O vocalista do Cockney Rejects, Jeff Turner, veio com sua outra banda, The Outfit, para um show no Bourbon Street Music Club, e aproveitou para fazer uma sessão de autógrafos no Atrox Casul Club. Eu, Jéssica e Carlos fomos para tirar uma foto e pegar um autógrafo. Quando chegamos, movimentação zero, somente nós, a banda e os funcionários da loja. Estava tão de boa que fomos recepcionados fora da loja, onde as fotos aconteceram. Ele ficou tão feliz com nossa presença e interação com ele, que nos presenteou com uma camiseta e um CD (que foi devidamente autografado).
Jeff Turner, vocalista do Cockney Rejects e do The Outfit
Paul Day foi o primeiro vocalista do Iron Maiden. Ele esteve na banda entre 1975 e 1976, quando foi demitido e substituído por Dennis Willcock. Muitos fãs acreditam que o primeiro vocalista do Iron Maiden foi Paul Di'Anno. Di'Anno foi o primeiro a gravar, mas já era o terceiro vocalista a passar pela banda.
Dave Sullivan, Paul Day, Ron Matthews, Terry Rance e Steve Harris
Para a maioria dos fãs, a importância de Paul Day no Iron Maiden é nenhuma, totalmente irrelevante e ignorada. Para quem, como eu, se interessa pelo (agora não tão) obscuro primórdio, quando a banda ainda era desconhecida e lutava por espaço no circuito de pubs londrino, é interessante ter a oportunidade de vê-lo cantar, pois ele é simplesmente um pedaço vivo de história.
O problema é que Paul Day, após passar por bandas como More, Wildfire e Sweet, decidiu viver em Newcastle, na Austrália. Isso torna o custo de traze-lo ao Brasil substancialmente mais elevado do que se ele ainda vivesse em Londres. Se ele já não é muito conhecido por aqui, morando na Austrália, então, é praticamente impossível algum produtor se interessar em traze-lo.
Em dezembro de 2018, Paul Day esteve em Londres pela primeira vez em muitos anos, visitando sua família. Chegou até mesmo a se encontrar com seus antigos companheiros de banda, os guitarristas Terry Rance e Dave Sullivan, além de Steve Harris, para uma foto no lendário Cart & Horses, o pub que recebeu o primeiro show da carreira do Iron Maiden. O baterista Ron Matthews só não compareceu ao encontro por não estar bem de saúde.
Dave Sullivan, Terry Rance, Paul Day e Steve Harris
Sabendo de sua presença em seu país de origem, alguns fãs o convenceram a fazer um show por lá. E foi então que começou a "coceira no corpo": eu simplesmente precisava assistir a esse show, e aproveitar a oportunidade para conhece-lo, mas havia alguns problemas: pouco mais de um mês depois, eu já faria uma eurotrip completa, com mais de um mês de duração. Seria totalmente impossível trocar a passagem e ficar mais de dois meses na Europa. Além disso, a grana já estava curta. A eurotrip estava 100% paga, mas eu não teria como pagar essa ida extra e inesperada.
Durante duas semanas, eu procurei uma forma de solucionar o problema, sem chegar a conclusão nenhuma. Então, comentei sobre isso com a Arianne, que disse "se você realmente quiser, vai arrumar um jeito de estar lá". Pareceu simplista, quase bobo. Mas foi o empurrão que eu precisava para tomar uma decisão. Voltei para a frente do computador, peguei o cartão de crédito, e apertei o foda-se. Naquele momento, eu não sabia nem como pagaria esse gasto extra, mas sabia que estaria lá. A solução foi a mais louca possível: fazer um bate-volta, algo como chegar em um dia e retornar no outro. Seria a coisa mais insana que eu faria em minha vida.
Entrei em contato com meu amigo Mike Chudleigh que, por acaso, era o organizador do evento. Ele sabia de minha viagem em fevereiro, então, quando pedi para me vender um ingresso, ele acreditou que eu estava fazendo alguma confusão:
- O show é agora em janeiro, e você vem em fevereiro.
- Sim, eu vou em fevereiro, mas agora vou em janeiro também.
Provavelmente ele não entendeu nada, mas foi assim que aconteceu. No dia seguinte os ingressos esgotaram. Aguardei duas semanas, mas se tivesse esperado mais um dia teria que me contentar em ver vídeos no Youtube, se existissem.
Como decidi viajar faltando apenas 15 dias, foi difícil achar passagens aéreas em conta, e realmente não achei. A solução mais barata foi a de uma companhia aérea que até então eu não conhecia, a Air Europa. Fiz algumas pesquisas na internet, e quase todas as referências que tive da empresa foram ruins, com problemas que variavam entre tripulação mal-educada, banheiros sem limpeza adequada, atrasos... Meio receoso, comprei, mas já esperando pelo pior. Achei uma promoção de hotel, que custaria somente £11.99 por uma noite.
Três dias antes da viagem, a Arianne resolveu passar o dia na praia, em Bertioga. O sol não estava tão forte, então resolvi que protetor solar não seria necessário. Erro meu, fui para a Europa que nem um pimentão e completamente descascando, por isso algumas das fotos abaixo estão meio esquisitas.
Quando o dia chegou, no portão de embarque, a menina responsável por verificar meu passaporte tomou um susto:
- Você volta... amanhã?!
- Não, eu volto depois de amanhã.
Ela me olhou com cara de "what the fuck?!" ou de "quem diabos vai à Europa para ficar apenas dois dias?!"
- Eu estou indo apenas para assistir ao show do primeiro vocalista do Iron Maiden.
- Paul Di'Anno?!
- Não. Paul Day.
Ela não deve ter entendido nada, embora conhecesse Iron Maiden. Naquele momento eu imaginava o quanto eu seria suspeito aos olhos da Polícia Federal: passagem comprada quase de última hora, viagem curta... Mas eu levei apenas uma mala de mão com uma muda de roupa, a câmera, materiais para autografar e caneta de autógrafo... Sete quilos ao total, contando com o peso da mala. Na volta ela estaria um pouco mais pesada, pois aproveitei para encomendar e enviar ao meu hotel algumas coisas que eu planejava trazer na viagem seguinte.
Ao contrário do que eu esperava, o avião era novo, tudo funcionava, os banheiros eram limpos, a tripulação foi atenciosa... Desse dia em diante, tornei-me cliente da Air Europa. Com certeza seria cliente novamente se fosse preciso. Após pouco mais de nove horas de voo, a aeronave pousou em Madrid. Uma hora e meia de espera, e mais duas horas e pouco de voo, enfim cheguei em Londres.
Na alfândega, que eu já conhecia bem, houve uma cena engraçada. É claro que o oficial achou minha história muito esquisita, mas eu estava com todos os documentos que comprovavam minhas afirmações. Levei até mesmo os documentos da viagem que eu faria no mês seguinte, para que ele entendesse o porque de uma viagem tão curta. Quando foi carimbar o visto, levantou o olhar e disse algo como:
- Você promete que volta amanhã mesmo ao Brasil?
- Sim.
Gatwick fica distante do centro de Londres. Tomei um trem para a estação Victoria e, de lá, de underground, fui fazendo as baldeações necessárias até chegar em Stratford. De lá caminhei por 15 minutos. Cheguei pouco depois do meio dia e a fila já estava formada na frente do local.
Como fui direto do aeroporto, eu estava com a mala de mão. Mike me viu na fila e fez a gentileza de guarda-la no Cart & Horses. Não demorou para que entrássemos e logo começou o meet & greet com Paul Day. O meet foi babaca, como no Brasil: não era permitido tirar uma foto com ele, apenas autógrafos. Eu estava com quatro fotos para autografar mas, de acordo com as regras, só poderia três. Quando coloquei as quatro na mesa, um dos responsáveis pela produção foi logo tratando de retirar uma e me devolver. Eu disse para Paul Day que vim do Brasil apenas para conhece-lo, mas acredito que ele imaginou que eu já estava em Londres e apenas aproveitei a oportunidade.
O pub tinha uma área descoberta que era utilizada como fumódromo. Haviam algumas mesas, e fui organizar o material que eu tinha para autografar. Era muita coisa, pois outros ex integrantes do Iron Maiden também participaram do evento. Logo vi que Dave Sullivan também estava lá, então aproveitei para conseguir a foto com ele, bem como os autógrafos.
Dave Sullivan, guitarrista da formação original do Iron Maiden
A área interna, onde ficava o palco, estava completamente lotada. Não havia espaço para se mexer, e com muita dificuldade, consegui chegar onde havia uma mesa com o mershandsing das bandas. Comprei os álbuns do Airforce que eu não tinha, incluindo uma edição especial gravada há poucos dias apenas para aquele evento, com participação de Paul Day e Paul Di'Anno. Comprei também um par de baquetas autografadas por Doug Sampson, uma pele de bateria autografada por Paul Day, e o livro do ex roadie do Iron Maiden, Steve "Loopy" Newhouse, que foi autografado logo depois, já que ele também estava lá.
Quando tentava retornar à área descoberta, fui abordado por alguém que perguntou se eu queria um autógrafo na pele de bateria. Achei muito estranho, pois não era nenhum dos músicos do Airforce, então agradeci, mas disse que não. Somente depois de algum tempo me dei conta da gafe que havia cometido: era Thunderstick, baterista que tocou no Iron Maiden em 1977, e no Samson, na época em que Bruce Dickinson era o vocalista. Perdi ali minha oportunidade de conseguir foto e autógrafos, já que ele não permaneceu para o evento, apenas apareceu para rever os ex companheiros de banda e logo foi embora. Além disso eu só tive a confirmação que era realmente ele quando já havia retornado ao Brasil. Senti-me como nos desenhos, quando as orelhinhas de burro crescem no personagem.
Aproveitei para conseguir mais uma foto com o vocalista e guitarrista do Buffalo Fish, Rob Stitch, já que no ano ano anterior, a foto que consegui ficou desfocada. Sozinho, o jeito foi recorrer à selfie.
Rob Stitch, vocalista e guitarrista do Buffalo Fish
De volta à área descoberta, surpresa: Paul Day estava por lá, e é claro que aproveitei a oportunidade não apenas para conseguir a foto, mas também o autógrafo que faltou.
Paul Day, vocalista original do Iron Maiden
Dave Lights, técnico de luz conhecido por seu trabalho com o Iron Maiden, também estava lá. No momento da foto, o guitarrista Terry Rance, da formação original, juntou-se a nós.
Terry Rance, guitarrista original do Iron Maiden, e Dave Lights
Também estava por lá o croata Stjepan Juras, responsável pelo website Maiden Croatia e por diversos livros relacionados ao Iron Maiden. Somos amigos no Facebook há muitos anos e, inclusive, fui um dos citados por ele no livro "No Matter How Far - Iron Maiden Fans Will Be There".
Stjepan Juras
Finalizei a missão, pois consegui as fotos e autógrafos que eu queria. Agora era momento de relaxar e aproveitar. Mas antes eu precisava comer alguma coisa. Isso, no entanto, foi um erro pois, após comer, bateu um sono desgraçado. Infelizmente eu nunca consigo dormir em avião, ainda mais na classe econômica, então é provável que eu estivesse acordado há mais de 24 horas.
A primeira parte do show foi com a banda Buffalo Fish, de Terry Wapram. Fiz alguns vídeos curtos mas, para ilustrar esse texto, os do Youtube estão melhores que os meus.
Quando a apresentação terminou, tirei mais uma foto com Terry Wapram e com o guitarrista Jamie Carter, que não estava na banda no ano anterior.
Terry Wapram, ex guitarrista do Iron Maiden, atualmente no Buffalo Fish
Jamie Carter, guitarrista do Buffalo Fish
Ainda em São Paulo, sabendo de minha viagem, Kevin havia pedido para levar o livro que vem com o álbum Best of the Beast (já autografado por Paul Di'anno, Blaze Bayley e por todos da formação atual, incluindo o empresário Rod Smallwood) e o relançamento do The Soundhouse Tapes (já autografado por Steve Harris, Dave Murray e Paul Di'anno). Naquele dia, no livro, consegui autógrafos de Terry Wapram, Doug Sampson, Dave Sullivan, Terry Rance e Paul Day. No vinil, apenas quem faltava: Doug Sampson.
Infelizmente minhas energias estavam acabando. Apesar de tudo, estava tremendamente feliz e satisfeito com o que havia acontecido. Decidi ir embora sem assistir ao segundo show (Paul Day + Airforce), pois realmente mal conseguia manter os olhos abertos. Ao sair, entretanto, consegui ainda uma foto com o guitarrista e vocalista do Gypsy's Kiss, David Smith, bem em frente ao lendário pub. É possível ver no canto da imagem a bagagem que levei: uma mala pequena e o que eu chamo de "kit", uma bolsa carteiro que utilizo em todos os corres para levar a câmera, o material para autografar, as canetas e o que mais for necessário.
David Smith, guitarrista e vocalista da primeira banda de Steve Harris, Gypsy's Kiss
Procurei ficar em um hotel relativamente próximo ao aeroporto de Gatwick, pois meu voo de volta seria lá. Por essa questão e também pela promoção de valor, escolhi o Easy Hotel Croydon. É um hotel simples, com quartos sem janela, mas serviu bem para o propósito, que era o de ficar apenas uma noite na cidade.
Ao chegar à recepção, perguntei ao funcionário pelas encomendas que eu havia solicitado para envio ao hotel mas, embora houvessem diversas caixas, nem todas estavam lá. Foi dessa maneira que descobri que os correios ingleses são ainda piores do que os brasileiros. Duas das encomendas não chegaram, mas ambas constavam nos sites como "entregue". Uma da Amazon, outra não sei exatamente, pois eram CDs da Jessica que eu deveria levar para ela. Foi um contratempo meio chato, ainda mais porque uma das encomendas não era minha.
Abaixo, fotos do que havia nas caixas, bem como dos souvenirs que comprei no Cart & Horses:
Kit do Helloween com Boné + Camiseta + Bolsa, para a Arianne
Mini Atari com 50 jogos. Parece melhor do que realmente é
Macacão de piloto da Royal Air Force
Miniatura do Harrier. Sou muito fã desse avião
Fui a um mercado próximo, onde comprei uma salada de batata com ovo, um café e uma coca. Aproveitei para comprar também um agrado para meus gatos que ficaram no Brasil. Depois de comer, banho e cama. Não era nem 19:00hs ainda e eu estava no limite da exaustão.
Acordei as 06:00hs na manhã seguinte. A princípio tentei resolver o problema das encomendas extraviadas. Consegui descobrir que elas foram entregues, sabe-se lá porque, em uma empresa próxima, mas não descobri que empresa era essa, nem o endereço. Além disso, meu inglês da pro gasto apenas. Mesmo se eu chegasse lá, dificilmente conseguiria explicar a situação. Resolvi deixar para lá e tentar resolver quando estivesse no Brasil.
Meu café da manhã
Então, para aproveitar as poucas horas que tinha no país, visitei dois lugares que estive no ano anterior. O primeiro é uma loja de doces em Picadilly Circus, fui lá para comprar Fluff. Para quem não sabe, é um marshmallow maravilhoso que é vendido em pote, como o de maionese. Tem no sabor original, de morango e de caramelo. Amo os três. Eu já tinha três potes que vieram pelos correios, comprei mais oito. É possível comprar Fluff no Brasil, mas por um preço muito elevado, acaba não valendo a pena.
Endereço: 7-14 Coventry St, London W1D 7DH, Reino Unido
Não esqueci de minha amiga Karina e trouxe um presentinho que é a cara dela
A seguir, visitei uma loja de vinils, CDs e DVDs maravilhosa, chamada His Master's Voice (ou HMV). Estava a procura de álbuns bem específicos, de bandas como Samson (com Bruce Dickinson e Thunderstick), Lionheart (com Dennis Stratton), Praying Mantis e outras com passagens de ex integrantes do Iron Maiden. Infelizmente notei que o acervo não estava tão completo quanto no ano anterior, encontrei somente dois álbuns do Samson. Poucos meses após minha segunda viagem naquele ano, fiquei sabendo que a loja fechou suas portas definitivamente. Nem os ingleses escaparam da crise que o MP3 proporcionou ao setor.
Meu tempo estava acabando, então almocei no McDonald's, retornei ao hotel, onde peguei minhas coisas, e segui ao aeroporto. Quando fui fazer o check-in, uma surpresa desagradável: o funcionário fez questão de pesar minha mala de mão que, para meu desespero, estava com 17 quilos. Ele disse que eu teria que despacha-la e pagar £100 por isso (mais de 500 reais). Fazer o que, né?! Tinha que aceitar. Mas, como era uma mala de mão, não havia um cadeado para fecha-la e estava tudo lá dentro: a câmera, os autógrafos, tudo que comprei...
Eu estava morrendo de medo de que fosse extraviada ou tivesse conteúdo roubado por algum funcionário dos aeroportos, mas tive que confiar. Foi duro vê-la rolar e desaparecer na esteira de bagagem despachada. Acho que minha expressão de choque e tristeza foi tão grande que, quando fui pagar, o funcionário fez um sinal com as mãos, como que dizendo "não precisa, saia daqui". Eu agradeci e embarquei. Minha curta estadia em Londres terminava aqui.
O caminho de volta foi o mesmo da ida: voei até Madrid e, então, até São Paulo. Saí de São Paulo no dia 19, cheguei em Londres no dia 20, voltei no dia 21, cheguei no dia 22. Foram cerca de 30 horas voando ou em conexão para 37 horas em Londres. Minha mala, felizmente, chegou intocada. O voo de volta, como o de ida, foi bom.
Apenas para completar a estória: tanto eu como a Jéssica conseguimos o ressarcimento dos valores das encomendas que não foram entregues. Os correios ingleses são uma merda, mas a honestidade de seus cidadãos não. Bastou um e-mail explicando, para termos os valores devolvidos, sem questionamentos adicionais.