Em 07 de março de 2021 o Palmeiras sagrou-se campeão da Copa do Brasil 2020, ao ganhar do Grêmio por 2x0, gols de Wesley e Gabriel Menino. Logo após o apito final e as devidas comemorações no gramado, o técnico português Abel Ferreira anunciou, na coletiva de imprensa, que passaria alguns dias em Portugal para matar a saudade da família.
Abel chegou ao Palmeiras no começo de novembro de 2020, e antes disso trabalhava no PAOK, da Grécia, então provavelmente estava sem ver esposa e filhos há mais de seis meses. Se fosse uma situação normal, é possível que sua família já estivesse no Brasil, mas estávamos em uma fase complicada da pandemia, e a situação brasileira sempre esteve muito pior do que a portuguesa.
Devido à paralização de quatro meses que ocorreu no futebol tão logo a pandemia começou, a temporada 2020 invadiu 2021 e terminou somente em março para o Palmeiras. Para tentar compensar, foram muitos jogos em pouco tempo, pelo Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Taça Libertadores da América, o que levou todo o elenco à exaustão. Mesmo com o Campeonato Paulista 2021 iniciando na mesma semana, o presidente Mauricio Galiotte autorizou 10 dias de férias para todos, comissão técnica e jogadores.
Um grupo formado pela maioria dos jogadores considerados titulares, mais o Abel Ferreira, tiraria a primeira folga de 10 dias, enquanto os demais disputariam o Paulistinha. Quando retornassem às atividades, um segundo grupo, formado pelos reservas mais utilizados na temporada, mais os outros integrantes da comissão técnica, iniciaria seus 10 dias de descanso.
O grande problema foi a pandemia. Abel simplesmente não encontrava uma maneira de ir a Portugal, já que as fronteiras estavam fechadas para viajantes brasileiros. Ele poderia entrar, pois é cidadão português, mas não havia voos. Mesmo assim, teria que cumprir um período mínimo de 14 dias de quarentena tão logo chegasse ao país. Com a moral em alta pela conquista da Libertadores da América e da Copa do Brasil, Abel teve a ampliação de seu período de descanso autorizada pelo presidente, mas ainda assim não conseguia uma maneira de chegar à Europa.
Os jogadores titulares iniciaram as férias, mas Abel permaneceu, participando normalmente dos treinamentos no CT. Entretanto, seguindo o que já estava estabelecido, quem comandou a equipe no jogo de estreia, contra o São Caetano, foi o auxiliar João Martins, embora Abel ainda estivesse no Brasil.
Sem ter toda essa informação, tão logo soube da intenção de Abel de ir a Portugal, enxerguei uma boa oportunidade para encontra-lo no aeroporto. A família de Abel mora em Porto, mas os únicos voos para Portugal a partir de Guarulhos são para Lisboa. Sem problemas, chegando lá ele poderia tomar outro voo para chegar em casa. Após uma pesquisa no Google, descobri que haveria um voo para Lisboa no dia seguinte à conquista da Copa do Brasil, às 17:00hs. Combinei com Anebelle e fomos.
Quando chegamos, o balcão de check-in da TAP estava fechado e o voo não aparecia no quadro como uma das partidas previstas para o dia. Conversei com funcionários do aeroporto, que informaram que a TAP não estava operando durante a pandemia. Google filho da puta, me induziu ao erro! Só nos restou comer um lanche no McDonalds e retornar para casa.
Passei a acompanhar as notícias intensamente, à procura de uma pista que me levasse a encontra-lo na saída do Brasil. Descobri que haveria um voo de repatriação na quinta feira, dia 11, e que Abel planejava estar nele. Embora fosse fruto de um acordo entre os governos do Brasil e de Portugal, não era nada barato ser um dos passageiros, pois era necessário desembolsar €890. Para Abel e seu salário de treinador de ponta no futebol brasileiro, não deveria ser um problema.
Mais uma vez fui ao aeroporto e acompanhei atentamente, à distância, o check-in de cada passageiro do voo. Nenhum deles era Abel. Confuso, retornei para casa, onde descobri que a dona da Crefisa e da Faculdade das Americas, Leila Pereira, cedeu gentilmente seu avião para que Abel fosse para Portugal. Sim, a aeronave tem autonomia para fazer a travessia do oceano Atlântico, fazendo apenas uma escala para reabastecimento nos Açores.
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Não foi desta vez que consegui conhecer Abel Ferreira, apesar de ir duas vezes ao aeroporto |
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