O inesperado aconteceu. Em 15 de maio, diversos sites e tweets anunciaram a passagem de Dio. Wendy Dio, a esposa, desmentiu os boatos no twitter oficial. Aquele era o dia do corre do Napalm Death, cujos integrantes estavam hospedados no Braston Augusta. Leo e Kevin haviam me chamado para acompanha-los, mas a notícia, mesmo falsa, deixou-me suficientemente arrasado para não querer sair.
A confirmação, no dia seguinte, simplesmente tirou meu chão. Acho que nem mesmo quando minha mãe faleceu, alguns anos depois, me senti tão atingido. Toda criança sabe – ou deveria saber – que um dia perderá os avós e os pais, e de alguma maneira se prepara para isso - eu ao menos me preparei. Quando morre alguém de forma inesperada, no entanto, é totalmente devastador. De acordo com as notícias divulgadas menos de um ano antes, as chances de cura eram boas, pois a doença foi diagnosticada no início. Como assim, agora ele estava morto?!
Alguns anos depois, Tony Iommi afirmou que Dio já estava doente durante a turnê com o Heaven & Hell, citando algumas situações onde pareceu evidente que as insistentes dores de estômago do vocalista eram mais do que simples indisposição estomacal. Era maio e ele sugeriu a Dio que fosse ao médico, mas o músico postergou até o final de novembro para seguir o conselho.
Kevin me disse que quando abordou Dio, no bar, ele reclamou de dores no estômago, por isso não pediu nada para comer, apenas bebeu. Ou seja, o câncer não foi diagnosticado no início, e nem a morte era tão inesperada. Mas, com as notícias que foram veiculadas na época, criou-se uma falsa esperança nos fãs, todos acreditavam na plena recuperação.
A morte de Dio foi um divisor de águas para mim, me fez repensar sobre alguns conceitos de vida e morte. Até então eu fazia somente os corres das bandas que realmente era fã, tinha os álbuns, conhecia todas as músicas etc. No ano anterior, Kevin me chamou para acompanha-lo em diversos corres que não aceitei, incluindo Jon Lord, Jerry Lee Lewis, Tony Martin, Joe Lynn Turner, Chuck Berry, Vince Neil, entre outros. Ele conseguiu foto com quase todos, e eu poderia ter conseguido também. Até hoje não tenho com nenhum dos citados e com alguns é impossível ter uma segunda chance, pois não estão mais entre nós. Eu já tinha uma bela coleção de fotos com pessoas incríveis e, mais que isso, possuía muitas estórias para contar. Então... Realmente importava não ser fã?! Isso não faz de nenhum deles um músico desqualificado ou incompetente, faz?! Se agora eu tinha a oportunidade de conhece-los, por que não?!
A década que se seguiu foi especialmente devastadora para mim: perdi minha mãe, meus avós, grande parte da família, amigos, conhecidos e muitos, muitos músicos que admirava. Isso criou em mim a consciência de que o hoje é importante, pois o amanhã pode não existir. Embora às vezes eu tenha me ferrado por conta desse pensamento, é assim que conduzo minha vida desde então.