sábado, 27 de fevereiro de 2016

Enforcer - o corre que não deveríamos ter feito

A bem da verdade: até então eu e Carlos nunca ouvimos falar em Enforcer. Carlos, inclusive, achava que era uma banda nacional. Mas era fevereiro, período de poucos corres, logo depois da abstinência de shows de dezembro e janeiro, então fomos. Antes, demos uma passada em um bazar fit beneficente organizado por Karina Bacchi para arrecadar fundos para a ONG Florescer. Conseguimos a foto com Karina e seguimos para o Inferno Club, onde aconteceria o show. Leo e Ellen também estavam lá tentando conseguir as fotos.

Logo que a passagem de som terminou, três integrantes saíram da casa, separadamente. Um a um, os abordamos, e todos tiraram fotos conosco, mas foram chatos demais para uma banda série D. Bandas tão pequenas geralmente são mais legais, mas todos pareceram não estar muito a fim de interagir com ninguém. O baterista, entretanto, demorou demais para sair. Quando saiu, Ellen e Leo o abordaram e conseguiram a foto. Eu e Carlos estávamos um pouco afastados, tentamos nos aproximar, mas ele rapidamente atravessou a rua Augusta e foi direto para um estacionamento.

Nós o seguimos, mas ficamos sem graça de entrar, pareceu um pouco invasivo. Estávamos na porta, quando algum amigo saiu do estacionamento e disse:

- E aí, Adriano. Já conseguiu as fotos?

- Falta com o baterista ainda.

- Eles estão sem fazer nada, aguardando o manobrista buscar a van.

Agradeci a informação e decidimos entrar. O baterista estava encostado em uma pilastra. Eu o abordei e perguntei se poderíamos tirar uma foto. A resposta: "maybe after show". O corre terminou ali, para mim e para Carlos. Tivemos que assumir a maior mancha de nossas carreiras: acabamos de levar naba de alguém de uma banda série D.

Olof Wikstrand, vocalista e guitarrista do Enforcer
Tobias Lindqvist, baixista do Enforcer
Joseph Tholl, então guitarrista do Enforcer. Ele saiu da banda em 2019

Karina Bacchi

A edição tupiniquim da revista Playboy foi criada em 1975 pela Editora Abril, que negociou o lançamento da edição brasileira com a direção da Playboy nos Estados Unidos. Em pleno governo militar, com a imprensa sob censura prévia, foi necessário conseguir o aval do então Ministro da Justiça, Armando Falcão, que recebeu garantias de que os ensaios seriam mais comportados e que o conteúdo editorial seria "muito mais intelectual e sofisticado que qualquer revista que circulava no país". Ainda assim, inicialmente, o plano foi vetado, pois o ministro declarou que "não poderia fazer nenhuma revista com o nome Playboy no Brasil, não importava o conteúdo". Observando uma brecha, a editora reenviou os planos sob o título "A Revista do Homem", conseguindo a aprovação.

Com a abertura política iniciada no governo Geisel, em 1978, a revista finalmente passou a se chamar Playboy no Brasil. Com efeito, os ensaios com as brasileiras eram mais artísticos e comportados, apenas de vez em quando aparecia um seio ou uma bunda desnuda. Os primeiros ensaios mais ousados das brasileiras, que mostravam os pelos pubianos, só começaram a aparecer lá por 1980.

Em uma década onde a depilação genital definitivamente não era um padrão, lembro a polêmica que houve com o ensaio de Terezinha Sodré, que era depilada. Em 1986, a revista manipulou as fotos, com as técnicas existentes em uma época em que o Photoshop não existia, inserindo pelos pubianos na área onde deveriam estar, a fim de "manter a intimidade de Terezinha" (wtf?!). Mostrar pelos era ok. Vaginas, jamais!

Ainda demorou 20 anos para que esse padrão fosse quebrado. Em 2006, a revista já agonizava com baixa vendagem, resultado direto da concorrência com o conteúdo diferenciado e a pirataria proporcionados pela internet. Ninguém estava mais interessado em pagar pela revista: mal era lançada nas bancas, e as fotos já começavam a pipocar em algum site ou grupo de discussão.

O ensaio de Karina Bacchi, em 2006, não apenas revelava sua vagina, como também uma surpresa adicional: um piercing digital. Deu o que falar e a revista foi uma das campeãs de vendagem, com 278.422 exemplares comercializados. É pouco se comparado com a campeão absoluta de vendas no país, a edição de dezembro de 1999, que trouxe Feiticeira (Joana Prado) na capa e no ensaio principal - foram mais de 1.247.000 cópias vendidas - mas, enfim, os tempos eram outros. Em 1999 eram poucos os usuários da internet no Brasil e não havia opções de banda larga para usuários comuns - a primeira opção, o Speedy, da Telefonica, foi lançada em São Paulo em 2000.

Dois anos depois do ensaio de Karina Bacchi, comecei a fazer corres. Quando fiquei bom o bastante, coloquei o nome dela em uma lista de celebridades que eu gostaria de conhecer. A oportunidade surgiu em 2016, quando ela anunciou no Instagram que faria um bazar fit para arrecadar fundos para a ONG Florescer. Fui até lá com o Carlos, e conseguimos, muito fácil. Depois, seguimos para o corre do Enforcer.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Tankard

Entre 2016, quando o terminal 3 do aeroporto de Guarulhos foi inaugurado e 2020, quando houve a pandemia de COVID-19, monitorar voos vindos da América do Sul era complicado. Quase todos os voos internacionais, especialmente de ou para Europa e Ásia partiam e chegavam no terminal 3, mas os voos que partiam ou chegavam de países como Chile, Argentina ou Colômbia poderiam ser tanto no terminal 3 como no terminal 2. Muitas vezes havia voos da mesma cidade chegando ou partindo ao mesmo tempo ou com diferença de cinco ou dez minutos em terminais diferentes.

O Tankard vinha de Santiago e havia voos chegando tanto no terminal 2 quanto no terminal 3, praticamente no mesmo horário. Sem saber o que fazer, eu, Ellen e Janice utilizamos o avançado método "unidunitê" para escolher monitorar o desembarque do voo que chegava no terminal 3. Mais de meia hora passou-se após o pouso, então percebemos que praticamente todos os passageiros do voo já tinham desembarcado, e que a possibilidade da banda ainda estar lá dentro resolvendo algum problema alfandegário era baixa.

Decidimos correr ao terminal 2 para ver se era possível monitorar o final do desembarque do voo que pousou lá. Quando chegamos, eu e Ellen fomos diretamente ao portão de desembarque, enquanto Janice foi verificar a parte externa do terminal. Ela retornou desesperada, dizendo que tínhamos perdido, pois conseguiu ver os últimos músicos entrando na van, que fechou a porta e partiu. Na tomada de decisão mais rápida da história, Ellen decidiu tomar um táxi e seguir a van. Eu e Janice não tínhamos dinheiro para ajudar, mas Ellen não se importou em nos levar. O motorista também ajudou dando uma acelerada, então não demorou para estarmos logo atrás da van.

A van seguiu diretamente para o Hangar 110, onde o show aconteceria. Assim que estacionou e os músicos começaram a desembarcar, Ellen rapidamente pagou o motorista -  foi uma paulada: R$160,00! - enquanto eu e Janice descemos e tentamos impedir que entrassem na casa de shows até que Ellen também conseguisse as fotos. Eu e Janice fizemos o trabalho direito e todos conseguimos fotos e autógrafos com toda a banda.

Andreas "Gerre" Geremia, vocalista e fundador do Tankard
Andreas "Andi" Gutjahr, guitarrista do Tankard desde 1999
Frank Thorwarth, baixista e fundador do Tankard. A luz estourou na imagem, mas foi o que deu pra conseguir na correria 
Olaf Zissel, baterista do Tankard desde 1994

Lucas, da Overload, produtora responsável por trazer a banda ao Brasil, ficou puto ao nos ver abordando os músicos. Embora a ideia do táxi tenha sido da Ellen, ele marcou somente a minha cara e ficava mais puto ainda quando me via nos hotéis: "esse cara pagou um táxi para seguir a banda"... Quem dera eu tivesse dinheiro para faze-lo. 😁

Antes de sair do local, fui encontrado sem querer por alguns amigos que lá estavam para ver o show. Um deles, que até então eu só conhecia pelo Facebook - mas sempre conversamos bastante - era o Jeffão. Tirei uma foto com ele e os amigos dele para marcar o momento. Ele faleceu dois anos depois, vítima de pancreatite. Foi a única vez que nos encontramos.

Jeffão era o barbudo imediatamente ao meu lado. Esteja onde estiver, que descanse em paz!