sexta-feira, 9 de outubro de 2020

O primeiro corre pós início da COVID-19

Um reflexão sobre o COVID-19

A bem da verdade: a pandemia de COVID-19 veio para foder todos nós. O que é pior: as pessoas enloqueceram! É claro que o vírus é perigoso e é fato que mais de 1.000.000 de pessoas morreram ao redor do planeta, mas o que foi feito, da forma como foi feito, foi loucura. A vida como conhecemos simplesmente deixou de existir. 

Longe de minimizar qualquer morte, mas considerando apenas matematicamente, o que é 1.000.000 perto de quase 8 bilhões?! É apenas um número desprezível. Claro que isso muda quando trata-se de vidas perdidas, mas desde o início houveram muitas pessoas que não tiveram a opção de se isolar ou de ficar em casa. São os profissionais de serviços essenciais, desde quem trabalha na produção de alimentos até quem os comercializa, profissionais da saúde, bombeiros, forças de segurança pública etc etc etc. A vida deles importa ou somente a de seus familiares e amigos?

Outra parcela da população foi forçada a permanecer em casa, embora uma parte significativa tenha aceitado com prazer. Muitas empresas não tiveram outra saída senão fechar suas portas, sob pena de multas e intervenções governamentais. No Brasil houveram muitas cenas especialmente grotescas, como a de cidadãos sendo retirados à força de praias e parques, enquanto outros enfrentavam diariamente meios de transporte absolutamente lotados, até porque os governadores e prefeitos "gênios" proibiram a circulação de veículos particulares através da instituição de rodízios. Parece claro que deve ser mais seguro estar em um ônibus lotado do que solitário em seu próprio automóvel.

Vimos a maior parte dessa população ser dizimada pelos efeitos do vírus? Não! O vírus é mortal apenas para uma parcela pequena. Sei que não adianta dizer isso para quem perdeu um ente querido, mas nos últimos anos também perdi diversos amigos com menos de 50 anos, por motivos "bobos". Um, de 34 anos, morreu por infecção hospitalar. Outra, de 42, foi internada por um problema na garganta e saiu em um caixão. Outro, que não tinha nem 25 anos, não sobreviveu a uma cirurgia, fora os casos de câncer e infarto. Minha ex, Mel, foi assassinada com 45 anos. Infelizmente pessoas morrem com ou sem COVID-19.

Bares e restaurantes foram fechados por meses. Quando reabriram, o aumento no número de casos não aconteceu ou não foi significativo. Os campeonatos de futebol foram paralisados por meses. Quando o futebol voltou, diversos casos foram reportados, mas absolutamente nenhum jogador morreu, nem dos times milionários, nem daqueles que vendem o almoço para comprar a janta.

No final de semana do feriado de 7 de setembro, boa parte dos paulistanos, já de saco cheio de ficar em casa, decidiu viajar para a praia. As notícias, após duas semanas - que é o tempo de incubação do vírus após infectar um indivíduo - alertavam que o aumento de casos de COVID no litoral chegou a 60%. A realidade: aumentou 3 casos, eram 5, tornaram-se 8.

O que quero dizer com tudo isso: é claro que o vírus é perigoso e mortal, mas não se deve deixar de viver por causa dele. Basta tomar os cuidados, como máscara, alcool gel, manter distancia minima em filas... Vão morrer algumas pessoas?! Vão! Mas morreriam do mesmo modo se não houvesse o COVID. Morrer faz parte, infelizmente. Eu prefiro morrer como homem a viver como rato entocado.

Dito isso, é necessário retornar a março de 2020

Para entender o que aconteceu nesse meio tempo, será necessário retornar a março, quando meus relatos pararam de ser escritos, unicamente porque não se havia mais corres a fazer. Durante o carnaval, em 26 de fevereiro, foi confirmado oficialmente o primeiro caso de coronavírus no Brasil. No dia seguinte, já eram 132 os casos suspeitos. O segundo caso confirmado veio em 29 de fevereiro. Em 2 de março eram 2 casos confirmados e 433 suspeitos... 

Na época, eu estava fazendo o corre da Xuxa. Nas duas primeiras vezes que eu e Arianne fomos ao programa, onde ela sempre tira foto com todos após as gravações, não demos sorte. Na primeira, ela correu para o aeroporto de guarulhos para se despedir de Sasha, que estava retornando aos Estados Unidos. Na segunda, tinha que embarcar ao Rio de Janeiro para participar do carnaval. E então houve o primeiro caso confirmado de coronavírus no Brasil. Eu e Arianne ficamos um pouco receosos: será que ela tiraria fotos com os fãs ainda assim??? Felizmente tirou.

Depois disso, entre os dias 4 e 11 de março, fiz um corre de teatro (Precisamos Falar de Amor sem Dizer Eu te Amo, com Priscila Fantin e Bruno Lopes), Martin Barre's Jethro TullGilby Clarke + Matt Sorum + Sebastian BachJohn CaleMauro Castano. E então chegou o fatídico dia 14. Alguns shows foram cancelados, mas o daquele dia, da banda The Hellacopters, que se apresentou no Carioca Club, estava confirmadíssimo.

Fazer um corre custa dinheiro, e às vezes custa muito dinheiro. Se eu tiver sorte, pode custar apenas R$4,40, que é o valor de uma passagem de ônibus em São Paulo - com o bilhete único, é possível fazer até quatro embarques em ônibus diferentes em um período de 3 horas. No entanto, para isso acontecer, seria necessário chegar e conseguir fechar a banda em um tempo extremamente curto. Já aconteceu?! Algumas poucas vezes.

Na maior parte das vezes, três horas é tempo insuficiente para finalizar um corre com sucesso. Então, sendo realista, provavelmente eu pagaria R$8,80 para ir e voltar. Mais o preço da foto para autografar, R$6,00, mais provavelmente um lanche no McDonald's, cerca de R$23,00. Contando por baixo, cada corre custa em média R$37,80. Esse valor pode aumentar se for necessário usar outras conduções (como trem ou metrô) ou retornar outros dias para finalizar um corre inacabado.

Não é muito para quem faz poucos corres. Para mim, que faço normalmente 15 ou 20 corres mensais, torna-se um gasto significativo no final do mês. Por isso, decidi não fazer esse corre. Eu estava guardando minha energia e, principalmente, minha grana, para os corres muito mais importantes que aconteceriam na sequência. Neste momento ainda não havia uma grande preocupação com o vírus - mas era o começo da loucura generalizada.

Se eu soubesse que aquele seria o último corre em muito tempo, eu teria ido, mesmo sem conhecer a banda direito.  Descobrir o hotel foi moleza: Ida Edlund, namorada de um dos integrantes entregou o ouro em seu perfil no Facebook. Embora somente essa foto seria o bastante para que eu identificasse corretamente, ela facilitou ainda mais  ao adicionar marcação ao hotel. Mais mole que isso, impossível.

Carlos e Jessica me chamaram para acompanha-los, mas preferi ficar em casa. Se eu soubesse que a vocalista do Lucifer, Johanna Sadonis, esposa de Nicke Andersson, veio com o marido, eu os teria acompanhado. Eles tiraram fotos lindas com ela, mas não lamentei muito, pois em breve aconteceria o corre do ano para mim: Sammy Hagar. O problema é que a partir de então foi um festival interminável de cancelamentos, que se estende até hoje. Faltava apenas uma semana, e o show foi simplesmente cancelado!!!

Beleza! Vamos ficar em casa por uma semana, e então estará tudo bem, foi o que pensei. Durante 7 dias, não saí de casa para nada. A bem da verdade, eu tinha tudo o que precisava: cigarro, comida, coca-cola, ração pros gatos... Depois desse período, foi necessário sair para fazer algumas compras. Então comecei a sair duas ou duas vezes por semana somente para o essencial: comprar ração dos gatos, fazer feira, fazer mercado.

Nos primeiros 30 dias não usei máscara. Somente comecei a usar quando isso se tornou obrigatório e os estabelecimentos passaram a exigir para permitir a entrada dos clientes. As saídas se tornaram mais frequentes e diversificadas: McDonalds, correios... Só não fazia corres pois não havia corres a fazer.

Ok, não perdi ninguém devido ao vírus. Nenhum amigo próximo, nenhum parente. Mas não importa, minha família foi dizimada poucos anos antes da pandemia, e perdi amigos próximos também antes da pandemia. Quando o coronavírus chegou, os fracos e doentes já haviam partido, não havia mais quem morrer...

Os meses foram passando... abril, maio, junho, julho, agosto, setembro... e nada da vida retornar ao normal. Então, o chef e restaurateur turco Nusret Gökçe, mais conhecido como Salt Bae, anunciou que viria ao Brasil para gravar filmes publicitários para a Marfrig. A princípio não me interessei muito, muitos amigos me alertaram sobre essa possibilidade de corre, mas não animei. Depois pensei "foda-se, é o que tem pra hoje, ao menos acabarei com essa abstinência do satanás". Eu não o conhecia, mas dane-se, eu estarei. Além do mais, pelos vídeos que ele postava, certamente seria uma figura que valeria a pena conhecer.

Entretanto, no dia das gravações, comi bola, simplesmente esqueci. Alisson foi e conseguiu uma foto bacana com ele, ambos sem máscara! Quando retornou ao hotel, Salt Bae postou uma foto e reconheci imediatamente que se tratava do Renaissance. O problema é que a vi de madrugada, e nesse dia ele seguiria ao Rio de Janeiro, onde gravaria uma live no canal do Youtube de Michel Teló. Sem problemas, eu poderia esperar pela volta. Provavelmente ele ficaria no mesmo hotel. Mas não foi o que aconteceu.

Ele foi e retornou no mesmo dia, de jato particular. No dia seguinte, visitou fazendas e açougues, passou o tempo todo ocupado. De noite, houve uma recepção no hotel Tangará. No dia seguinte, minha dúvida era: ir para o Tangará ou ir para o aeroporto? Anebelle era a única que seria doida o bastante para me acompanhar num corre varzeano desses, então, mesmo sendo doida, a convidei. Ela queria tentar no Tangará, eu no aeroporto. O Tangará sempre foi um hotel chato com fãs. Além do mais, eu estava com saudade de ir ao aeroporto. Mesmo sabendo que o voo seria apenas de noite, decidimos ir cedo.

Que cena triste, meu amigo! Próximo ao desembarque do terminal 3, onde ficava o Bob's, a área foi fechada completamente para reformas. Pelo menos isso, estão aproveitando o tempo quase ocioso para fazer reformas e melhorias. Na área de embarque, um enorme quiosque oferece testes de coronavírus, obrigatórios para chegar na maioria dos países. Como o movimento é mínimo, muitas das portas automáticas foram desativadas e bloqueadas. Mas o mais triste foi ver o quadro de voos, tanto de chegadas, como de partidas. Pouquíssimos voos. Era meio dia e o quadro de chegadas indicava mais meia dúzia de voos naquele dia. Deprimente!


Quanto ao corre, não tivemos sucesso. Esperamos até 23 hs, ele não apareceu, fomos embora. Quando estávamos chegando em casa, Anebelle viu um story dele, já dentro do avião. De alguma maneira ele passou por nós e não percebemos. Desconfio que não o reconhecemos de máscara. Anebelle ficou puta da cara, mas eu estava feliz, mesmo sem encontra-lo, pois fiz o primeiro corre em 7 meses. Enfim eu me sentia vivo novamente!