mostrei o autógrafo que consegui em 2012, o que conferiu credibilidade à estória. Eu estava com a mesma foto assinada por ele para tentar conseguir as assinaturas faltantes.
Desconfiados, perguntaram porque ainda estávamos ali, se a banda já chegou. Respondemos que esperávamos pelo horário em que os ônibus voltam a circular, para poder retornar para casa. Um espertinho ainda tentou argumentar: “e os ônibus noturnos?”. “Moramos em outras cidades, como Guarulhos e Suzano”, respondemos. Claro que não era verdade, mas os convenceu, pois se despediram e seguiram para a livraria. Um deles ainda comentou com um colega “te disse que era o Gene Simmons ali na janela, te disse!”.
Assim que viraram a esquina, desabamos de dar risada, até a barriga doer. Chegamos a rolar no chão de rir, foi memorável! Porém, logo os primeiros sinais começaram a aparecer. Normalmente, apenas um ou dois seguranças ficam fora do hotel. De repente, tinha segurança em todo lugar, parecia que tinham saído dos bueiros. Um deles veio falar com a gente, e garantimos que apenas chamaríamos à distância, sem invadir a área do hotel. Foi o que bastou para que esquecessem de nós e, então, os carros, cada um trazendo um integrante, dobraram a esquina. O primeiro foi o de Paul Stanley. Assim que ele desceu, uns cinco ou seis metros de nós, começamos a gritar, em inglês:
- Mr. Stanley, somos apenas quatro pessoas.
- Tire uma foto conosco, por favor.
- Estamos esperando há horas.
Ele parou para ouvir o que estávamos gritando, e ficou ali, virando a cabeça para um lado, virando para outro, mexendo no cabelo... Parecia uma diva! Alheios a isso, os outros integrantes passavam por ele e entravam no hotel. Stanley, enfim, respondeu: “tomorrow”, e entrou também.
Foi difícil acreditar no que acabara de acontecer: se ele não atendeu quando eram somente quatro fãs, até parece que atenderia no dia seguinte, quando seriam cinquenta. Broxados, fomos para casa dormir um pouco pois, em poucas horas, eu e Leo seguiríamos ao aeroporto.
De tarde, após o corre bem sucedido com o Yngwie Malmsteen, retornamos ao hotel. Eric Singer saiu para atender, mas não quis tirar fotos, apenas distribuiu autógrafos.
Quando Gene Simmons retornou do evento, foi abordado e aceitou tirar algumas fotos. Como tudo estava calmo, sem bagunça, formou-se uma fila. Quando minha vez estava chegando, Paul Stanley apareceu na varanda do bar do hotel e começou a autografar. Fui para lá, abandonando a chance de conseguir a foto com o Gene, e apostando na tentativa de conseguir ao menos o autógrafo de Stanley. Deu certo mas, quando retornei, Gene já havia finalizado e entrado no hotel. Naquele dia, nada mais aconteceu.
Na tarde do dia seguinte, estávamos no Renaissance mas, perto da hora em que o Kiss sairia para o show, resolvemos tentar mais uma vez. A banda, no entanto, saiu sem atender. Retornamos ao Renaissance para conseguir as fotos que faltavam com o Steel Phanter e com o Judas Priest.
Mais um dia se passou, e as bandas que ainda estavam na cidade iriam embora. Haveria uma última chance de tentar: aeroporto. Sendo São Paulo a última cidade da turnê sul americana, a banda teria que devolver a aeronave alugada e retornar em um voo comercial.
O Manowar também sairia por Guarulhos, mas decidi que o Kiss era mais importante e foi nisso que me concentrei. Leo, por sua vez, resolveu tentar. Enquanto eu e Sheila ficamos no terminal 3, ele ficou no 2, mas corria o risco de perder o Kiss.
Alguns policiais passaram por nós, conversando sobre o esquema da chegada do Kiss e, é claro, ficamos bastante espertos com isso. Um funcionário do aeroporto no viu e perguntou se fazíamos parte do pessoal da produção que estaria lá para recepcionar a banda. Quando dissemos que não, ele percebeu que fez besteira e se afastou, mas ficamos de olho nele. Foi então que percebemos que ele estava reservando, com cones, vagas para 5 carros. Já sabíamos então exatamente onde eles chegariam.
Leo voltou reclamando do Manowar. Ele conseguiu, mas todos foram chatos, e atenderam depois de muita insistência. Mas não havia tempo para essa estória, pois a banda estava prestes a chegar. Rafael também apareceu e, assim como há dois dias, éramos apenas quatro pessoas.
Quando os carros chegaram, meu foco manteve-se apenas no primeiro, onde estava Paul Stanley. Quando ele desceu, o chamei, dizendo que só queria uma foto e que esperava por aquele momento há mais de 30 anos. Ele aceitou, mas percebeu que havia outras pessoas comigo, sugerindo que fosse uma foto coletiva. Não gosto, mas ali só tinha amigos, então tudo bem.
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Ufa! Essa foi difícil! |
Era, então, a vez de Gene Simmons, mas infelizmente caí em uma armadilha do Eric Singer. Ele me chamou, dizendo que queria autografar a minha foto, mas ela já estava autografada por ele. Perdi um tempo precioso quando parei para explicar. Dias depois, pensando sobre isso, me dei conta de que foi proposital. Singer e Thayer são apenas funcionários de Gene e Stanley e suas funções incluem mais do que atuar como músicos no palco. Eles também agem como “boi de piranha”, atraindo atenção enquanto os outros dois escapam.
Ao conseguir desvencilhar de Singer, Gene já havia entrado no terminal. E foi aí que tudo começou a dar errado, pois os passageiros os reconheceram, e isso fez com que os seguranças pressentissem problemas. Eles resolveram que não seria mais seguro haver paradas ou interações com fãs. Gene autografou sem parar de caminhar. Pedi uma foto, mas ele, seguindo as orientações, não parou.
O jeito foi tentar tirar uma foto com Thayer, que parou, mas não por tempo suficiente para posar. Então, consegui apenas uma fotassa. Poderia ter sido muito melhor se Stanley não fosse tão chato sempre.
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Deu um trabalho do satanás, mas consegui completar os autógrafos |