sexta-feira, 25 de março de 2011

Iron Maiden - São Paulo

Enfim, o Iron Maiden retornou ao Brasil, desta vez com shows em seis cidades. Meses antes, Ricardo Pacheco enviou-me um e-mail revelando quais seriam os hotéis de todas as cidades e também os vôos que ele reservou, o que me possibilitou reserva-los também. Por dois anos usei apenas o salário para sobreviver, pagar as contas e me divertir. Todo dinheiro extra, como o décimo terceiro ou os 30% adicionais das férias, foi depositado em uma conta poupança, criada para custear os shows, hotéis e passagens, que eu sabia que não seriam baratos. Também acumulei horas extras para reforçar o banco de horas, de forma que eu pudesse me afastar do serviço pelo tempo que fosse necessário. Nesse período, Sheila decidiu ir para os Estados Unidos nas férias, mas não a acompanhei porque era isso ou o Maiden. 

A ideia era ir em todas as cidades no Brasil + Buenos Aires + Santiago. No entanto, eu não tinha tanto dinheiro, então tive que optar entre São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Buenos Aires e Santiago, abrindo mão de Brasília, Belém e Recife, ou ir em todas as cidades nacionais, e esquecer as gringas. Já que os shows eram os mesmos, o critério foi o número de cidades, já que assistiria um show a mais se ficasse restrito ao Brasil.

O planejamento foi longo e detalhado, já que incluía diversas cidades, ingressos, hotéis e vôos – mas ainda assim houve erros, que serão comentados no decorrer deste relato. O custo inicial “da brincadeira” foi cerca de R$6.328,78, assim dividido: R$1052,18 (ingressos), R$4.276,60 (hotéis), e cerca de R$1.000,00 (passagens). Houve vôos que considerei caros, como o de Brasília para Belém, que custou R$335,64, enquanto outros foram extremamente baratos. O voo de Recife para Curitiba custou apenas R$19,62, pois usei milhas e paguei apenas a taxa de embarque. Infelizmente não mantive registros com o custo exato de cada voo mas lembro que o último, de Curitiba para São Paulo, pela Webjet, custou R$32,00. Quanto aos ingressos, optei sempre por comprar os mais baratos, o que significa que assisti a todos os shows de lugares ruins – para ver a banda de perto, eu veria nos hotéis. Há, é claro, outros custos, como transporte local e alimentação, mas esses não faziam parte dos custos pré-turnê.

Eu e Ricardo não éramos os únicos a seguir a banda regularmente. Vários amigos faziam isso, e muitos continuam a fazer até hoje. Em um e-mail, Ricardo mandou a “lista atualizada”. Um dos que receberam a mensagem respondeu: “Pacheco, você vai levar essa lista em todos os shows e fazer a chamada?”. De qualquer forma, a lista está incompleta, faltam nomes como Julio, Arthur e Eric.


Ingressos


Hotéis


Vôos


Retornando ao que interessa, assim que chegamos ao Hilton, eu e Sheila percebemos a aproximação da van do Cavalera Conspiracy, e aproveitamos para tirar uma foto com o Max, que era o único ocupante do veículo. Sempre ouvi falar que ele se recusa a assinar álbuns do Sepultura, mas Kevin insistiu um pouco e ele acabou assinando. Na ocasião eu não estava com nada pra ele que ele assinasse.

Max Cavalera
Quando entrei no hotel, já pressenti a desgraça, pois havia muito mais fãs hospedados do que fora do hotel. Pior ainda, a maioria que se hospedou o fez com dois hóspedes e um convidado – na prática, dividem a conta em três, para ficar barato para todos. Se fosse um quarto fazendo isso, não haveria problemas, mas eram dezenas.

Fomos ao andar exclusivo (aquele em que a banda toma café da manhã e faz cofee-break, lembra?), que estava tomado por fãs. Quando Bruce apareceu, até tentou atender, mas eram muitos e definitivamente não sabiam se comportar, então assinou alguns itens aleatórios, mas logo desistiu e foi embora.

De noite foi ainda pior. O Canvas (bar do primeiro andar) estava tomado pelas mesmas dezenas de fãs. A porta do elevador se abriu e então surgiu Steve Harris. Um fã exibiu a caneta de autógrafo, deixando bem clara sua intenção. Steve teve a infeliz idéia de sinalizar que o atenderia. Foi o que bastou para que fosse imediatamente cercado, em todas as direções, por cerca de 80 fãs. Ele atendeu a todos. Mas de boa? Fiquei com pena dele! Os infelizes nem ao menos se organizaram ou formaram uma fila para que tudo acontecesse de maneira calma e civilizada. Steve é um cara bacana, já o vi atender todo mundo diversas vezes - mas ali estava ele cercado por um monte de gente, cada um querendo ser o próximo a ser atendido a qualquer custo. Quando atendia o da direita, o da esquerda o cutucava - e vice-versa. Fiquei com vergonha alheia total e nem cheguei perto. Lógico que queria mais uma foto com ele, mas não assim.

No dia seguinte, fui tomar café e, estranhamente, não havia outros fãs no andar exclusivo. Por outro lado, Janick Gers estava lá. Peguei o celular e liguei para Sheila, com uma mensagem curta e grossa: "sobe aqui agora". Também mandei uma mensagem para uma amiga que estava hospedada, Mariana, que anos antes havia me pedido para ajuda-la a conhecer o Gers, pois ele é "o amor de sua vida". Disse apenas "Janick está no bar. Não avisa ninguém e vem".

Hospedada com duas amigas, eu sabia que viriam as três, mas cinco pessoas não são suficientes para assusta-lo. Ela chegou tremendo muito - assim como eu tremi quando vi Steve pela primeira vez. Desabou no choro também. Eu disse "enxuga as lágrimas e vamos trabalhar". Janick havia finalizado a refeição e agora estava sentado no parapeito da janela, tirando fotos da vista com seu iPhone.

Mariana estava louca para aborda-lo, mas eu a segurei: "o cara sabe que estamos aqui, sabe o que queremos. Se ele quiser, nos atenderá". Eu havia revelado a foto que tirei com ele em 2008, então a peguei e simplesmente deixei em cima da mesa. Janick se levantou, desta vez falando ao celular e passou por nós. Olhou para a foto e deu uma risadinha.

Mais uma vez, Mariana quis aborda-lo, e mais uma vez eu impedi: "Porra, se liga, o cara está no celular, deixe-o conversar em paz". E ela toda tensa: "Mas e se ele for embora?". "Significa que ele não quer nos atender, oras. É direito dele! Não é porque estamos aqui que ele tem obrigação de tirar uma foto com a gente".

Mais de meia hora se passou e ele ali, conversando. Mariana não tirava os olhos, mas eu nem prestava mais atenção. De repente, uma mão pegou minha caneta e começou a autografar tudo. Aconteceu tudo exatamente da forma que eu disse. Ele percebeu que respeitamos o seu momento ao celular e enquanto tirava fotos na janela, e simplesmente veio nos atender. Simples. Todos conseguimos fotos e autógrafos sem nem ao menos aborda-lo. Sensacional! Depois eu soube que Janick saiu do hotel, atendeu os fãs, e caminhou até um bar nas proximidades. Me chamaram para ir lá, mas eu não iria incomoda-lo novamente.


Quando estava anoitecendo, Sheila e eu estávamos no andar exclusivo, quando Bruce apareceu e sentou-se em uma mesa mais escondida, para comer alguma coisa. Decidimos esperar que finalizasse a refeição para aborda-lo. Foi então que tudo deu errado: Jonas e o Mestre, que também estavam hospedados, apareceram, e perceberam o que estava acontecendo.

Um outro fã aleatório, ainda pior que eles, também apareceu e, quando viu que Bruce estava ali, ficou de pé próximo à mesa do vocalista, sinalizando todo o tempo, indicando querer um autógrafo. Mau humorado, e com razão, Bruce também sinalizava e chegou a adverti-lo verbalmente, deixando bem claro que não o atenderia.

Ele, entretanto, insistia em ficar cercando o cara. "Falamos um monte", pedindo para que se comportasse, explicando que essa atitude iria atrapalhar a todos, mas ele estava irredutível em sua missão de ser o chato do dia – nem Kevin conseguiria ser pior. Disse que teria que conseguir rápido, já que combinou buscar sua tia para leva-la ao show (porra, ou você quer levar sua tia, ou você quer autógrafo do Bruce. Ou um ou outro, cacete!).

Até que chegou um momento em que ele foi até a mesa do Bruce, que reagiu de forma muito irritada, mas "autografou" o "Seventh Son of a Seventh Son". Na verdade, foi um rabisco, e muito do mal feito. O pentelho saiu comemorando. Bruce, por sua vez, levantou-se para sair de lá. Já estava perdido, mas o que é ruim sempre pode piorar: Jonas correu até ele e o Mestre o seguiu, mas levando chocolate nas mãos, para oferecer ao vocalista. A essa altura, um segurança havia chegado e ficou indignado:

- O que é isso?! Você acha que está em um zoológico oferecendo comida aos bichos?

Ele, então, retirou Bruce do local que, é claro, saiu sem atender ninguém. 

Fomos ao show, voltamos e fomos ao Canvas. Kevin, é claro, tinha uma ideia chata em mente. Disse que se hospedou em 2009 e que, em todas as noites, Bruce escolheu uma poltrona em um canto específico do bar para se sentar. Continuou dizendo que se sentaria ali e que, se Bruce quisesse o lugar, teria que atendê-lo. Quando Bruce apareceu, ele olhou para Kevin, sentado em “sua poltrona” e fez um comentário com algum integrante da equipe. Por um longo tempo, ele olhava, cada vez mais irritado, e comentava mais alguma coisa. Por fim desistiu, e subiu sem atender ninguém. Consegui fotos com Marc Rizzo e Johny Chow, do Cavalera Conspiracy, mas nem sinal do Igor Cavalera.

Marc Rizzo, guitarrista do Cavalera Conspiracy
Johny Chow, baixista do Cavalera Conspiracy
De manhã, Sheila tomou o elevador que subia, rumo ao café da manhã. Eu chamei o que descia, pois queria fumar um cigarro antes de comer. Quando o elevador chegou, surpresa: dentro, apenas Bruce Dickinson, mais ninguém. Quando me viu entrar, cabeludo e com camisa do Iron Maiden, ele provavelmente se assustou. Mas assim como fui ignorado na noite anterior, eu também não dei a mínima para a presença dele. Dei-lhe as costas, apertei o térreo, e descemos alguns andares juntos. Fumei, subi e tomei café. 

Pouco antes de fazer o check-out, Kevin me disse que Jonas aprontou novamente. No mesmo andar de Nicko McBrain, ele descobriu qual era o quarto do baterista. Próximo ao elevador, havia um puff. Jonas o levou até a porta do quarto de Nicko, sentou e ficou esperando  pela saída dele. Seu plano imbecil, entretanto, foi frustrado por Peter Lokrantz (o segurança com cara de vicking, lembra?), que chegou para buscar Nicko. Ele expulsou Jonas aos berros.

Tomei um táxi para Congonhas – sozinho, já que a Sheila não estava de férias e não poderia me acompanhar na maioria das cidades.

Aquela foi a última vez do Iron Maiden no Hilton em São Paulo, e compreendo bem o porquê. O que vi durante esses dias não foi coisa de fãs, mas de mimadinhos sem a menor compreensão do que seja civilidade. Antes de qualquer foto ou autógrafo, vem o respeito por esses senhores que há décadas espalham o melhor do metal por todo o planeta. 



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