sábado, 24 de abril de 2010

Megadeth

Desta vez a mágica de Kevin não funcionou, pois ele não sabia em qual hotel o Megadeth estava. Uma amiga, Aline, arriscou perguntar para o “tio da van”, mas ele respondeu que só diria se ela lhe desse um beijo. Sem alternativas, aceitou – e ele ainda disse o hotel errado, embora a rua fosse a correta. Acredite se quiser, ainda assim ela não foi no hotel conosco.

Após o show, fomos ao hotel indicado. Ficamos na calçada em frente ao local, mas percebemos que não havia nenhuma movimentação diferente. Entretanto, observamos uma van parar em frente a outro hotel na mesma rua, a uma quadra de distância. Era o Blue Tree Berrini (que hoje em dia chama-se Transamerica Berrini). Corremos para lá e, logo que entramos, já vimos Dave Mustaine no hall. Houve uma movimentação de seguranças do hotel para nos expulsar, mas eliminei esse problema indo direto à recepção, onde anunciei minha intenção de hospedar. O problema é que, enquanto eu fazia o check-in, os músicos tomaram o elevador e foram para seus quartos.

Eu estava numa exaustão monstra, e sabia que se fosse dormir perderia a hora, então decidi passar a noite acordado no hall. Eu estava acompanhado por Jee - uma amiga de Manaus - e Kevin. Além disso, outros hunters descobriram o hotel, e também estavam lá, incluindo Léo, Rafael, o Mestre, Renata, e outra Aline (não a do parágrafo anterior).

Por falar em Aline, agora sim a do parágrafo anterior, ela descobriu a pista que nos fez descobrir o hotel, então nada mais justo do que avisa-la. Assim que clareou, por volta de 06:00 hs, eu liguei para o celular dela, mas quem atendeu foi um homem - provavelmente o pai dela - com uma puta voz de sono. Completamente sem graça, pedi para falar com ela, ele disse que ela estava dormindo, e respondi que era urgente - ela mesmo pediu para eu avisa-la na manhã seguinte se era o hotel estava certo. Quando ela atendeu, passei todas as informações e desliguei.

David Ellefson desceu para tomar café e nos atendeu. Eu o encontrei em outras oportunidades, e ele sempre foi um dos mais legais.

Eu nunca aprendo a fazer uma cara boa na hora da foto

Algumas horas mais tarde, outra amiga minha, que também se chama Aline (sim, não perca a conta, são 3 Alines), e que até então nada tinha a ver com corres, entrou no hotel esbaforida e veio me agradecer por avisa-la. PQP! No sono, simplesmente liguei para a Aline errada 😱

Dave Mustaine veio em seguida e foi à recepção tratar de algum assunto. Surpreendentemente, ninguém reagiu. Kevin, Mestre, Léo, Rafael, ninguém esboçou reação. Não seria eu, com tão poucos corres, que iria tentar aborda-lo, com tantos mais experientes que eu deixando passar. Quando ele se foi, a falta de atitude foi bastante discutida. Um dizia para o outro que não tentou para não irrita-lo. Todos ficaram com medo de tentar, ouvir “não”, e estragar a chance dos demais. Muita solidariedade, pouca atitude: a chance foi perdida.

Ninguém teve coragem de abordar o Pato Donald

Uma das meninas que estava conosco, e que também havia se hospedado, disse que foi à academia do hotel, e que encontrou Chris Broderick se exercitando, chegou até mesmo a mostrar uma foto que tirou dele. Fomos lá, mas apenas observamos um pouco e voltamos para o hall. Seria inconveniente demais interromper o treino do cara para tirar fotos.

Aline III tirou foto de Chris Broderick se exercitando

Não demorou para que Shawn Drover aparecesse e atendesse a todos. Mustaine reapareceu para tomar café, mas não quis nenhum tipo de contato. Apenas pediu para um funcionário do hotel pegar o que tínhamos para autografar. Assinou tudo e mandou devolver. Foi possível vê-lo enquanto se servia e tomava café. Se quiséssemos, poderíamos ir até lá, afinal, também éramos hóspedes. Eu, ao menos, continuava seguindo o que decidi com a Sheila um ano antes: ser o menos inconveniente possível. Claro que queríamos a foto, mas se ele não queria, o que eu poderia fazer?!

Por sua vez, Kevin sempre tentava fazer as coisas de forma sem noção. Ele escreveu um bilhete e pediu para um funcionário do hotel entregar na mesa de Mustaine. Gentil, ele fez o que Kevin pediu, mas levou uma belíssima comida de rabo do Mustaine, que amassou o papel sem ler e o atirou no rosto dele, enquanto gritava algo que não entendemos, mas cujo conteúdo verbal não é muito difícil de adivinhar. Quando terminou, deixou o restaurante por uma saída alternativa, apenas para não ter que passar por nós. Em seguida, Broderick desceu e nos atendeu mas, para mim, era o fim do corre.

Com tantas câmeras, ficou difícil para Shawn Drover saber para qual olhar
Pato Donald no café
Pato Donald fugindo
Muito gente boa, Chris Broderick atendeu todo mundo

Léo insistiu que fôssemos ao aeroporto tentar mais uma vez, mas preferi finalizar e retornar para casa. Somente Rafael e Renata concordaram em continuar o corre. Em Congonhas, Mustaine atendeu o trio após muita “choradeira”. Ainda assim, foi uma foto quase irreconhecível, pois ele estava de gorro, cabelo debaixo do gorro e óculos escuros. Só quem estava no corre é capaz de reconhece-lo.

Anos depois, Carlos me disse que Mustaine nem sempre foi assim. Ele se lembra de uma vez, no Monsters of Rock 1998, quando ele, o Mestre e mais um amigo se hospedaram no mesmo hotel que a banda e, após passar a noite conversando com Mustaine no bar do hotel, todos subiram para dormir. Para surpresa geral, o quarto deles era exatamente na frente do quarto do vocalista/guitarrista. Na manhã seguinte, alguém bateu à porta. Mestre abriu e deu de cara com o Mustaine, que disse algo como “estou indo tomar café da manhã e quero companhia, vocês gostariam de me acompanhar?”. 

Carlos disse que quando Kevin contou sobre como foi o corre do Megadeth, se espantou ao saber sobre o comportamento de Mustaine, pois todos os hunters das antigas têm foto com ele. Algo aconteceu durante a pausa do Megadeth entre 2002 e 2004, que alterou completamente a maneira como ele interage com os fãs.

sábado, 10 de abril de 2010

Blaze Bayley

Um velho conhecido, Blaze Bayley, retornou a São Paulo para um show no Manifesto Bar. Naquela manhã, recebi um telefonema estranho. Yolanda*, uma amiga do Rio de Janeiro, que havia ficado em minha casa para o show do Metallica, pediu para ficar lá novamente, com uma amiga, por alguns dias. Sem entender direito, falei com Sheila, e concordamos em recebe-las. Eu iria encontra-las no show, então após o trabalho, fui direto para lá. Como cheguei cedo, Blaze ainda não havia chegado. Quando chegou, consegui a foto. Mal sabia que ele atenderia todo mundo novamente e, desta vez, sem a cara de velório do ano anterior. Melhor para mim, pois tirei duas fotos com ele naquele dia. Como ponto negativo, acabei não abordando Dave Bermudez, pois ele não desgrudava de uma menina, estava agarrado com ela o tempo todo, e fiquei "meio assim" de ser inconveniente.


Jay Walsh, guitarrista do Blaze Bayley
Nico Bermudez, guitarrista do Blaze Bayley
Claudio Tirincanti, baterista do Blaze Bayley

Quando encontrei com Yolanda e Fani*, comecei a compreender tudo. Elas vieram do Rio de Janeiro para São Paulo na van da banda. Contaram uma estória difícil de engolir, sobre Blaze ser excessivamente legal com os fãs, em uma tentativa de explicar a carona. Na verdade, uma pegou o baixista e outra estava com um dos guitarristas. Anos depois, me contaram que nessa aventura, vieram com apenas R$10,00 – somando o dinheiro das duas.

A partir desse dia, por alguns anos, elas sempre vinham do Rio para se encontrar com as bandas em São Paulo. Jovens e sem dinheiro, ainda assim estavam em todos os shows, em todos os hotéis. Por algum tempo, até tentaram disfarçar, mas depois despirocaram de vez e falavam abertamente sobre ter pego esse ou aquele músico, ou até a banda inteira de uma vez, era tipo topa tudo.

Yolanda contou que abordavam algum músico, perguntando se gostaria de transar com elas, as duas de uma vez. Em troca, claro: backstage, viagens, diversão. Poderiam até ter uma vida ruim durante a semana, mas nos finais de semana estavam nos melhores hotéis, comendo e bebendo por conta das bandas, assistindo aos shows de cima do palco, e ainda transavam com os rockstars que muitas desejavam.

Fani dizia “quando você pega um boy na balada, você não transa com ele!? Com banda é a mesma coisa, não muda nada”. Pra dizer a verdade, eu nunca liguei muito para isso. Desde que não atrapalhassem o corre, por mim tudo bem.

Eu conheci muitas groupies no decorrer dos anos, mas essas foram as únicas que simplesmente não viam diferença no tamanho das bandas. Enquanto a maioria desejava – e algumas vezes conseguia - nomes enormes como Jon Bon Jovi, Bruce Dickinson ou Dave Mustaine, para as duas o que importava era a quantidade, então poderia ser uma super banda ou uma bandeca desconhecida, elas estariam da mesma forma, agindo sempre da mesma maneira.


W.A.S.P. e Epica

Kevin sabia quais eram os hotéis, mas preferimos tentar algo diferente: esperar as bandas no aeroporto. Eu já havia pensado nessa possibilidade no ano anterior, quando o Stratovarius tocou no Rio de Janeiro em um dia e em São Paulo no outro. Pareceu lógico esperar pela banda em Congonhas, mas como eu e Natália acordamos tarde, não tivemos a oportunidade de tentar.

Naquele dia, mais uma vez minha casa estava com hóspedes. Alessandra e Lenice vieram de Manaus para assistir o Epica. Eu as convidei para me acompanhar ao aeroporto, mas preferiram continuar dormindo. Quando cheguei, havia uma galera por lá, incluindo Carlos e Kevin.

Eu estava com uma camiseta do W.A.S.P., e a primeira banda a desembarcar foi o Epica. Era a primeira vez que vi Simone Simons frente a frente, ela é muito mais bonita pessoalmente. Nessa época, eu ainda tinha o péssimo costume de abraçar os artistas no momento da foto. Eu a abracei, e ela não se importou. Em corres posteriores do Epica, Simone ficou conhecida por evitar o excesso de proximidade com os fãs, muitas vezes repetindo a já clássica frase "don't touch my hair" (não toque no meu cabelo). Observe que, na foto, meus dedos estavam um pouco entrelaçados no cabelo dela. Totalmente sem querer, mas estavam.

Após tirar foto com a Simone e Yves Huts dentro do saguão, abordei Mark Jansen já do lado de fora, que perguntou se esperávamos o Epica ou o W.A.S.P. Ao menos no meu caso, a resposta correta foi “as duas bandas”. Eu iria ao show de ambas, inclusive. Como era fã há pouco tempo e ainda não conhecia bem a formação, demorei para reconhecer e não consegui fotos com Coen Janssen e Isaac Delahaye. Quando retornei para casa com as fotos, minhas hóspedes dorminhocas arrependeram-se de não me acompanhar.

Simone Simons no auge de seus 25 anos
Yves Huts já saiu da sala de desembarque com o cigarro na mão. Observe que eu estava segurando um álbum do W.A.S.P.
Ariën van Weesenbeek, baterista do Epica
Todos no Epica são legais, mas Mark Jansen é absurdamente legal, sempre!

Quanto ao W.A.S.P., a banda demorou mais algumas horas para desembarcar. Não pude esperar, pois havia combinado algumas coisas com minhas hóspedes. Kevin me disse, entretanto, que todos os músicos foram chatos e não quiseram interação com os fãs que os aguardavam.

O show do W.A.S.P. estava marcado para as 18:00 hs no Santana Hall e o do Epica seria as 22:00 hs no Via Funchal. Acreditando que seria possível assistir aos dois, comprei os ingressos, mas assisti somente o do Epica pois, até às 20:00 hs, o show do W.A.S.P. nem ao menos havia começado, devido a um ataque de estrelismo do Blackie Lawless, que só apareceu para tocar após esse horário. Sei disso porque Kevin descobriu que, no estacionamento ao lado do local, havia uma passagem para os camarins da casa de shows. Então, como era por ali que a banda entraria, era ali que ficaríamos. Mais uma vez, ele não atendeu ninguém.

Um dos rockstars mais insuportáveis, Blackie Lawless não quis nem saber de papo e entrou sem atender ninguém

Desisti de assistir o W.A.S.P., encontrei uma amiga e fomos ao Via Funchal, onde assistimos a um show memorável. Após, fomos ao Hilton, onde a banda estava hospedada, mas parece que todos que estavam no show tiveram a mesma ideia, pois estava lotado de fãs em frente ao hotel. É claro que, desse modo, a banda entrou por alguma entrada alternativa e não atendeu ninguém, totalmente compreensível.

No dia seguinte, bem cedo, voltei ao Hilton com minhas hóspedes preguiçosas para tentar as fotos que faltaram com o Epica. Elas levaram suas câmeras e tiravam foto de tudo e todos. Antes que fossem embora de minha casa, copiei seus cartões de memória. Abaixo algumas das imagens que elas conseguiram:

Yves bebendo e fumando logo cedo. Pode acreditar, isso era 07:00 hs da manhã 
Coen e Simone saindo do hotel
Simone toda feliz ao ser presenteada com uma caixa de Ferrero Rocher por um fã
Yves não parava de fumar
Mark foi o último a entrar na van

Tirei apenas com o Coen e mais uma com a Simone - não costumo tirar duas fotos com o mesmo artista na mesma turnê, a menos que a foto não tenha ficado boa, mas foi irresistível. Isaac demorou demais para aparecer. Os demais integrantes da banda e o pessoal da produção já demonstravam uma clara preocupação com o horário do voo. Então, quando ele apareceu, entrou na van correndo, sem atender ninguém.

Simone é muito linda e estava de ótimo humor
Coen Janssen não se importou de atender a galera

Uma curiosidade sobre este dia é que sempre observei que Kevin levava, além da discografia completa, uma foto para a banda autografar. Todas as vezes em que eu fazia um corre e não tinha um CD ou vinil da banda, tinha o cuidado de comprar um CD para autografar, mas isso era custoso e trabalhoso. Com o MP3 em alta e a venda de CDs em declínio, muitas vezes eu simplesmente não encontrava, quando encontrava não era com a formação atual. Foi o que aconteceu nesse caso: tentei comprar na Galeria do Rock, mas não encontrei nenhum com aquela formação.

Decidi adotar como padrão sempre levar uma foto. Monta-la dava um pouco de trabalho, mas ao menos era barato. Sheila abraçou essa ideia comigo, e como entendia bem mais que eu de Photoshop, criou modelos que utilizo até hoje. Basta uma imagem da banda em alta resolução, uma imagem do logo, e o nome e respectivo instrumento de cada integrante, que o arquivo fica pronto rapidinho. Para ter mais qualidade, mando revelar.


Kevin ainda me chamou para ir ao Hollyday Inn naquela tarde para tentar novamente o W.A.S.P. mas, devido a tudo que aconteceu, não fui. Me arrependi pois eles, incluindo Blackie Lawless, atenderam os fãs, embora de má vontade. A banda demorou 9 anos para retornar ao Brasil. Em 2012 e em 2015 foram anunciados shows no país, que acabaram cancelados pelo mesmo motivo: falta de profissionalismo de Blackie Lawless.