domingo, 27 de março de 2011

Iron Maiden - Rio de Janeiro

Quando desembarquei no Rio, dois amigos estavam à minha espera. Mais um táxi, rumo ao Intercontinental, hotel onde o Iron Maiden estava hospedado - e eu também. 

Por estar no mesmo hotel que a banda, tenho uma filosofia: só saio para o show após a banda sair. É sempre uma chance de vê-la novamente, e de acompanhar como isso acontece. O Maiden não costuma sair pela garagem ou por saídas especiais, especialmente quando sai para o show, pois a maioria dos fãs já está aguardando no local do evento. Até acontece, mas geralmente é pela porta da frente mesmo.

Também não faço questão de chegar cedo para disputar os melhores lugares na pista VIP. Com quase 20 anos, em 1992, fui um dia antes para a fila do show no Palestra Itália, em São Paulo. Foram 23 horas de espera, sem dormir, que me garantiram apenas um lugar intermediário. Explico: embora a fila estivesse pequena e organizada quando cheguei, na abertura dos portões estava uma confusão generalizada. A minha namorada na época escorregou e foi ao chão na abertura dos portões, levou alguns pisões, e deste modo perdemos os lugares mais próximos ao palco, apesar de todo esforço adicional para garantir a proximidade.

Quatro anos mais tarde, no Pacaembu, eu estava bem próximo ao palco. Não é fácil. Aliás, não é muito agradável assistir a um show assim. Grade é para os fortes, pois o empurra-empurra come solto, as encoxadas são inevitáveis, e ondas que não se sabe como ou de onde surgem te empurram de um lado para outro, sendo absolutamente impossível ficar de pé em muitos momentos. Você é simplesmente arrastado para cá e para lá, sem ter controle nenhum da situação. Então com quase 40 anos, deixava isso para a molecada.

Meu ingresso era para cadeira nível 3 e, para mim, estava ótimo - até porque pago inteira, e haja grana para pista VIP para 6 shows. Naquele dia, foi o que aconteceu: a banda saiu, eu saí. Tomei um táxi e, após quase meia hora, cheguei ao tal HSBC Arena. Mas algo parecia muito errado. Apesar do local não ser tão grande, a fila estava gigantesca. Em um primeiro momento lembrava a do show de São Paulo de 2009, no autódromo de Interlagos, que dizem ter atingido 4 quilômetros de extensão. Evidentemente o espaço não comportava 1/5 de gente que o autódromo, mas é fato que estava tão difícil de ver o fim da fila quanto. O pior: estava parada. Mais de 40 minutos se passaram e ninguém andou um centímetro sequer.

Atravessei a avenida e entrei numa churrascaria, pois ainda não havia comido nada desde que cheguei ao Rio. Os garçons me alertaram que, pelo horário, eu perderia o show, mas estava acompanhando a fila, que continuava parada. Comi sossegado e resolvi encarar o fim da fila. Ouvi relatos de que aconteceram alguns roubos de celulares. Indivíduos disfarçados de fãs, vestidos com camiseta do Iron Maiden para não chamar atenção, se aproximavam das vítimas, as abraçavam como se as conhecessem, e encostavam a arma, levando o celular.

Sem aviso, a fila começou a andar. Não naqueles passos de tartaruga que todos que vamos em show já estamos acostumados. Como o atraso era considerável, liberaram a entrada: nada de revista, nada de apresentar carteirinha de estudante (quando aplicável), nada de nada. Simplesmente abriram e deixaram a galera entrar. Então, em 5 minutos, a fila gigantesca desapareceu. Se o maluco que entrou atirando em crianças em uma escola carioca dez dias depois estivesse lá, poderia ter atirado tranquilamente em quem quisesse.

Chegar de última hora e ser um dos últimos da fila certamente tem seus inconvenientes: os lugares com melhor visão do espetáculo já estavam abarrotados. Reparei que as laterais estavam vazias, e resolvi me posicionar ali, à direita do palco. Se fosse meu primeiro show do Iron Maiden, talvez eu estivesse decepcionado, mas como era o décimo primeiro, eu estava animado por poder assistir ao meu primeiro show da banda em local fechado e, em um ângulo onde teria visão completa de tudo que acontecia no backstage. Finalmente eu veria com meus próprios olhos como fazem para operar o walking Eddie, por exemplo.

O show começou com "Doctor Doctor", como já era padrão, e a galera ainda estava morna, mas quando os telões acenderam e Sattelite 15 começou, a loucura veio abaixo. Em Final Frontier, quando a banda entrou no palco, logo nos primeiros acordes já se percebia que a grade, supostamente de segurança, que separa a área VIP do palco, viria abaixo. E veio. Enquanto a segurança tentava controlar a situação, a banda continuou a tocar, sem Bruce e indefinidamente. Isso foi legal, pois provou o que todos já sabiam: o Iron Maiden não usa playback. Se usasse, a música continuaria normalmente mesmo em uma situação que estava fugindo do controle. 

Naquele momento eu já sabia: o show seria cancelado. Bruce ficou realmente preocupado. Geralmente, ao perceber que alguns fãs estão espremidos na grade, ele pede a todos para recuar um passo, o que costuma resolver. Desta vez ele pedia que todos recuassem não um, mas dez passos. Ele tentava controlar a situação, enquanto os demais músicos faziam o melhor que podiam para estender a música até onde nem eles mesmos sabiam. Fizeram o que puderam, até que decidiram finalizar. E não, desta vez não houve a sequência com "El Dorado".

A banda saiu do palco e, após algum tempo, Bruce retornou, acompanhado de Fabiana, a tour manager brasileira. Utilizando-a como intérprete, anunciou que o show seria paralisado por 10 minutos, até que a barreira fosse consertada. Os seguranças faziam o melhor que podiam, mas a galera não colaborava: ninguém deu um passo sequer para trás, enquanto alguns fãs tentavam invadir o palco.

Rod Smallwood entrou em cena para tentar acalmar os ânimos, mas não havia como continuar. Quando o prazo se esgotou, Bruce retornou com Fabiana, que anunciou que o cancelamento, agendando um novo show para o dia seguinte. Tenso, mas não havia alternativas. Muitas pessoas não teriam como retornar. Pior, gastaram dinheiro com deslocamento (de outras cidades, estados, às vezes até países), hospedagem, alimentação, ingresso, e perderam ali a chance de assistir o show.

Mais tarde, no hotel, integrantes da equipe da banda me contaram que Steve já estava com receio de realizar o show, já que mais cedo parte do teto havia cedido e caiu na área do backstage. Talvez isso explique porque a abertura dos portões de acesso foi adiada até o último momento. Quando a grade cedeu, realmente não havia como continuar.

Isso estragou meus planos. Sou avesso a confusões e multidão. Vou porque amo Iron Maiden, mas geralmente sacrifico uma ou duas músicas do bis, saio do local apressadamente, tomo o primeiro taxi que aparecer, e volto para o hotel, antes que a muvuca da saída do show seja estabelecida. Porém, naquele dia, não teve como fazer isso. Com o término antecipado, praticamente não haviam taxis disponíveis. Os ônibus e vans estavam absolutamente lotados. Era uma época sem 99, Uber, Cabify...

De repente, me vi sozinho em uma cidade onde não conheço muita coisa (na região do HSBC Arena, então, não conheço nada) e tudo o que ouço dizer tem a ver com tráfico, arrastão, sequestro, homicídio, falsa blitz, tiroteio e por aí vai. É uma cidade bacana sim, tenho grandes amigos por lá, mas é fato que é repleta de problemas sociais. Em São Paulo eu me garanto, mas no Rio sou “estranho em uma terra estranha”. O tempo passava e houve momentos em que achei que passaria a noite inteira lá. Nenhum sinal de táxi, e os ônibus todos lotados. Algum tempo depois, passou uma van, que se propôs a me deixar no Barra Shopping, onde certamente eu pegaria um táxi. E foi o que aconteceu.

Já no hotel, encontrei Adrian Smith saindo do elevador. Apenas o cumprimentei, tomei o mesmo elevador, e segui para meu quarto, afinal estava "desarmado", sem câmera ou material para autografar. Desanimado com o que aconteceu, desci para o bar, onde uma amiga estava me esperando. Mas o ânimo geral não era dos melhores. Steve e Dave passaram por lá, com cara de velório. Eu nem fiz menção de aborda-los. Saíram em direção à praia acompanhados dos dois seguranças oficiais da banda, Peter e Jeffrey. Mais tarde fiquei sabendo que visitaram uma das barracas da orla, provavelmente para comer alguma coisa.

Michael Kenney passou por mim. Eu o chamei e pedi que autografasse duas fotos que levei: uma que ele havia tirado comigo em Manaus, dois anos antes, e outra, um pôster de 20X30, que arrumei no Google Images, dele atrás de seus teclados. Com essa ele se impressionou: "Uau! É a segunda vez na minha carreira que alguém me traz essa foto. Essa eu autografarei com prazer!". Agradeci os autógrafos e pediria uma foto, mas ele foi chamado alguém da equipe, então deixei para outra oportunidade.


Foi então que Nicko, o único animado, chegou. Realmente animado, aliás. O bar estava vazio, com no máximo cinco fãs. Três deles o abordaram e ele atendeu de boa. Já que estava receptivo, eu e minha amiga levantamos para falar com ele também, mas ele pediu para ficar onde estávamos, pois pegaria outra cerveja e nos atenderia a seguir.

Continuamos sentados, eu de costas para ele, e o que aconteceu a seguir foi surreal até mesmo para mim. De repente, uma mão colocou uma cerveja em nossa mesa. Era Nicko, que perguntou se podia se sentar conosco. Mas é claro que sim! Não sei se me reconheceu da última turnê no Brasil, acho muito difícil, mas ele perguntou a quantos shows eu iria "desta vez", e eu respondi que estava acompanhando a parte brasileira da turnê, nos seis estados.

Comentei que lamentava não estar com a camiseta que comprei no FresH20, um site filantrópico que vende objetos autografados por celebridades, entre eles McBrain, para reverter o dinheiro em melhorias para países africanos. Nicko então se chateou. Disse que acreditou na honestidade do site, mas que a grana foi desviada, e que não chegou à Etiópia, como ele havia recomendado. Disse que estava muito desapontado. Respondi que se ele fizesse mais ações como essa, eu contribuiria novamente. Afinal, ele era meu herói há quase 30 anos e nada mais justo e honesto de minha parte do que ajudá-lo da maneira que puder. Ele sorriu e me convidou para tirarmos uma foto.


Não tenho o costume de sorrir na hora da foto, mas desta vez fui repreendido: "você precisa aprender a sorrir". Ainda assim fiz cara de mau, ou de bunda, se preferir, e a foto saiu incrível. Nicko abraçado comigo, com o sorriso mais verdadeiro que já vi na vida. A seguir, autografou o que eu havia trazido: uma foto dele comigo, tirada em 2009, uma foto dele, e o vinil americano "The Final Frontier". Então, pediu licença para buscar mais uma cerveja.


Como eu estava com o notebook, aproveitei para postar fotos do momento em meu perfil no Orkut. Nicko se aproximou e perguntou o que eu estava fazendo. Meio com receio dele não gostar por eu já estar postando a foto em uma rede social, expliquei o que era o Orkut, que é "igual ao Facebook", mas amplamente difundido no Brasil, e bla bla bla... Ele se interessou e mostrei algumas fotos minhas com outros músicos que ele conhece bem, tais como o Vinny Appice e Mike Portnoy. Ele, mais uma vez, disse que preciso sorrir nas fotos.

Eu disse que a única foto que tinha sorrindo, até então, era com Lauren Harris. Nicko fez uma cara de espanto e disparou: "xiiii, cara! O Steve vai te matar!". Em seguida Janick apareceu e Nicko se uniu a ele. Abraçados, cantaram músicas nórdicas, enquanto o crew da banda dava risada. Eu nem abordei o Gers, afinal já havia conseguido a foto e o autógrafo em São Paulo, e por mim estava bom demais. Grande dia, ainda mais se considerar que eu estava vindo de um show cancelado.

No dia seguinte resolvi me dar folga. Esse negócio de turnê é meio cansativo. Você dorme tarde e acorda cedo, sempre na expectativa de conseguir alguma coisa. Claro, se eu já tivesse "fechado a banda" estaria sossegado, mas é difícil sossegar quando só se tem fotos com dois integrantes. Passei o dia no quarto e dormi boa parte dele, especialmente de tarde.

Acordei por volta das 20:00 hs e tive que tomar uma decisão difícil: ir ou não ir ao show. No dia anterior deu tanta coisa errada (fila, atraso, assaltos, cancela-mento, teto caindo) então eu estava receoso que tudo desse errado novamente. Não queria de jeito nenhum correr o risco de passar por aquilo novamente. É como entrar em um ônibus com uma nota de 100 reais - você não conseguirá pagar a passagem, mesmo tendo dinheiro. De que adiantava eu poder pagar o taxi, se não havia taxi para me trazer?! No fim, com muito pesar, abri mão do show do Rio de Janeiro, e fui ao bar para aguardar o retorno da banda.

Naquela noite, somente o Nicko apareceu. Quando me cumprimentou, aproveitei para pedir autógrafo no DVD Rythms of the Beast, uma vídeo-aula de bateria que ele havia relançado há pouco tempo. A partir de então, acontecesse o que acontecesse, eu não incomodaria mais o Nicko, como também não incomodaria o Gers. Faltavam os outros quatro. Para finalizar a noite, saí do hotel para fumar um cigarro, e deixei dois amigos tomando conta das minhas coisas. Quando voltei, estava tudo autografado pelo Janick, que havia passado lá, e autografou tudo sem que eles ao menos pedissem - inclusive o plástico do Rythms of the Beast onde ele, obviamente, não tocou. Não entendi nada, mas beleza...


Após o café, Michael Kenney foi abordado por uma galera, e vi ali minha chance de conseguir a foto que não conseguira dois dias antes. Mas, infelizmente, ele piscou, e não ficou tão boa. Fazer o que?! Acontece... Ainda acompanhei a saída da equipe, antes de fazer o check-out. Chamei um táxi que me levou ao aeroporto, a caminho de Brasília.



sexta-feira, 25 de março de 2011

Iron Maiden - São Paulo

Enfim, o Iron Maiden retornou ao Brasil, desta vez com shows em seis cidades. Meses antes, Ricardo Pacheco enviou-me um e-mail revelando quais seriam os hotéis de todas as cidades e também os vôos que ele reservou, o que me possibilitou reserva-los também. Por dois anos usei apenas o salário para sobreviver, pagar as contas e me divertir. Todo dinheiro extra, como o décimo terceiro ou os 30% adicionais das férias, foi depositado em uma conta poupança, criada para custear os shows, hotéis e passagens, que eu sabia que não seriam baratos. Também acumulei horas extras para reforçar o banco de horas, de forma que eu pudesse me afastar do serviço pelo tempo que fosse necessário. Nesse período, Sheila decidiu ir para os Estados Unidos nas férias, mas não a acompanhei porque era isso ou o Maiden. 

A ideia era ir em todas as cidades no Brasil + Buenos Aires + Santiago. No entanto, eu não tinha tanto dinheiro, então tive que optar entre São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Buenos Aires e Santiago, abrindo mão de Brasília, Belém e Recife, ou ir em todas as cidades nacionais, e esquecer as gringas. Já que os shows eram os mesmos, o critério foi o número de cidades, já que assistiria um show a mais se ficasse restrito ao Brasil.

O planejamento foi longo e detalhado, já que incluía diversas cidades, ingressos, hotéis e vôos – mas ainda assim houve erros, que serão comentados no decorrer deste relato. O custo inicial “da brincadeira” foi cerca de R$6.328,78, assim dividido: R$1052,18 (ingressos), R$4.276,60 (hotéis), e cerca de R$1.000,00 (passagens). Houve vôos que considerei caros, como o de Brasília para Belém, que custou R$335,64, enquanto outros foram extremamente baratos. O voo de Recife para Curitiba custou apenas R$19,62, pois usei milhas e paguei apenas a taxa de embarque. Infelizmente não mantive registros com o custo exato de cada voo mas lembro que o último, de Curitiba para São Paulo, pela Webjet, custou R$32,00. Quanto aos ingressos, optei sempre por comprar os mais baratos, o que significa que assisti a todos os shows de lugares ruins – para ver a banda de perto, eu veria nos hotéis. Há, é claro, outros custos, como transporte local e alimentação, mas esses não faziam parte dos custos pré-turnê.

Eu e Ricardo não éramos os únicos a seguir a banda regularmente. Vários amigos faziam isso, e muitos continuam a fazer até hoje. Em um e-mail, Ricardo mandou a “lista atualizada”. Um dos que receberam a mensagem respondeu: “Pacheco, você vai levar essa lista em todos os shows e fazer a chamada?”. De qualquer forma, a lista está incompleta, faltam nomes como Julio, Arthur e Eric.


Ingressos


Hotéis


Vôos


Retornando ao que interessa, assim que chegamos ao Hilton, eu e Sheila percebemos a aproximação da van do Cavalera Conspiracy, e aproveitamos para tirar uma foto com o Max, que era o único ocupante do veículo. Sempre ouvi falar que ele se recusa a assinar álbuns do Sepultura, mas Kevin insistiu um pouco e ele acabou assinando. Na ocasião eu não estava com nada pra ele que ele assinasse.

Max Cavalera
Quando entrei no hotel, já pressenti a desgraça, pois havia muito mais fãs hospedados do que fora do hotel. Pior ainda, a maioria que se hospedou o fez com dois hóspedes e um convidado – na prática, dividem a conta em três, para ficar barato para todos. Se fosse um quarto fazendo isso, não haveria problemas, mas eram dezenas.

Fomos ao andar exclusivo (aquele em que a banda toma café da manhã e faz cofee-break, lembra?), que estava tomado por fãs. Quando Bruce apareceu, até tentou atender, mas eram muitos e definitivamente não sabiam se comportar, então assinou alguns itens aleatórios, mas logo desistiu e foi embora.

De noite foi ainda pior. O Canvas (bar do primeiro andar) estava tomado pelas mesmas dezenas de fãs. A porta do elevador se abriu e então surgiu Steve Harris. Um fã exibiu a caneta de autógrafo, deixando bem clara sua intenção. Steve teve a infeliz idéia de sinalizar que o atenderia. Foi o que bastou para que fosse imediatamente cercado, em todas as direções, por cerca de 80 fãs. Ele atendeu a todos. Mas de boa? Fiquei com pena dele! Os infelizes nem ao menos se organizaram ou formaram uma fila para que tudo acontecesse de maneira calma e civilizada. Steve é um cara bacana, já o vi atender todo mundo diversas vezes - mas ali estava ele cercado por um monte de gente, cada um querendo ser o próximo a ser atendido a qualquer custo. Quando atendia o da direita, o da esquerda o cutucava - e vice-versa. Fiquei com vergonha alheia total e nem cheguei perto. Lógico que queria mais uma foto com ele, mas não assim.

No dia seguinte, fui tomar café e, estranhamente, não havia outros fãs no andar exclusivo. Por outro lado, Janick Gers estava lá. Peguei o celular e liguei para Sheila, com uma mensagem curta e grossa: "sobe aqui agora". Também mandei uma mensagem para uma amiga que estava hospedada, Mariana, que anos antes havia me pedido para ajuda-la a conhecer o Gers, pois ele é "o amor de sua vida". Disse apenas "Janick está no bar. Não avisa ninguém e vem".

Hospedada com duas amigas, eu sabia que viriam as três, mas cinco pessoas não são suficientes para assusta-lo. Ela chegou tremendo muito - assim como eu tremi quando vi Steve pela primeira vez. Desabou no choro também. Eu disse "enxuga as lágrimas e vamos trabalhar". Janick havia finalizado a refeição e agora estava sentado no parapeito da janela, tirando fotos da vista com seu iPhone.

Mariana estava louca para aborda-lo, mas eu a segurei: "o cara sabe que estamos aqui, sabe o que queremos. Se ele quiser, nos atenderá". Eu havia revelado a foto que tirei com ele em 2008, então a peguei e simplesmente deixei em cima da mesa. Janick se levantou, desta vez falando ao celular e passou por nós. Olhou para a foto e deu uma risadinha.

Mais uma vez, Mariana quis aborda-lo, e mais uma vez eu impedi: "Porra, se liga, o cara está no celular, deixe-o conversar em paz". E ela toda tensa: "Mas e se ele for embora?". "Significa que ele não quer nos atender, oras. É direito dele! Não é porque estamos aqui que ele tem obrigação de tirar uma foto com a gente".

Mais de meia hora se passou e ele ali, conversando. Mariana não tirava os olhos, mas eu nem prestava mais atenção. De repente, uma mão pegou minha caneta e começou a autografar tudo. Aconteceu tudo exatamente da forma que eu disse. Ele percebeu que respeitamos o seu momento ao celular e enquanto tirava fotos na janela, e simplesmente veio nos atender. Simples. Todos conseguimos fotos e autógrafos sem nem ao menos aborda-lo. Sensacional! Depois eu soube que Janick saiu do hotel, atendeu os fãs, e caminhou até um bar nas proximidades. Me chamaram para ir lá, mas eu não iria incomoda-lo novamente.


Quando estava anoitecendo, Sheila e eu estávamos no andar exclusivo, quando Bruce apareceu e sentou-se em uma mesa mais escondida, para comer alguma coisa. Decidimos esperar que finalizasse a refeição para aborda-lo. Foi então que tudo deu errado: Jonas e o Mestre, que também estavam hospedados, apareceram, e perceberam o que estava acontecendo.

Um outro fã aleatório, ainda pior que eles, também apareceu e, quando viu que Bruce estava ali, ficou de pé próximo à mesa do vocalista, sinalizando todo o tempo, indicando querer um autógrafo. Mau humorado, e com razão, Bruce também sinalizava e chegou a adverti-lo verbalmente, deixando bem claro que não o atenderia.

Ele, entretanto, insistia em ficar cercando o cara. "Falamos um monte", pedindo para que se comportasse, explicando que essa atitude iria atrapalhar a todos, mas ele estava irredutível em sua missão de ser o chato do dia – nem Kevin conseguiria ser pior. Disse que teria que conseguir rápido, já que combinou buscar sua tia para leva-la ao show (porra, ou você quer levar sua tia, ou você quer autógrafo do Bruce. Ou um ou outro, cacete!).

Até que chegou um momento em que ele foi até a mesa do Bruce, que reagiu de forma muito irritada, mas "autografou" o "Seventh Son of a Seventh Son". Na verdade, foi um rabisco, e muito do mal feito. O pentelho saiu comemorando. Bruce, por sua vez, levantou-se para sair de lá. Já estava perdido, mas o que é ruim sempre pode piorar: Jonas correu até ele e o Mestre o seguiu, mas levando chocolate nas mãos, para oferecer ao vocalista. A essa altura, um segurança havia chegado e ficou indignado:

- O que é isso?! Você acha que está em um zoológico oferecendo comida aos bichos?

Ele, então, retirou Bruce do local que, é claro, saiu sem atender ninguém. 

Fomos ao show, voltamos e fomos ao Canvas. Kevin, é claro, tinha uma ideia chata em mente. Disse que se hospedou em 2009 e que, em todas as noites, Bruce escolheu uma poltrona em um canto específico do bar para se sentar. Continuou dizendo que se sentaria ali e que, se Bruce quisesse o lugar, teria que atendê-lo. Quando Bruce apareceu, ele olhou para Kevin, sentado em “sua poltrona” e fez um comentário com algum integrante da equipe. Por um longo tempo, ele olhava, cada vez mais irritado, e comentava mais alguma coisa. Por fim desistiu, e subiu sem atender ninguém. Consegui fotos com Marc Rizzo e Johny Chow, do Cavalera Conspiracy, mas nem sinal do Igor Cavalera.

Marc Rizzo, guitarrista do Cavalera Conspiracy
Johny Chow, baixista do Cavalera Conspiracy
De manhã, Sheila tomou o elevador que subia, rumo ao café da manhã. Eu chamei o que descia, pois queria fumar um cigarro antes de comer. Quando o elevador chegou, surpresa: dentro, apenas Bruce Dickinson, mais ninguém. Quando me viu entrar, cabeludo e com camisa do Iron Maiden, ele provavelmente se assustou. Mas assim como fui ignorado na noite anterior, eu também não dei a mínima para a presença dele. Dei-lhe as costas, apertei o térreo, e descemos alguns andares juntos. Fumei, subi e tomei café. 

Pouco antes de fazer o check-out, Kevin me disse que Jonas aprontou novamente. No mesmo andar de Nicko McBrain, ele descobriu qual era o quarto do baterista. Próximo ao elevador, havia um puff. Jonas o levou até a porta do quarto de Nicko, sentou e ficou esperando  pela saída dele. Seu plano imbecil, entretanto, foi frustrado por Peter Lokrantz (o segurança com cara de vicking, lembra?), que chegou para buscar Nicko. Ele expulsou Jonas aos berros.

Tomei um táxi para Congonhas – sozinho, já que a Sheila não estava de férias e não poderia me acompanhar na maioria das cidades.

Aquela foi a última vez do Iron Maiden no Hilton em São Paulo, e compreendo bem o porquê. O que vi durante esses dias não foi coisa de fãs, mas de mimadinhos sem a menor compreensão do que seja civilidade. Antes de qualquer foto ou autógrafo, vem o respeito por esses senhores que há décadas espalham o melhor do metal por todo o planeta. 



sexta-feira, 18 de março de 2011

Girlschool


O Girlschool veio ao Brasil para apresentação única no Festival Rock Feminino, em Rio Claro. Como o desembarque obviamente aconteceu em Guarulhos que, na prática, é o aeroporto internacional de São Paulo, a loja London Calling aproveitou a passagem delas pela cidade para realizar uma sessão de autógrafos. Eu poderia ter esperado pela banda no aeroporto, ou até ter tentado descobrir algum possível hotel em São Paulo, onde provavelmente a banda permaneceu, mas optei pelo mais fácil e fui ao evento.


Falando de forma geral - não exclusivamente sobre a London Calling – o problema de sessões de autógrafos com bandas é exatamente o que é retratado na imagem: dificilmente rola foto boa. Geralmente é uma única foto, com você separado fisicamente da banda pelo balcão. Sempre há imposições como, por exemplo, limite no número de itens que você pode levar para ser autografados. Mesmo que você leve mais, e a banda esteja disposta a autografar tudo, ainda assim haverá alguém "da produção" para tentar impedir e também para apressar - mesmo se o evento estiver vazio. Então, se você desejar uma foto a mais – mesmo que para corrigir uma que não saiu boa - um autógrafo extra ou falar algo com o artista, problema seu.

Nunca esqueça de levar sua própria caneta: provavelmente só haverão canetas pretas, então não espere um bom resultado quando o item a autografar for escuro. Por fim, os eventos são realizados sempre de tarde, em dia de semana. Por sorte, onde eu trabalhava me permitia utilizar as horas acumuladas no banco de horas como quisesse.


A propósito, que coroa simpática e sexy é a guitarrista Jax Chambers. Deu vontade de levar para casa. Acho que só não fiz isso porque era casado. Só sosseguei quando consegui uma foto extra com ela - para protestos da produção, que logo me expulsou do lugar 😆




sábado, 12 de março de 2011

Tarja

A ex vocalista do Nightwish, Tarja Turunen, se apresentou em São Paulo. Embora fosse uma foto interessante, eu estava mais interessado em conhecer o baterista, Mike Terrana. A banda estava hospedada no Blue Tree Berrini (que posteriormente passou a ser Prodigy e, em nova mudança de nome, Transamerica). Conforme os músicos deixavam o hotel e entravam na van que os levaria ao show, ignorei a todos, mantendo o foco em Terrana. Quando ele saiu, Jonas o abordou.

Eu tirei a foto dele, mas na minha vez, um segurança da produtora impediu. Já estávamos posando, mas Jonas se enrolou com a câmera, então o segurança disse que estavam atrasados e praticamente arrastou Terrana para a van. Durante muito tempo fiquei puto com esse cara. Não precisava daquilo, apenas mais 3 segundos e a foto rolaria. No entanto, o reencontrei em diversas oportunidades depois disso e ele sempre foi legal. Acho que estava em um dia ruim, sei lá.

Tarja não saiu com a banda. Talvez tivesse ido antes ao local do show. De qualquer modo, fiquei inconformado que um corre aparentemente tão fácil teria que durar bem mais que o esperado, então decidi me hospedar, já que seria necessário esperar pela banda após o show. Mais tarde, Sheila chegou para passar a noite comigo no hotel.

Após o término do show, muitos fãs apareceram e estavam esperando pela banda na porta do hotel. Eu estava hospedado e poderia aguardar dentro, mas havia muitos amigos e conhecidos fora, então fiquei ali, conversando com eles e fumando.

Quando a van chegou, houve um esquema especial. Não vi nada parecido nem mesmo com artistas muito maiores, como Paul McCartney ou Iron Maiden. O motorista praticamente colou a van na porta, impedindo que os fãs tivessem acesso aos músicos. Sobraram pequenos espaços laterais, que foram preenchidos por seguranças do hotel. Eles não permitiram a entrada de ninguém, nem mesmo de quem estava hospedado. A van permaneceu ali por alguns minutos, até que Tarja tomasse o elevador, após atender poucos fãs dentro do hotel. Quando consegui entrar, todos já haviam subido.

Já era duas e meia da manhã e eu estava cansado, então decidi subir para dormir um pouco. Imaginei que nada aconteceria antes das sete horas, então configurei um alarme para acordar nesse horário. Kevin que, como eu, não conseguiu nada, passou a noite na frente do hotel, já que não estava hospedado desta vez.

Quando acordei, tomei banho, me vesti e desci. Estava tudo quieto demais. Nenhum fã aguardava pela banda. Então, verifiquei o celular, que estava repleto de mensagens e chamadas não atendidas. A banda saiu as 05:30hs e Kevin tentou me avisar, mas não conseguiu, porque meu celular estava no silencioso. Ele entrou e pediu para um funcionário da recepção ligar no meu quarto, mas ele se recusou devido ao horário. Infelizmente, este corre foi apenas perda de tempo e dinheiro.