Houve o show do Heaven & Hell, cuja formação continha apenas integrantes e ex integrantes do Black Sabbath, incluindo o glorioso Ronnie James Dio. O show não me interessava, mas conhecer Dio era um sonho. Entrei em contato com Kevin, que disse que a banda ficaria no Hilton, e que se hospedaria para tentar conseguir as fotos. Convidou-me para dividir os custos de uma diária com ele, mas eu nem teria como pensar nisso, pois ainda estava descapitalizado devido à “turnê” com o Iron Maiden.
Eu e Sheila fomos de tarde, no dia do show. Ao chegar, encontramos alguns fãs que aguardavam a banda em frente ao hotel. Destaca-se que foi esse o primeiro corre que encontrei o Felipe Godoy (alguém que será citado bastante). Nem demorou muito e Vinny Appice saiu para atender a galera. Simpático, tirou fotos, autografou e brincou com todo mundo.
Foi então que Dio apareceu e pudemos vê-lo através dos vidros do hotel. Ele seguiu para o bar, onde estavam Kevin e outros fãs hospedados. Dio sempre foi conhecido por sua simpatia, e na ocasião não foi diferente, pois tirou fotos e distribuiu autógrafos. Ao terminar, pediu uma bebida e ficou conversando com Kevin, que lhe disse “há alguns amigos esperando do lado de fora, você poderia atendê-los?”. Ele olhou para nós e sinalizou, com a mão, que sairia em um minuto.
Foi o que bastou para que uma menina que estava ali, entre os fãs, surtar. Ela batia nos vidros do hotel enquanto berrava, em português, “Dio, vem aqui, eu te amo”. Incrivelmente, ninguém reagiu. Isso não se faz! Perdemos a chance de conhece-lo por causa daquela imbecil!
Quando Kevin saiu, disse que Dio e Vinny Appice usaram uma saída alternativa, em direção ao shopping D&D. Infelizmente não acreditei nele, achei que estava tentando nos despistar. Alguns dias depois, ele postou em seu perfil no Orkut uma foto que comprovou a afirmação.
Eu estava disposto a ficar na frente do hotel até que a banda voltasse do show, quando haveria uma nova chance para tentar. Sheila preferiu voltar para casa. A galera se dispersou, provavelmente seguindo para o show, e fiquei sozinho. O problema é que aquela foi uma noite fria, e a temperatura caiu muito rapidamente. Eu não estava agasalhado, pois de tarde o tempo estava quente e ensolarado. Mas São Paulo tem dessas coisas... Até que resisti bastante mas chegou uma hora em que pensei “dane-se! Quando ele voltar ao Brasil com a banda dele eu tentarei novamente”. Esse foi, provavelmente, o maior erro da minha “carreira”.
Poucos meses depois daquela apresentação, Dio foi diagnosticado com câncer estomacal. As chances de cura eram boas porque a doença foi descoberta em estágio inicial – era o que os médicos diziam. Porém, exatamente quando com-pletou um ano daquela oportunidade, ele faleceu. Imagine o tamanho do meu arrependimento de não ter aguentado um friozinho naquela noite?!
Nos anos seguintes, conheci muita gente que conheceu Dio, e todos - sem exceção - tinham estórias incríveis. A "pior" definição que já ouvi sobre como tratava os fãs é que "ele era um gentleman". Há também uma estória que ouvi por aí, não sei exatamente com quem isso aconteceu mas, baseado no monte de relatos que ouvi, acredito que seja verdade: diz que um brasileiro que morava em Londres o encontrou sem querer em um trem no underground (metrô). Eles começaram a conversar, e o fã disse "se eu soubesse que te encontraria, estaria com os meus LPs para você autografar". Dio quis saber em que estação ele desceria. Como não era tão fora de mão, desceu com o fã, foi até a casa dele, e autografou tudo o que ele quis.
Não faltam registros no Youtube que comprovam o carinho que Dio tinha com os fãs, incluindo os que você encontra abaixo. Às vezes você vê um vídeo e não sabe se ele era assim mesmo no dia a dia, ou se é algo "armado" para pagar de bom-moço com os fãs apenas porque foi filmado. Mas Dio, pode acreditar, era exatamente assim. E é uma pena que tenha nos deixado tão cedo.