Como chegamos cedo à cidade, fomos para casa e dormimos mais um pouco. Ao acordar, já fomos ao Hilton, mas logo seguimos para o show. A fila quilométrica estava assustadora, mas não me importei de ser um dos últimos a entrar, nem de ficar em um lugar absurdamente distante do palco. O importante era estar próximo à saída, para rapidamente deixar o local e retornar ao hotel.
Distante do palco, mas mais perto do hotel |
Quando chegamos, a Sheila quis subir logo, para tomar banho. Eu fiquei em frente à porta principal, fumando um cigarro. Nessa hora, observei que um dos seguranças do hotel não tirava os olhos de mim. Acho que ele não gostou de ver um cabeludo com camiseta do Iron Maiden e relativamente sujo de lama – quem estava em Interlagos sabe do que estou falando. Quando tentei entrar, ele se colocou na frente, impedindo a minha passagem. Ainda perguntou se poderia me ajudar. Eu apenas saquei o cartão que dá acesso ao quarto, coloquei na cara dele, e respondi:
- É claro que pode. Sai da minha frente que eu vou para o meu quarto!
Eu não gosto de ser mal-educado com ninguém, mas funcionário de hotel parece que gosta de encher o saco, e eu já estava de saco cheio. No ano anterior, eu cheguei a literalmente pendurar o cartão de acesso ao quarto no pescoço, de tanto que tentavam barrar minha reentrada a cada vez que eu saía para fumar um cigarro.
Eu não gosto de ser mal-educado com ninguém, mas funcionário de hotel parece que gosta de encher o saco, e eu já estava de saco cheio. No ano anterior, eu cheguei a literalmente pendurar o cartão de acesso ao quarto no pescoço, de tanto que tentavam barrar minha reentrada a cada vez que eu saía para fumar um cigarro.
Depois de subir e também tomar banho, descemos para o bar. Conhecemos o diretor do Flight 666, Sam Dunn. Perto de nós, entre os fãs, estava o “chorão colombiano”. No filme, há uma cena do show em Bogotá, onde um fã chora enquanto segura a baqueta que ganhou de McBrain. No entanto, aquele “colombiano” estava ali, ao nosso lado. Quando o viu, Sam apressou-se em se desculpar: “Eu sei que você é brasileiro, mas o clima na Colômbia estava tão pesado, com os fãs sendo maltratados pelas tropas do exército, que preferi colocar a sua cena para mostrar algo de bom no show de lá”. Ele respondeu que não havia problema, o importante era estar no filme. Bruno é paulistano e mora em Curitiba, onde a cena foi gravada em 2008.
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Sam Dunn é conhecido por ter dirigido filmes/documentários/shows sobre heavy metal |
Mais tarde, conversando com Bruno sobre o episódio, ele me contou como tudo aconteceu: “O Nicko havia se machucado jogando golfe. Ao final do show, eu berrei o nome dele, ele olhou, e perguntei se o punho dele estava melhor. Foi nessa que ele jogou a baqueta para mim. Não tive que pular, que me esticar, nem nada. Ele jogou na minha mão ao responder que estava melhor. E foi aí que eu morri de chorar. Me emocionei, não por ter pego uma baqueta aleatória, mas pela comunicação com ele - a primeira que eu tive com a banda. Isso fez com que eu conhecesse a banda toda depois, mas a primeira a gente não esquece”.
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Bruno, "The Crying Man", apareceu no filme Flight 666 |
Naquela noite estávamos no bar quando Steve Harris apareceu. Eu, Sheila, Bruno, Ricardo e sua esposa, Fátima. O pessoal do hotel anunciou que o bar seria fechado – uma conhecida artimanha para torna-lo exclusivo da banda. Sabíamos que não poderiam nos expulsar enquanto estivéssemos consumindo, então nossas bebidas durariam a noite toda, se necessário. A bem da verdade: se a banda queria o bar apenas para ela, que atendesse a meia dúzia de fãs que estava lá: todos iriam dormir, ficaríamos felizes em deixar o bar apenas para a banda. Mas não fazia questão de atender, nem nós fazíamos questão de sair.
Steve preferiu sentar em um banco, enquanto estávamos em cadeiras ao redor de uma mesa. Ele estava há cerca de um metro atrás de onde eu estava sentado, conversando com Jeff Daniels, um dos primeiros roadies do Iron Maiden. Quando a conversa esfriou e fizeram uma pausa, Sheila foi até ele e rapidamente entregou um presente que eu estava tentando entregar há alguns dias, desde o aniversário dele em Manaus: uma camisa oficial do Palmeiras.
Todos sabem que Harris é grande entusiasta e colecionador de itens de futebol. Achei que seria o mínimo que eu poderia fazer por alguém que já fez tanto em minha vida. Mas quem entregou a camisa foi ela. Simplesmente foi lá, fez uma breve explicação, e retornou. Está valendo: não era horar de incomodar e nem de pedir fotos. Foi bacana ver o Harris abrir um sorriso ao receber a camisa verde-limão e tentar repetir “Pal-mei-ras”.
Todos sabem que Harris é grande entusiasta e colecionador de itens de futebol. Achei que seria o mínimo que eu poderia fazer por alguém que já fez tanto em minha vida. Mas quem entregou a camisa foi ela. Simplesmente foi lá, fez uma breve explicação, e retornou. Está valendo: não era horar de incomodar e nem de pedir fotos. Foi bacana ver o Harris abrir um sorriso ao receber a camisa verde-limão e tentar repetir “Pal-mei-ras”.
Quando Steve subiu para dormir, nós também fomos. Mas acordamos cedo pois, quem sabe, algum deles tomaria café da manhã. Estaríamos lá para descobrir. O primeiro a aparecer foi o Bruce. Como no ano anterior, esperamos que finalizasse a refeição e, então, quando chamou o elevador, falamos com ele. Desta vez ele pareceu incomodado, mas como não tinha para onde ir, rolou a foto. A cara de bunda está nítida. O elevador chegou em seguida, e ele se mandou.
Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden |
A seguir, veio Steve Harris, que foi bem mais simpático, tirando fotos comigo e com a Sheila, e autografando alguns itens. Mas era isso: o horário do café já estava finalizando, e os outros integrantes provavelmente ainda dormiam. Decidimos descer e passar por outras áreas do hotel para ver se algo acontecia.
Steve Harris, baixista e fundador do Iron Maiden |
No térreo, havia fãs por todos os lados, hospedados, não hospedados. Parece que os funcionários do hotel gostam de perturbar somente quem tem cara de fã - e eu tinha. Então era frequente algum funcionário perguntar se eu estava hospedado. Se a resposta fosse “não”, eu seria posto para fora. Como outros não tinham tanta “cara de fã” assim, não eram incomodados. No meio da movimentação havia uns cabeludos que pareciam invisíveis. Simplesmente ninguém percebia que eles estavam ali. Era a banda de Lauren Harris. Ah se os fãs eles imaginassem que mais tarde o guitarrista, Richie Faulkner, tocaria no Judas Priest, hein?! Resolvemos aborda-los, e eles ficaram muito surpresos ao perceber que tínhamos o álbum, que foi devidamente autografado por todos. Em minha foto com eles, até eu reconheço que parece que sou um integrante da banda.
Lauren Harris band e eu |
Jeff Daniels foi o primeiro roadie da história do Iron Maiden |
Adrian Smith, acompanhado de um segurança, saiu do hotel apenas para atender os fãs que estavam por lá. Rolou uma foto coletiva com Sheila, Adrian, eu e mais um fã que não tenho ideia de quem seja. Isso infelizmente é coisa de segurança que quer agilizar, colocando o máximo possível de gente em apenas uma pose. Acaba estragando uma foto que tinha tudo para ser legal.
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Adrian Smith, guitarrista do Iron Maiden |
Sean Brady, técnico de guitarra do Adrian Smith |
Encontramos também Steve Gadd. Homônimo do grande baterista, Gadd também foi baterista, tocando na banda Charlie, mas agora era o tour manager do Iron Maiden. Fizemos uma abordagem com muito tato pois, mais cedo, vimos que ele se recusou a tirar fotos com fãs que o reconheceram – boa parte da equipe do Maiden “ficou famosa” com o Flight 666. Poucos anos mais tarde, em 2013, faleceu em decorrência de um câncer. Que descanse em paz.
Steve Gadd era o tour manager do Iron Maiden |
Saímos do hotel, pois havia um comentário de que Nicko McBrain sairia para atender a galera, assim como Adrian fez minutos antes. E realmente foi o que aconteceu. Nicko autografou tudo, tirou fotos, sempre brincando com todos.
Nicko McBrain, baterista do Iron Maiden |
À noite, resolvemos tentar tirar uma foto com o massagista e segurança Peter Lokrantz. Normalmente ele é uma figura mal vista pelos fãs, pois muitas vezes impede que haja contato com algum integrante. Mas estávamos lá há dias, desde Manaus, e não tivemos nenhum problema com ele, pois tentamos sempre respeitar e fazer a abordagem nos melhores momentos. Para nós, sempre foi melhor perder a foto do que ser inconveniente.
No bar, ele estava em um canto, com cara de que estava de saco cheio. Sheila se aproximou e ambos iniciaram uma conversa. Ele disse que, se dependesse dele, estaria na cama, mas que tinha que trabalhar. Sheila pediu a foto. O diálogo seguiu:
- Comigo?! Mas eu sou feio!
- Não, você é legal.
- Então vamos sair do bar. Não é certo eu impedir fãs de tirar foto com a banda e, de repente, eu tirar fotos.
Peter Lokrantz, massagista e segurança do Iron Maiden |
Voltamos ao bar, onde conhecemos Deca. Eu achava que era apenas uma fã, mas, com o passar do tempo, descobri que ela era bem mais do que isso – este é um assunto que será retomado em outra oportunidade.
Quando Bruce apareceu, algumas meninas foram tirar uma foto com ele. Nem me mexi, já que de manhã eu já havia conseguido. Quem me interessava ainda era Janick Gers, o único com quem ainda não havia tido contato naquele ano. E não demorou muito para que ele aparecesse. Rolou uma foto coletiva. Não gosto, mas como eu já tinha com ele do ano anterior, tudo bem.
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Janick Gers, guitarrista do Iron Maiden |