Todas as vezes que veio ao Brasil antes de 2016, Lionel Richie fez base Rio, ou seja: se hospedava no Rio de Janeiro e, quando o show era em São Paulo, vinha para a cidade poucas horas antes de entrar no palco, fazia o show, e retornava ao Rio de Janeiro. O mesmo acontecia com qualquer outra cidade: vinha, fazia o show e retornava ao Rio. Isso inviabilizava qualquer tentativa de conhece-lo pois, utilizando jato privado, descia em algum aeroporto alternativo, como Campinas ou Campo de Marte, onde o acesso seria impossível. O único de nós que já tinha foto com ele é Estéfano, pois, em ocasiões anteriores, foi ao Rio de Janeiro para assistir ao show e fazer o corre.
Desde o corre de
Olivia Newton-John, eu e Carlos acreditávamos que desta vez ele poderia até fazer base, mas sairia do país por São Paulo. Tínhamos nossos motivos, que prefiro não revelar. Ainda assim, Jéssica decidiu ir ao Rio de Janeiro para tentar conhece-lo, junto com Marcelo Zava. Conseguiram sem dificuldades.
 |
Jéssica e Lionel Richie, em frente ao Copacabana Palace, no Rio de Janeiro |
Richie veio a São Paulo de helicóptero, pousando no campo de Marte. Não tínhamos certeza se ele passaria a noite em um hotel ou se retornaria ao Rio. A ideia inicial minha e de Carlos era conseguir alguém que tivesse carro e estivesse disposto a segui-lo após o show. Como o Japonês mandou mensagem, e ele tem carro, decidimos utiliza-lo.
Eu, Sheila e Carlos nos reunimos na Galeria dos Pães, uma padaria próxima aos hotéis Fasano e Emiliano, que mais parece um shopping center, pelas inúmeras opções oferecidas e pela movimentação de clientes. Era um local estratégico, relativamente próximo ao Ginásio do Ibirapuera, onde o show aconteceu. Era melhor já estarmos na rua, prontos para agir.
Pedimos um lanche e, enquanto comíamos, discutimos a situação de Marcio. Até esse dia, ele fazia alguns corres conosco, mas tem a péssima mania de fazer broadcast, ou seja, espalhar informação. Na maioria das vezes, quem surgia com informação era eu ou Carlos. Passa-la para Marcio era o mesmo que divulgar na página do fã clube da banda ou do artista em questão. Gostamos de fazer corres com ele, é um cara legal e engraçado, mas não dava mais, então teríamos de lhe dar um ultimato: "ou você anda com a gente, ou você faz broadcast", sem meio termo.
Ele sempre negava, mas sabíamos que era mentira. Em 2011, por exemplo, eu estava a caminho do hotel onde estava o
Red Hot Chili Peppers, quando Anebelle apareceu. Ela não sabia onde a banda poderia estar, então enviei uma mensagem para Marcio, dizendo "a banda está no hotel tal, NÃO passe para Anebelle". Não se passou nem 20 segundos e Anebelle disse que descobriu o hotel. Perguntei como, e ela me mostrou a mensagem que Marcio enviou. Não foi o único exemplo, aconteceu em várias outras ocasiões.
Marcio sempre municiou com a nossa informação os que não sabem fazer corre, ou os que são vagabundos o bastante para ficar em casa esperando pela informação mastigada. Estava na hora disso acabar, não era mais possível confiar nem passar informações para ele, mas ainda oferecemos a chance de escolha. Como continuou negando que fazia broadcast, mesmo diante de todas as evidências, desse dia em diante nunca voltamos a fazer corres com ele. Continuamos amigos, conversamos sempre que nos encontramos, mas informação nossa ele não tem mais.
Fomos interrompidos por uma mensagem de Jéssica, que nos informou o hotel correto. Com essa informação, começamos a discutir se deveríamos ou não avisar o Japonês, quando Sheila nos passou a maior lição de moral: "agora que vocês não precisam mais dele, não vão avisa-lo?! Vão sim!". Meio a contragosto, avisamos...
Após o show, estávamos em frente ao hotel quando um carro suspeito chegou. Dele, desceu um assessor gringo, que perguntou se alguém falava inglês. Sheila se ofereceu e iniciamos uma conversa, onde ele tentou orientar sobre como deveria ser nossa abordagem. Pediu, entre outra coisas, para ninguém gritar ou fazer escândalo, por exemplo. Até parece, isso é coisa da Anebelle e dos
hunters do bem, mas felizmente não havia sinal deles naquela noite.
Vi quando Lionel desceu do carro e entrou calmamente no hotel, sem ser incomodado. Acreditei que os outros o chamariam, não o chamei para não ser indelicado com o assessor. Éramos 6 pessoas no local e eu e Sheila estávamos ocupados. As outras quatro, ao invés de prestar atenção no carro, tentaram ouvir a conversa e nem perceberam o que aconteceu. Era o fim do corre para Sheila. No dia seguinte, eu, Carlos e Japonês tentaríamos novamente, mas ela não poderia, pois estaria trabalhando.
Como sabíamos que Zava tentaria mais uma vez no hotel, e que outras pessoas também sabiam onde ele estava (havia dois aleatórios no dia anterior, lembra?!) e poderiam disseminar a informação, preferimos tentar no aeroporto. A estratégia deu certo: éramos os únicos. O problema é que aquela foi uma tarde um tanto chuvosa, o que causou o fechamento temporário, com atrasos de pousos e decolagens. Quando Lionel saiu do hotel, fomos informados por Zava que ele atendeu a todos.
Quando o carro chegou, ele demorou mais de meia hora para descer. Nós esperávamos calmamente, mas admito que é difícil, pois não havíamos entendido ainda o motivo de tanta demora. Uma das mulheres da produção que estava com ele é minha amiga, ela veio conversar conosco e disse que, devido ao atraso, a companhia atrasou o horário de check-in, e que estava aguardando abrir, para que pudesse fazer os trâmites, enquanto ele seguiria diretamente para o portão de embarque.
Quando ele desceu, estava falando ao celular. À distância, Carlos mostrou os discos, e ele comentou "preciso desligar para falar com meus fãs". No maior bom humor, olhou para Carlos e disse algo como "é claro que vou assinar, você já me deu muito dinheiro", referência à quantidade de álbuns que ele carregava. Após assinar todos, era o momento das fotos. A produção estava tão de boa com a gente que, neste momento, era apenas nós e ele, todos já haviam entrado para fazer os trâmites.
 |
Hello! |
Anebelle, hunters do bem, e seja lá mais quem quisesse uma foto com ele, felizmente todos acreditaram que ele sempre fez base Rio, e nem ao menos saíram de casa, simplesmente assumiram que seria impossível tentar. Eu e Carlos calculamos todas as variantes, descobrindo a brecha que tornou possível conhece-lo. Todos perderam, nós vencemos! Isso exigia algum tipo de comemoração, então instituímos que sempre que conseguíssemos uma foto difícil, comemoraríamos com Stella Artois. Como não bebo, e não havia ninguém para tirar a foto, fiquei o responsável por fazer a selfie.

Essa imagem caiu como uma bomba atômica no universo dos hunters. A informação de que havíamos conseguido logo se espalhou. Anebelle ligou chorando para Estéfano, perguntando porque ele havia mentido sobre a base Rio, mas nem mesmo ele sabia que desta vez seria diferente. Jonas mandou textão para o japonês, dizendo que queria muito essa foto, que ele sempre o ajudava, e que esperava mais dele, pois não foi ajudado. Diferentemente de Marcio, entretanto, Japonês não usa a informação dos outros para fazer broadcast.
Esse, enfim, foi o corre que separou os homens dos meninos, os hunters dos pedidores de hotel. Anos se passaram e ainda há lamentos e comentários sobre o que aconteceu. Grande dia! 👍