sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Al Jarreau e Jon Secada

Todos os nomes que participaram do primeiro Rock In Rio me interessam, não importa se sou fã ou não, e isso incluía Al Jarreau. Ele se apresentou em 14 de agosto de 2014 no HSBC Brasil (hoje Tom Brasil) e estava hospedado no Blue Tree Verbo Divino. Por outro lado, Jon Secada se apresentaria no Juventus no dia seguinte. Também não sou fã dele, mas é um grande nome, que com certeza valeria conhecer. Nessa época, praticamente todos os artistas que se apresentavam no Juventus ficavam hospedados no Hilton, provavelmente devido a algum convênio do hotel com a casa de shows.

Portanto, no dia 15, a ideia era dar uma passada no Hilton, conseguir a foto com Jon Secada, então seguir para o Blue Tree e conseguir a foto com Al Jarreau. No entanto, tudo que poderia dar errado, deu. Eu e Marcelo Zava esperamos por Secada a tarde toda, mas ele não apareceu. Ok, erramos o hotel, não era a primeira nem seria a última vez que isso acontecia. Decidimos abortar o corre para tentar Al Jarreau. Já estávamos caminhando para o carro, quando fomos avisados por Fernando que Al Jarreau acabou de sair do Blue Tree rumo ao aeroporto. Perguntamos se atendeu, respondeu que sim, e nos enviou sua foto com ele.

Discutimos rapidamente se valeria ou não ir a Guarulhos para conseguir a foto, mas chegamos à conclusão que não seria necessário, pois certamente voltaria ao Brasil, mais cedo ou mais tarde. Teríamos outra oportunidade no futuro. Nos enganamos: nunca mais retornou ao país, falecendo aos 76 anos em 12 de fevereiro de 2017. A causa da morte não foi revelada, mas sabe-se que sofria de problemas cardíacos e respiratórios nos últimos anos. 

Hoje parece tão óbvio que deveríamos tentar primeiro a foto com Jarreau, para somente então tentar Jon Secada. Na época, Secada tinha 52 anos, Jarreau tinha 74. Esse foi um exemplo de um corre onde fomos inacreditavelmente mal. Não apenas retornamos para casa de mãos completamente vazias, como também perdemos Al Jarreau para sempre por tomar uma sequência de decisões ruins.


John Travolta

Uma das fotos mais legais que consegui foi também uma das mais fáceis. Em 2014, John Travolta veio a São Paulo para o lançamento de um jato executivo na XI Feira de Aviação da América Latina (Labace), no aeroporto de Congonhas. A princípio, não conseguimos determinar em que hotel ele estava hospedado, então este pareceu ser um corre com destino certo ao fracasso.

Entretanto, por volta de meia noite, um amigo telefonou, perguntando se eu queria tentar tirar foto com o John Travolta. É claro que sim! "Ele está hospedado no Fasano, mas foi a um evento no Unique. Não deve demorar, deve ficar somente uma hora por lá, então se apresse".

Essa era uma época difícil, não havia ônibus noturno, Uber, 99, Cabify. Táxi era caro. Então, naquele horário, as opções eram limitadas. Restou-me fazer algo que nunca fiz: morrendo de vergonha, liguei para Marcelo Zava: "velho, me desculpe ligar este horário, mas temos uma oportunidade de ouro aqui". Expliquei a situação e ele disse "passo aí em 20 minutos".

Mas ainda havia outro problema: Sheila dormia profundamente, pois teria que acordar às 05:30. Não tinha como simplesmente sair sem avisa-la. Se eu fosse e retornasse com uma foto com Travolta, era capaz dela "me matar". Houve então o dilema: acorda-la ou não. Achei mais prudente falar com ela. Acendi a luz do quarto, dei uma cutucada e, no que ela abriu o olho, expliquei o que estava acontecendo. Ela ficou muito brava, falou um monte (na verdade foi bem mais que isso, mas terei que resumir):

- Seu filho da puta! Que maluquice é essa de me acordar?! Não sabe que acordo cedo para trabalhar?!

Disse que Marcelo Zava estava chegando e perguntei se ela iria conosco. Respondeu resmungando:

- Agora vou, né?! Já acordei mesmo!

Mesmo assim, recebi ameaças por todo o trajeto até o hotel:

- Se ele não aparecer, você está tão fudido, mas tão fudido!

Na tensão do momento, acabamos no hotel errado, o Emiliano. Estávamos lá, em frente, quando me dei conta de que não era lá, e seguimos então ao hotel correto que, aliás, é muito próximo. Chegamos 00:40. Algum tempo depois, vimos uma certa movimentação na frente do hotel, e observamos que se tratava do Sérgio Mallandro. Como nunca recusamos um bom bônus...


Por volta de 02:25, dois carros viraram na rua do hotel. Sabíamos que ele usava dois carros, um para ele, outro para os seguranças, pois meu amigo que conseguira pouco antes nos passou essa informação. Quando atravessamos a rua, um dos carros se jogou em cima de nós. Ainda assim, completamos a travessia. John desembarcou e foi imediatamente cercado por cinco seguranças. Sheila o chamou, ele olhou, e ela perguntou se poderíamos tirar uma foto com ele. Ele afastou os seguranças e nos chamou. Tudo aconteceu fácil, simples, organizado. Ele é um cavalheiro, muito educado, muito polido.


Saímos comemorando pois esta era, até esse dia, provavelmente a melhor foto de nossas vidas. No caminho, usei o celular para postar "John Travolta done!" no Facebook, o que fez alguns amigos perguntarem onde e como consegui. Como não sou desses que fica com bobagem como "a foto que somente eu tenho", expliquei. Quem se dispôs a acordar cedo na manhã seguinte passou literalmente o dia inteiro em frente ao hotel. Ele apareceu somente uma vez, para ir ao aeroporto, às 20:00 hs. Um amigo o aguardava desde as 07:30 hs.

Por outro lado, tirar fotos como essas também é ótimo para remover certos lixos de sua vida. Uma "amiga" simplesmente me bloqueou "porque não a avisei". Primeiro: eu não a avisaria mesmo, já que ela não fazia corres comigo, não ajudava em nada, era apenas um peso morto que queria ser carregado. Segundo, mesmo se eu a avisasse, obtive a informação de madrugada, quando ela já estava dormindo. Com certeza só veria no dia seguinte. Quem me perguntou, eu respondi - até porque eu já tinha conseguido a foto e ninguém mais poderia atrapalhar ou tirar isso de mim - então se ela tivesse perguntado, eu teria respondido e, se ela tivesse se esforçado, teria a foto também.

Quanto aos xingos e às ameaças da Sheila: simplesmente não leve a sério. Éramos um casal que se dava muito bem. É claro que ela ficou feliz em conseguir a foto, mas passou um dia de cão, sonolenta, pois foi trabalhar após uma noite muito mal dormida. Se questionada hoje se valeu a pena, a resposta com certeza seria de que ela não faria isso novamente.