sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Meu terceiro "casamento" durou apenas 12 dias

"Ou você namora ou você faz corre", é o que Carlos sempre diz. Talvez seja verdade, porque não é fácil para uma pessoa normal aceitar a vida de alguém que faz corres. São inúmeros casos de separações por causa de corre, bem como de hunters que abandonaram os corres porque enfim acharam alguém.

12/01/2018: na primeira sexta feira após o fim do cruzeiro, no fim da tarde, passei de Uber no prédio onde Mel* morava. Ela já me esperava na portaria, e seguimos para o terminal Jabaquara, onde tomamos o ônibus rumo à Bertioga. É uma cidade tranquila para um casal passar um final de semana na praia. Após quase duas horas de viagem, desembarcamos e caminhamos até a Pousada My Power, que eu já conhecia de vezes anteriores em que estive na cidade.

Após nos instalar, saímos para dar uma volta e comer alguma coisa. Embora fosse quase meio de janeiro, os enfeites para as festividades de natal e ano novo ainda estavam completamente operacionais, então aproveitamos para tirar algumas fotos. Quando retornamos, passamos boa parte da noite acordados, conversando e nos conhecendo melhor. Parecíamos ter muito em comum.



13/01/2018: acordamos já no horário do almoço, então, após comer alguma coisa, passamos pela feira de conveniência que fica em frente à "rodoviária" da cidade (não existe rodoviária alguma, mas é o local onde existem as empresas de ônibus intermunicipais, e os veículos param para embarque e desembarque de passageiros). De lá seguimos caminhando até a balsa que liga Bertioga a Guarujá e decidimos fazer a travessia. Seria apenas um passeio de ida e volta, mas quando chegamos, decidimos desembarcar e caminhar um pouco.

Tão logo saímos da área de acesso à balsa, encontramos uma passagem que levaria a uma tal Prainha Branca, que não conhecíamos. Decidimos explorar, então subimos as escadas, que nos levaram a trilhas repletas de subidas e descidas, em meio à vegetação nativa. No caminho, encontramos diversas pousadas, campings e outras estadias. Tirei foto de todas as placas que encontrava, pois poderiam ser opções interessantes caso a Prainha Branca fosse bacana e decidíssemos retornar em outra oportunidade.




Após cerca de meia hora de caminhada, de sobe e desce de morro, enfim chegamos. É uma praia bastante isolada, que estava quase deserta. Observamos que o lugar tinha certa estrutura, com hotéis e algumas opções para conseguir lanches e refeições. Um dos locais nos chamou atenção é o Larica's Point, uma boa opção para comer ou beber alguma coisa. O vídeo abaixo demonstra exatamente esse ponto, a praia e o Larica's Point.




Decidimos que voltaríamos em breve, pois pareceu interessante a possibilidade de se isolar um pouco. Ficamos por algum tempo curtindo a praia e descobrimos que não seria necessário retornar pelo mesmo caminho, já que barqueiros oferecem o serviço de traslado (em qualquer sentido) por 15 reais por pessoa cada trecho. Como planejávamos fazer um passeio de escuna em Bertioga, seria uma boa opção para retornar a tempo.

Por 15 reais você pode ir de barco de Bertioga para Guarujá ou vice-versa
O trajeto é rapidinho e os barcos são equipados com coletes salva-vidas para todos os ocupantes

A escuna navega por cerca de uma hora e meia ao total, saindo do Canal de Bertioga, sentido litoral sul, passando pelo Forte São João, Forte São Luiz, Praia Branca, Praia Preta, Praia do Camburizinho, Ilha do Guará, Ilha Rasa, Praia do Pinheirinho e Praia do Iporanga. Há uma parada de 10 a 15 minutos para quem quiser nadar ou mergulhar, e o retorno é pelo mesmo caminho.

A passagem para o passeio custa 25,00 e pode ser comprada na hora ou pela internet
Quando retornamos já estava escurecendo, então aproveitamos para jantar, caminhamos um pouco pela praia, e nos recolhemos em nosso quarto.

14/01/2018: mais uma vez acordamos próximo da hora do almoço, então almoçamos e retornamos a São Paulo. Decidimos que retornaríamos no final de semana seguinte, desta vez para ficar na Prainha Branca.

Durante a semana, pesquisei um lugar legal entre o monte de placas que fotografei, e cheguei à conclusão que a Pousada Cici seria ideal para ficar. Ao mesmo tempo, eu pesquisava algum lugar definitivo para morar em São Paulo, pois já fazia 5 meses que voltei de Belém e estava morando provisoriamente com a Sheila. Não éramos mais casados, e cada um queria seu espaço. Ela foi legal ao permitir que eu ficasse lá por um tempo, mas já era hora de eu encontrar meu próprio canto.

Conversando com Mel sobre este assunto, ela disse "vem morar comigo". Apesar da minha recente péssima experiência em Belém, achei que poderia ser uma boa ideia - mesmo sabendo que tínhamos menos de uma semana de namoro. Nos víamos quase todos os dias, então toda vez que eu ia para o apartamento dela, aproveitava para levar uma parte da mudança.

19/01/2018: Quando fui busca-la para viajar, minhas coisas já estavam quase todas lá, então, quando retornássemos, eu teria um novo lar. A pousada realmente era muito acolhedora, ao menos para nós, um casal junto há pouco tempo. O quarto tinha cama de casal, ventilador de teto, frigobar e TV LCD, além de acesso ao banheiro privativo. Em frente ao quarto havia uma pequena mesa, onde ficávamos fumando e, no caso da Mel, bebendo cerveja - acredite ou não, eu sou do time da Coca-Cola. O café da manhã, embora simples, era incluso. Se precisássemos de alguma coisa, como água ou cigarros, havia um bar e uma padaria bem próximos.


Nosso quarto era esse de porta aberta
Percebemos a presença de vários "habitantes locais", mas não nos importamos. É a casa deles, só estávamos de passagem
21/01/2018: foram dias de praia e camarão, mas a coisa ficou estranha na segunda noite. Mel gostava de dormir sem roupa, então houve uma hora em que ela "acordou", abriu a porta do quarto, e saiu, completamente nua. Claro que fui atrás para faze-la retornar antes que alguém mais a visse daquele jeito, mas felizmente já era madrugada e todos dormiam. Eu falava com ela, que não respondia coisa com coisa. Sem mais nem menos, se jogou no chão de grama e terra. Levantou, voltou para o quarto e deitou, imunda, na cama. Não entendi nada, mas decidi deixar para lá pelo menos até a manhã seguinte. Tirei algumas fotos dela, para poder mostrar caso dissesse que não lembrava.

Claro que cortei a imagem, mas dá pra ter uma boa ideia da desgraça que foi
Como previsto, ela não lembrava. Acordou xingando, reclamando que a cama estava suja. Contei o que aconteceu, mostrei as fotos, e ela disse que teve um ataque de sonambulismo. Mas que porra! Após o almoço, retornamos a São Paulo.

O apartamento era minúsculo, apenas 28 metros quadrados. Um cozinha mega pequena, uma sala apenas com uma mesa pequena e um sofá de 2 lugares, o quarto onde só cabia a cama e mais nada, e o banheiro. Normalmente eu não me importaria com isso, era apenas nós, não tínhamos filhos ou animais de estimação.

22/01/2018: havia um grande problema, quase todas as tomadas do apartamento não funcionavam, estavam queimadas. Pensei em chamar um eletricista, mas comentei sobre isso com meu pai, e ele, que tem experiência em instalações elétricas, se ofereceu para fazer os reparos. De fato, no dia seguinte, ele nos visitou e consertou tudo.

No dia a dia, estranhamente, Mel fazia questão de manter as janelas e cortinas fechadas. O grande problema é que éramos fumantes, fumávamos um cigarro atrás do outro em ambiente totalmente fechado, dava para ver a névoa de fumaça no quarto o tempo todo. Fumante há quase 35 anos, comecei a pensar em quanto tempo mais resistiria a um ambiente como aquele, era muita fumaça entrando no pulmão.

24/01/2018: Mel acordou com muitas dores. Contou-me que tinha endometriose, e que precisava passar no ginecologista para pegar uma receita. Eu a acompanhei na consulta. Assim que saímos, já compramos o remédio, que não era nada barato, custava cerca de 120 reais. Tinha 20 comprimidos e, em tese, deveria durar 10 dias, mas ela os consumia como se fossem balas, tomando um atrás do outro. Então, a cada dois dias lá ia eu para a farmácia comprar mais remédio. A endometriose, é claro, arruinou nossa vida sexual. Nos dias seguintes quase não tivemos mais relações.

25/01/2018: houve o corre do Dire Straits Legacy, e nossa primeira grande briga, que acabou contornada.

30/01/2018: Já me sentindo em casa, enfim tomei coragem para montar a bateria eletrônica no novo lar.


31/01/2018: De 1990 a 1992 eu cursei o colegial no Colégio Objetivo, Unidade Pompéia. Meu apelido na época era "Louco" e eu era conhecido por ser palmeirense fanático. O fanatismo diminuiu muito com o passar dos anos. Em uma época sem redes sociais, a perda de contato com os ex colegas foi inevitável.

A situação mudou com o surgimento do Orkut em 2004. Conseguimos localizar quase todos que estudaram conosco e realizamos alguns reencontros, mas ficou nisso. Agora, 14 anos mais tarde, a galera estava se vendo novamente, e todos contavam com a minha presença em um desses encontros, fizeram questão de me convidar e garantir que eu confirmasse a presença.

Convidei Mel para me acompanhar, mas ela recusou porque estava com as dores da endometriose. Sendo assim, fui sozinho, mas a ideia era ficar só umas duas horas e retornar para cuidar da minha mulher, que não estava bem. Eu a avisei que haveria fotos, tanto com os caras como com as meninas que estudaram comigo, ela disse que tudo bem.

Tomei um táxi e fui à Casa do Espeto. Ao chegar, encontrei todos bastante animados, rindo e relembrando casos da época que estudamos juntos. Meus ex colegas disseram que o ex atacante Luizão, que jogou em times como Guarani, Paraná, Palmeiras, Vasco da Gama, Corinthians, Botafogo, São Paulo, Santos, Flamengo e Grêmio, também estava lá, reunido com amigos em outra mesa, então aproveitei para aborda-lo. Um hunter nunca perde uma oportunidade.

Luizão

Tirei agumas fotos com o pessoal, e fui postando no Facebook conforme elas aconteciam. Houve uma hora em que quatro ex colegas, mulheres, se juntaram para tirar uma foto comigo. Era só uma foto, que eu tiraria com ou sem a presença da Mel, não tinha nada de mal. Alguém disse "é hoje que o Louco apanha quando chegar em casa". Achei que seria engraçado colocar essa frase como legenda.

"É hoje que eu apanho em casa"

Um ex colega me chamou de canto para conversar sobre alguns assuntos particulares. Eu estava falando com ele, quando senti o celular - que por padrão ficava no modo silencioso - vibrar no bolso. Fui ver e era Mel, completamente descontrolada, mandando uma mensagem após a outra, repletas de xingamentos.


Imediatamente chamei um 99 e retornei para casa. Fiquei bastante constrangido ao me despedir de meus ex colegas, todos perceberam o porquê de eu estar saindo tão apressado. Inacreditavelmente, eu e Mel conseguimos conversar e nos entender. O problema é que, a essa altura, eu já não sabia mais se queria continuar a viver com ela. Eu estava em uma fase muito boa da minha vida, definitivamente não precisava me prender a alguém que só estava me fazendo mal. Resolvi pensar no assunto, para poder tomar uma decisão definitiva, sem impulsividade nem arrependimentos, mas nem foi necessário, pois na noite do dia seguinte ela aprontou novamente.

01/02/2018: Eu estava navegando na internet, quando li sobre uma peça que estrearia no Teatro J. Safra, com Priscila Fantin no elenco. Eu sempre quis conhece-la, então comentei que gostaria de fazer esse corre, foi o que bastou para que a briga recomeçasse pior do que nunca.

Mel berrava que "homem casado tem que ficar em casa cuidando da mulher, não na rua fazendo corre". Mas que diabos?! Não me conheceu assim?! Foi minha amiga no Facebook por anos, sempre vendo minhas fotos, comentando, curtindo, e agora, só porque estávamos juntos, exigia que eu ficasse quieto em casa com ela, alguém que só sabia reclamar, me dar despesas e que nem transava mais comigo?! Mas não mesmo! Tomei minha decisão, era hora de abandonar aquele relacionamento doentio, já estava de saco cheio de doidas na minha vida, era uma pior que a outra, uma atrás da outra desde que me separei da Sheila. Só precisava definir para onde iria.

Nem precisei comunicar que queria acabar com tudo, pois ela logo avisou que telefonou para meu pai, pedindo para que ele, na manhã seguinte, viesse buscar a mim e às minhas "tralhas". Desequilibrada do inferno, tinha que envolver meu pai nisso?! A seguir, foi à cozinha, pegou uma faca e trancou-se no quarto.

Passei o resto da madrugada juntando minhas coisas, enquanto pensava se a ideia dela era me matar ou se matar. Desmontei a bateria, juntei as roupas, livros, CDs e todo o resto. Na tarde anterior, fizemos a compra mensal no supermercado, decidi levar tudo comigo; afinal fui eu quem pagou. Quando terminei, deitei no sofá, mas não preguei o olho. Vai saber se a doida tentaria me esfaquear se eu adormecesse.




02/02/2018: pontualmente às 06:00 hs, meu pai enviou uma mensagem, avisando que já estava na garagem. Desci com todas as coisas, e tchau mesmo. Como a princípio não tinha para onde ir, acabei voltando para a casa dele, de onde saí 16 anos antes.

03/02/2018: eu estava de boa navegando na internet, quando uma amiga, que faz corres de bandas góticas, me surpreendeu com um convite para sair. Provavelmente ela ficou sabendo que meu namoro acabou. Nos últimos meses, eu a havia chamado para sair diversas vezes, mas sempre recebia resposta negativa. Quando não esperava mais nada, ela me surpreendeu, exatamente na hora certa. 

04/02/2018: eu e minha amiga gótica nos encontramos e nos pegamos em um hotelzinho no centro de São Paulo. Foi bem legal, mas ficou nisso. Não havia como evoluir, até porque porque ela prefere sair com mulheres, e não queria se prender a ninguém.

14/02/2018: eu estava no banco resolvendo alguns problemas, quando recebi um SMS da doida (que estava bloqueada em tudo, menos nisso), dizendo que sentia minha falta e pedindo para eu voltar para ela. Pelo visto não foi um bom negócio ficar sem um trouxa para pagar as contas. Eu não estava nem um pouco a fim e ela teve que insistir muito para me convencer a aceitar um encontro. Passamos a noite seguinte em um motel. Ela perguntou se eu fiquei com alguém desde que terminamos, e fiquei muito feliz em poder jogar na cara dela que sim. Ela ameaçou surtar, mas baixou a bola quando eu disse algo como "qual é o problema? você terminou comigo!".

Combinamos nos separar de manhã, mas eu iria para a casa dela no início da tarde. Propositalmente, inventei alguma desculpa e avisei que atrasaria, apenas para ver se ela daria uma de louca novamente ou se realmente havia mudado. Funcionou: quando começou a xingar, bloqueei em tudo definitivamente, não esquecendo de bloquear também o SMS.

Julho/2019: Por quase um ano e meio não tive notícias dela. De repente, uma amiga em comum postou no Facebook uma foto junto à Mel com uma mensagem como "vá em paz, vou sentir sua falta". Meu primeiro impulso foi perguntar "a doida se matou?", mas a história foi muito mais sinistra. Depois que terminamos, ela voltou para Itú, onde morava sua mãe, agora com câncer terminal. Ela retornou com um antigo peguete da cidade e colocou o vagabundo dentro de casa, que passou a morar com ela e a sogra doente.

Como passou a desfrutar da confiança da família, ele teve acesso à senha do cartão da sogra para fazer compras. Ele gastou muito mais do que deveria, desviou todo o dinheiro, sabe-se lá para que. Quando Mel descobriu, ele a matou. Como eu não sei, mas o fato é que ela morreu menos de um ano e meio após nos separarmos.

Claro que eu não desejava para ela um fim tão trágico, mas minha reação à notícia foi de total indiferença. Eu e ela poderíamos ter vivido algo legal, poderíamos até mesmo estar juntos até hoje, mas seu desequilíbrio emocional foi determinante para nossa separação e acabou conduzindo-a a esse desfecho indesejado.